A Argentina de Sabella

Com muitos técnicos argentinos em alta no mercado futebolístico mundial, fica difícil até para a própria seleção Argentina arrumar um. Para o ciclo que chegou até o atual Mundial, o desafio era não apenas montar um bom time, mas fazer com que Lionel Messi atuasse bem pela seleção albiceleste. Na realidade, a própria maturidade de “la pulga” falaria por si, que disputou seu primeiro Mundial em 2006, com apenas 19 anos. E isso só veio a eclodir agora no Brasil.

Alejandro Sabella é o homem responsável pelo último título argentino da Taça Libertadores, conquistado pelo Estudiantes La Plata, em 2009. A convocação de Sabella pode ser questionável a grosso modo, onde alguns veteranos poderiam ter espaço. Tais quais o volante Esteban Cambiasso (Internazionale) ou o atacante Carlitos Tevez, que fez grande temporada pela Juventus, tri-campeã italiana. Cambiasso aliás, esnobado pelo técnico Maradona em 2010, quando foi no mínimo um dos melhores volantes da Europa, na temporada da tríplice coroa obtida pela Inter.

A Argentina foi favorecida pelo sorteio num grupo com adversários não tão difícieis (Bósnia, Irã e Nigéria). No entanto, o time de Sabella não parecia confiável além de mostrar-se muito ofensivo, inicialmente desenhando-se em campo num 4-3-3 com o trio Messi/Higuaín/Di Maria a frente. No mata-mata a disposição de seus atletas parece ter sobressaído nas vitórias por 1×0 sobre Suíça e principalmente, sobre a Bélgica. Se por um lado parece (veja bem, “parece”) faltar grandes nomes, por outro o grupo personifica coesão, além de mostrar se doar em campo.

Referências na defesa e base olímpica vitoriosa.

Contra a Bélgica, Sabella finalmente colocou em campo o veterano zagueiro Martin Demichelis (campeão inglês pelo Manchester City), visto com maus olhos por parte da imprensa brasileira. Demichelis entrou no time e não saiu mais, consolidado-se enquanto o “defense leader” do time albiceleste, com Garay saindo no primeiro combate. Com Demichelis em campo os avanços de Zabaleta são mais seguros e o 4-3-3, torna-se um 3-4-3, com Zabaleta preenchendo a faixa central de campo. A segurança defensiva agora é plena.

O primeiro homem de meio-campo argentino é Javier Mascherano, finalmente devolvido a sua posição de origem. Mascherano na zaga é um das mais esquisitas invenções do Camp Nou. Sabella posiciona Mascherano como posicionava o veterano Juan Sebastian Verón em seu Estudiantes/2009. Mascherano não é tão talentoso quanto Verón, mas se equipara nos quesitos visão de jogo e posicionamento.

Verón poderia atuar como um “camisa 8” ou também um “camisa 10”. Mascherano é um “camisa 5” típico, além de dominar a arte do carrinho (tackle), limpo, acertando apenas a bola. É o centro de gravidade do meio-campo argentino. Algo que tem chamado a atenção é o fato da Argentina de Sabella, não ser “catimbeira”, não dar “pontapés”, não ser desleal e jogar ofensivamente em direção ao gol. Mascherano é um espécime refinado, o qual destoa da tradicional linhagem de marcadores argentinos sem classe como Ruggeri, Sensini ou Simeone.

No ataque, Messi tem decidido em lances individuais, fazendo ou não o gol, mas nenhum adversário em sã consciência dará espaços ao meia-atacante. Lavezzi, Higuaín, Di Maria e Agüero não tem um perfil tão diferente, dos jovens jogadores de meio-campo/ataque do Brasil como Neymar, Oscar, Willian ou Hulk. Mas os argentinos mostram uma maturidade muito superior. Nas categorias de base muitos foram medalhistas de ouro nos jogos olímpicos de Atenas e Pequim.

Mascherano pertenceu ao time medalha de ouro em 2004. No time ouro em 2008, do elenco atual de Sabella, estiveram Romero, Agüero, Messi, Di Maria, Lavezzi, Fernando Gago, Garay e Zabaleta, além de Mascherano incluso naquela ocasião como um dos três jogadores com mais de 23 anos. Destes temos praticamente oito titulares em 2014.

Entrosamento não surge por acaso, nem maturidade mental. E não é necessária uma estrutura de formação futebolística faraônica como a alemã, para se ter uma organização mínima nas categorias de base de uma seleção.

Hermanos, boa sorte no domingo!

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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