Manchester United e o senso de grandeza

A semana que acabou, começou com a previsível notícia de que o treinador David Moyes fora demitido do comando técnico do britânico Manchester United. Muitos se espantaram com o fato do clube red devil não ter procurado um nome mais expressivo. A função exigia muito, uma vez que Moyes foi o primeiro treinador do clube depois de quase trinta anos de Sir Alex Ferguson no comando. Até ali o maior pré-requisito de Moyes era o fato dele ser um anti-Liverpool, por ter treinado o Everton, rival local dos reds. A nível nacional a rivalidade United x Liverpool é enorme na Inglaterra.

A realidade atual do futebol é a de que um técnico com grande currículo não necessariamente garante competitividade. Currículo é importante, mas não entra em campo. Exemplos recorrentes são os jovens treinadores Jürgen Klopp a seis temporadas a frente do Borussia Dortmund (2 titulos alemães, 1 vice europeu). E, Diego Simeone do Atlético de Madrid, desde 2012 no comando dos colchoneros (1 título da Europe League, 1 título da Copa Del Rey). A solução conservadora do United em tentar bancar Moyes, no entanto, não foi um pecado tão grande.

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Moyes (Foto: Jan Kruger)

Um técnico que ainda busca uma grande oportunidade pode ter “peito” para aposentar velhos “caciques” dentro de um vestiário. É o caso do United que tem uma base envelhecida, que rendeu sim bons frutos no passado recente do clube. Nomes como Rooney, Evra, Rio Ferdinand, Scholes, Giggs, Vidic, Van Der Sar e Carrick foram campeões da CL em 2007/2008 e bi-vice em 2008/2009 e 2010/2011. O exemplo do “novato” ceifador foi personificado por Massimiliano Allegri, quando assumiu o Milan na temporada 2010/2011. Coube a Allegri aposentar Pirlo, Seedorf, Gattuso, Nesta, Inzaghi e Ambrosini.

O caso de Moyes porém tinha um contexto muito diferente da Série A italiana. O agora ex-técnico do United precisava se manter entre os 3 primeiros colocados da Premier League, muito mais disputada que o calcio italiano de 2010/2011 e atual. Moyes concorria com José Mourinho, Manuel Pellegrini e com Brendan Rogers, outro exemplo de aposta em planejamento e num nome ascendente, por parte do Liverpool.

Fora a parte de gerir o “departamento de recursos humanos” Moyes não é um retardado em termos táticos. O United não era favorito a conquista da atual CL, mas o técnico fez o que pôde com o que tinha na mão. Na partida de volta das oitavas de final, contra o Olympiakos, Moyes recuou Giggs como low playmaker aproveitando a visão de jogo do galês e seus precisos passes a longa distância.

Era a melhor maneira de suprir a ausência de Juan Mata, o grande reforço do United na janela de inverno, mas que estava inscrito no torneio pelo Chelsea. O talento de Van Persie deu conta do restante. O que Moyes não contava era que o outro talento de Van Persie, desde os tempos de Arsenal, voltaria a se revelar na véspera das quartas de final: o de lesionar-se antes de jogos decisivos. Acabaram eliminados pelo Bayern.

Caso o United realmente recorra a Louie Van Gaal para a temporada 2014/2015, o clube não estará cometendo o erro de Milan e Barcelona, que já erraram duas ou três vezes seguidas. Ser um clube tradicional e bancar um técnico sem experiência em Champions League é um atestado de cretinice futebolística.

Não é todo dia que se revela um Guardiola. O interessante talvez seja deixar Giggs como auxiliar do vindouro técnico de renome e em duas ou três temporadas efetivar o galês, como único e provável sucessor de Ferguson. Efetivar Giggs agora não será muito diferente do que o Milan tem passado com Seedorf.

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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