Cretinice brasileira

Após os 7×1 sofridos pelo Brasil contra a Alemanha nas semifinais do Mundial 2014 um fenômeno interessante (e previsível) eclodiu em meio ao grande público. Seria necessária uma tese de antropologia para explicar racionalmente a “birra” que os brasileiros possuem em relação aos argentinos. Naturalmente, na outra partida das semifinais, os brasileiros torceriam para a Holanda contra a Argentina. Mas o time albiceleste venceu. Aquilo que ressaltamos algumas vezes aqui no 90 Minutos, se configurou após definição da final do Mundial, a ser disputada por Alemanha x Argentina. Grande parte da opinião pública brasileira está torcendo para a Alemanha, mesmo eles tendo enfiado 7 gols na seleção do Brasil.

O brasileiro de fato, tem mais prazer em ver o time rival perdendo, do que ver seu time ganhando. Trata-se de um inconsciente coletivo “mal resolvido”? Ou de fato, o brasileiro gosta de “gozar com o pau alheio” e tem “sangue de barata”? Rival não é inimigo. Claro que há algum tipo de rivalidade entre Brasil e Argentina, a qual não pode ser levada a sério. Se levado, então o Brasil tem o povo mais xenofóbico do mundo e isso é estarrecedor. Rival não é inimigo. Rival não te quer morto, rival te respeita e quer o que você tem. O conceito de rivalidade é diferente do conceito de inimizade. Futebol é disputa esportiva e não guerra.

E muitos torcedores argentinos que estão no Brasil dizem que queriam ver a final da copa disputada entre Argentina e Brasil. Não há um dever cívico do brasileiro sul-americano, em torcer para o time que tem o primeiro grande craque sul-americano do século XXI, Lionel Messi?

A capacidade de análise dos fatos do brasileiro é curiosa. Em partes isso pode ser creditado a anos de projeto educacional desprovido de filosofia, sobretudo a partir da época da ditadura. Mas afirmar isso é demasiado simplista. O brasileiro atual parece se guiar pelo culto a celebridade e sua capacidade de mensurar as coisas é, similar a sua capacidade de dizer por que gosta do time que torce. Logo o brasileiro não opina no sentido da “doxa” grega e sim, “emite juízos”.

Os 7×1 impostos sobre o Brasil foram estranhos para este que vos escreve. Todo o futebol europeu que acompanho a quase 10 anos (na temporada 2014/2015 completo 10 anos ininterruptos acompanhando a Champions League), se desatrelava de forma aniquiladora, diante dos olhos de todos os brasileiros.

Eu não precisava explicar com argumentos por que o “de lá” é melhor. Mas “melhor” não é absoluto e na disputa futebolística atual não há hegemonias, tal qual o próprio Mundial nos mostrou, com times pouco tradicionais mostrando-se competitivos. O futebol europeu é multicultural absorvendo atletas, treinadores e métodos de trabalho de todos os lugares do mundo.

Desvelado o “véu de Maia” do favoritismo do Brasil, que jogou sim de forma competitiva até a partida contra a Colômbia; o verdadeiro melhor time sul-americano da competição, estava qualificado para a final. E esse time é a Argentina. O futebol sul-americano tem um lugar muito importante na história do futebol Mundial, algo que ninguém questiona. Porém, há 12 anos uma seleção sul-americana não chegava na final de uma copa do mundo.

Os grandes craques ainda surgem na América do Sul, e nos mais diversos seguimentos de atividades. Eu nasci na América do Sul de Eduardo Galeano, Gabriel Garcia Márquez, Jorge Luís Borges, Julio Cortázar, Nelson Rodrigues, Machado de Assis. E Lionel Messi!

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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