Real Madrid: “fútbol total” merengue.

Foi assim mesmo que o periódico espanhol El País descreveu o futebol do Real Madrid, após a vitória categórica por 3×1 sobre o Barcelona, no derby válido pela nona rodada da liga espanhola. “El clásico” chamou todas as atenções para si no último sábado. No Brasil ofuscando um Palmeiras x Corinthians e mundialmente ofuscando Manchester United x Chelsea, pela Premier League neste domingo.

“Fútbol total” (ou “futebol total”) é a maneira como se descreveu a Holanda vice-campeã Mundial em 1974 com Johan Cruyff, mito holandês que fez história no Barcelona como atleta e treinador. Neste conceito todos os jogadores atacavam e cumpriam papeis defensivos na marcação, sem enfase em especificidades fixas de posição. Foi um dos maiores exemplos do futebol enquanto jogo coletivo da história do próprio futebol.

Sem o velocista blanco Gareth Bale lesionado, Carlo Ancelotti dispos o meio-campo “sem volantes” merengue com Modrić, Kroos, Isco e James. A disposição funcionou contra o Liverpool pela Champions League e se consagrou contra os culés. A verdade é que coletivamente os blancos funcionaram melhor sem Bale e com o discreto Isco, que mesmo sem “grife”, pode atuar em qualquer setor do meio-de-campo.

Na véspera do jogo o mesmo El País enaltecia os “fantasistas” do meio-campo madridista nos treinos. É um Real Madrid diferente sem Xabi Alonso e sem Angel Di Maria, dotado de um jogo vistoso. Pelo lado blaugrena, Luís Enrique voltou a recuar Javier Mascherano para a zaga, após utilizá-lo como volante contra o Ajax, no meio da semana pela CL. Talvez tenha sido a mudança crucial, pois o Barcelona não conseguia conter o jogo blanco, sobretudo após o segundo gol merengue anotado por Pepe.

Faltou um volante de contenção fixo à cabeça de área, sobretudo no lance que culminou no gol de Benzema, o terceiro. Enrique escalou Xavi na disposição inicial, uma lenda no Camp Nou no lugar de Rakitić, sendo que o próprio croata o substituiu na segunda etapa. Já não faz mais sentido abdicar de Rakitić com Xavi em crepúsculo pleno de carreira. E por mais absurdo que isso pareça, Isco pode ser um sucessor de Xavi na seleção espanhola.

O Barça podia se defender em 3-5-2 com Piqué, Mascherano e Mathieu (deslocado para a lateral esquerda). Mas havia um vão entre o meio-campo e a defesa. O jogar “sem volantes” merengue implica em ter ter quatro meio-campistas que, com a posse de bola, podem atuar como meias clássicos, camisas 10 típicos, centralizados. O meio-campo do atual Real Madrid, curiosamente parece jogar como o Barcelona de quatro ou cinco temporadas atrás.

Com o resultado o Real Madrid chegou à vice-liderança da tabela de La Liga, um ponto atrás do ainda lider Barcelona com 22 pontos, uma primeira e única derrota até agora, e seus primeiros três gols sofridos no torneio.

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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