Fúria ferida – parte II: os erros de Del Bosque

O técnico espanhol Vicente Del Bosque é um homem vitorioso. Seu nome passou a chamar a atenção no fim dos anos 90, quando comandou o Real Madrid nas conquistas da Champions League 1999/2000 e 2001/2002. Del Bosque conduziu o vestiário do Santiago Bernabéu durante a primeira “era galáctica”, referente a primeira passagem do presidente Florentino Pérez.

Del Bosque assumiu a Espanha após a EURO 2008, substituindo o técnico vencedor, Luis Aragonés. O ex-técnico do Real Madrid chegava mais pela capacidade em gerenciar talentos e egos grandes do que por, conhecimento futebolístico. Em termos táticos a ascensão da seleção espanhola coincidiu com o período glorioso do Barcelona, dominando a Europa entre 2009 e 2011.

O time base espanhol entre 2008 e 2012 invariavelmente contou com os blaugrenas Puyol, Piqué, Xavi, Iniesta, Busquets, Pedro e mais recentemente, Villa e Fabregas que foram incorporados ao Barça respectivamente, em 2010 e 2011. Del Bosque praticamente não precisou intervir.

A base blaugrena era tão brilhantemente auto suficiente, que a Espanha conquistou o Mundial 2010 tendo os astros Fernando Torres e Fabregas no elenco, abaixo das condições físicas ideais. Ambos foram a Àfrica do Sul tendo sofrido lesões às vésperas do torneio.

O ocaso do tiki-taka

O tiki-taka porém não funcionou no Brasil e a derrota na final da Copa das Confederações foi apenas um prelúdio. Del Bosque foi teimoso e mostrou-se um treinador obsoleto. Não havia um “plano b”, algo possível de ser feito com o elenco a disposição. A EURO 2012 foi vencida com a dupla David Silva e Jesus Navas atuando pelos flancos esquerdo e direito respectivamente. A não convocação de Navas, tão campeão inglês pelo Man. City quanto Silva, é incompreensível.

A questão da naturalização de Diego Costa se tornou extremamente midiática. É compreensível que pela idade, Costa seja interessante para o futuro da seleção espanhola. Por outro lado, sua presença é injustificável, sendo que a Espanha não tinha um homem de área de força física no elenco já eliminado do Mundial. Nesse quesito eram cabíveis, Fernando Llorente, destaque da Juventus campeã italiana e Alvaro Negredo, destaque do Man. City campeão inglês, ambos não convocados.

Negredo aliás que tomou muito espaço do bósnio Edin Dzeko no elenco citzen, diga-se de passagem. Fora isso, não seria melhor ter em campo atacantes world class como Torres ou Villa; do que um brasileiro naturalizado, vaiado o tempo todo e que chegou para o torneio se recuperando de lesão?

Juan Mata salvou o segundo turno do Manchester United mas sequer entrou em campo. Xavi é um craque, mas fez uma temporada questionável pelo Barcelona, Mata poderia supri-lo. Se Alonso está desgastado fisicamente, Javi Martinez devia ter sido escalado desde a primeira partida, na cabeça de área. Koke, do Atlético de Madrid, também era opção isso sem contar Gabi, também colchonero mas também esnobado e não convocado.

Sem a proteção na cabeça de área, a Holanda encontrou o caminho da goleada na partida de estreia. Mesmo com algumas “não convocações” incompreensíveis, era possível mudar o time e ainda suprir a ausência de Thiago Alcântara, que não veio por lesão.

Del Bosque comanda a Espanha contra a Austrália no jogo dos eliminados, pela última rodada do grupo B. E voltará para casa como o técnico que mais desperdiçou talentos.

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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