Wembley alemã – ato I: E agora, José?

“E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?”
(Carlos Drummond de Andrade)

E as semifinais da UEFA Champions League se encerraram. Dentro do território espanhol a noite é silenciosa. Dois dos maiores clubes do mundo, sediados dentro dos domínios espanhóis caíram nas semifinais da UEFA Champions League.

O Real Madrid não vencerá seu décimo título da competição nesta temporada. O catalão Barcelona, viu interrompido o ciclo esplendoroso, de sua melhor equipe de todos os tempos.

Na terça-feira o Santiago Bernabéu recebeu a partida entre Real Madrid 2×0 Borussia Dortmund, após os aurinegros aplicarem estrondosos 4×1 em cima dos blancos, no Signal Iduna Park. Lewandowski sozinho anotou os quatro gols da partida de ida.

José Mourinho afirmou na véspera do confronto de volta que se tratava do jogo mais importante dos últimos dez anos em Chamartin. Os blancos até conseguiram impor jogo no primeiro tempo, com o Dortmund nitidamente esperando para sair em contra-ataques.

No segundo tempo, quando Kaká veio a campo aplaudido pela torcida blanca, uma injeção de equilíbrio psicológico parece ter sido injetada no time. Dos pés de Kaká saiu a jogada do primeiro gol blanco. O camisa oito avançou pelo meio, como um trequartista em seus tempos de Milan, tocando para Özil que recebe na direita e cruza. Benzema completa para o gol aos 35 min.

A pressão blanca cresceu. Jürgen Klopp tinha substituindo Götze (que inclusive pode ficar fora da final por lesão), praticamente abdicando de atacar. Após sucessivas jogadas de escanteio, Sergio Ramos consegue o segundo gol, aos 42 min.

Não foi o suficiente pois eram precisos três gols. José Mourinho não conseguiu conter a tensão que ele mesmo criou nos vestiários do Bernabéu. Tentou sufocar ídolos como Casillas ou jogadores de renome como Kaká. Nem parecia aquele José Mourinho que gerenciava egos como os de Terry, Drogba ou Ibrahimović.

E como há muito tempo não se via, “Mou” cometeu erros táticos. Postou o time de forma ofensiva no Signal Iduna Park onde tomou quatro gols. “Mou” que com a Internazionale, montou um ferrolho capaz de derrotar o Barcelona em 2010. Errou no planejamento, pois não contratou nenhum zagueiro de alto nível.

O Real Madrid se viu nesta fase decisiva de CL, contando com o rookie Varane no miolo de zaga, cercado por um revezamento entre Pepe, Serigo Ramos e Albiol. Mourinho caiu no erro da “primeira era galáctica” de Florentino Pérez, o equívoco desmedido de esnobar volantes e zagueiros duros. Quando postou seu pupilo Michel Essien na partida de volta contra o Dortmund, já era tarde. A proteção na cabeça de área era necessária no jogo de ida.

“Mou” chegou onde chegou pela sorte que os blancos levaram nas oitavas de final quando perdiam para o Manchester United, e se viram com um a mais após a expulsão de Nani, conseguindo virar para 2×1 aquela partida de volta. O bicampeão da CL, Mourinho perdeu a décima Champions League madridista sozinho. Vítima de sua própria autosuficiência. E agora, José?

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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