Ao vencedor as bananas

Aos que ouviram (ou sempre ouvem) o programa “4 em campo” da rádio CBN, talvez as minhas linhas sejam convergentes com aquilo que o grande jornalista Paulo Massini, disse no programa de 28/04. Sobre a questão das bananas atiradas para o lateral brasileiro Daniel Alves, na partida do Barcelona contra o Villarreal no último domingo, Massini, resignado frisou que o “ser humano deu errado”.

O tema da discriminação racial sempre é debatido no programa quando propagado no futebol nacional, sul-americano ou mundial. Nunca se chega a uma conclusão e a banana atirada a Daniel Alves, não será a primeira, nem a última. A questão da ofensa de cunho racial por vezes toma proporções bizarras no futebol.

Na Inglaterra a questão é mais forte, tida pela Football Association enquanto, algo realmente anti-desportivo. Mas é curioso, ofensas verbais ou intimidações verbais em campo sempre existiram no futebol. O atleta pode dizer que vai “estuprar a mãe do adversário” ou mandar “sequestrar a filha dele”, mas chamá-lo de “crioulo feio”, é crime. Não há meia ofensa, ou ofensa maior. Uma ofensa é uma ofensa.

Na Espanha a “birra” com brasileiros, brasileiros e não afro-descendentes, nem camaroneses, nem africanos, nem jamaicanos, a birra com brasileiros, repito; não vem de hoje. No período decadente da “primeira era galáctica” do Real Madrid, na primeira passagem do presidente Florentino Pérez, houve reações radicais de espanhóis em relação a comemorações de jogadores como Ronaldo, Roberto Carlos e Robinho.

Isso foi por volta de 2006, quando os “brasileiros galácticos” deram vazão a comemorações esdruxulas como pular cavalinho. Ou Ronaldo esperneando deitado no chão como se fosse um bebê. No futebol espanhol há um respeito grande por Real Madrid e Barcelona, mesmo por parte dos clubes menos expressivos. A comemoração de um gol é saudada. O sarro, a “tirada” tipicamente brasileira, não.

Por que só Daniel Alves e Neymar tem sido alvos mais frequentes das manifestações, aparentemente de cunho racial? Talvez não seja porque são sul-americanos, pois o argentino Lionel Messi e o chileno Alexis Sánchez, também blaugrenas, não são alvos destas provocações.

Nem o camaronês Song, volante reserva do time catalão, nitidamente negro. Será que não é porque o publico europeu percebeu o quão enganador são alguns jogadores brasileiros? Será que não é porque este público viu Robinho forçando saída de clubes, Adriano “abandonando a carreira” só pra romper contratos, nos últimos anos?

Em Barcelona “olhar torto” para brasileiro é algo que acontece desde a metade da década de 90, quando Romário abandonou o Barcelona, para voltar ao Brasil após a copa de 1994. Seu, até então amigo Hristo Stoichkov, búlgaro, lenda no Camp Nou era cobrado pelos companheiros com frases do tipo “e ae? Teu amigão não vai aparecer no treino?”.

Isso numa mesma época em que Edmundo (hoje comentarista) abandonava a concentração da italiana Fiorentina para vir participar do carnaval. Em Florença, Edmundo saiu pelas portas dos fundos. O argentino Gabriel Batistuta, não.

Os jogadores brasileiros não estão mais valorizados na Europa como estiveram entre o fim dos anos 90 e momentos antes do Mundial de 2006. A banana atirada a Daniel Alves não é para o macaco. Talvez seja uma banana para o macunaíma, para o malandro…

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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