O eterno retorno do mesmo: a volta de Felipão

Previsivelmente Luiz Felipe Scolari será efetivado no comando da seleção brasileira, tendo também Carlos Alberto Parreira como coordenador técnico, cargo recriado e que noutros mundiais pertenceu a Zagallo, Zico e Antonio Lopes.

Este que vos escreve respondia jocosamente a conhecidos ‘Joel Santana’ quando perguntado quem deveria ser o novo treinador. A familiares respondia ‘eu e meu primo de 17 anos’, que coincidentemente se chama Felipe. Na madrugada de terça para quarta, pensei em Maradona caso ‘papai Joel’ não fosse efetivado.

Não, as melhores sugestões que toda a imprensa sugeriu jamais seriam efetivadas, desde o aclamado Pep Guardiola a nomes que este que vos escreve preza como Fabio Capello, José Mourinho ou Guus Hiddink.

No programa ‘4 em campo’ da última quarta feira, na rádio CBN o apresentador Carlos Eduardo Éboli mencionou um dito da lenda alemã Paul Braitner na Soccerex que acontece no Brasil, que, o problema não seria efetivar um técnico vencedor a dez anos atrás e sim, que nada de novo o futebol brasileiro apresentou em dez anos. Como tapa na cara do futebol brasileiro, basta. É a verdade! Porém como bom advogado do diabo, este que vos escreve será nas próximas linhas defensor da dupla Parreira/Scolari.

Comecemos por Carlos Alberto Parreira. A favor: grande experiência em seleções, passagens em clubes europeus como Valencia (após o Mundial de 94) e Fenerbahce da Turquia onde venceu uma Süper Lig turca em 1995/1996, e sim o tetracampeonato mundial de 1994 com a seleção brasileira. Grande pecado: a campanha desastrosa no Mundial de 2006.

Muitos dizem, ‘Parreira não conseguiu se impor perante aquele grupo’. Tomo esse ‘impor’ como o dito de pedagogas ultrapassadas que empesteiam o ensino público brasileiro e dizem que ‘professor precisa dominar a sala’. Num grupo onde entre 2005-2006 contava com Ronaldo no Real Madrid, Ronaldinho no Barcelona, Adriano na Internazionale valendo mais de 100 mi de Euros; Parreira tinha que se ‘impor’? Jogador profissional não deveria ter uma vida regrada e se apresentar a seleção para um Mundial em forma física aceitável? Preservar sua imagem que lhe rende milhões e portar-se extra campo de forma digna?

Ao mesmo tempo que pergunto, educação mínima, cortesia e bons modos, aluno não deveria trazer de casa? Parreira não teria sido uma das primeiras vitimas desta geração de jogadores/celebridade, cujo exemplo mais gritante se deu no ‘bafão’ da seleção francesa no Mundial de 2010?

Anos 90: Felipão x Luxemburgo

Chegamos a Luiz Felipe Scolari. Todos só estão se recordando do Felipão dos últimos dez anos. Felipão surgiu nos anos 90. Montou um Grêmio que tinha Nildo para vencer uma Copa do Brasil em 1994. Isso após surpreendente campanha na Libertadores de 1992 a frente do Criciuma de Jairo Lenzi.

Em 1995, Felipão levou o Grêmio ao titulo da Libertadores, dispondo de um time cujo ataque era formado por Jardel (refugo do Vasco) e Paulo Nunes (refugo do Flamengo). Foi a Tóquio, e na ainda Taça Intercontinental perdeu nos pênaltis para o super Ajax de Louis Van Gaal (e Kluivert, e Davids, e Litmanenn). Felipão era discriminado porque vinha do sul do Brasil, era desdenhado até por Vanderlei Luxemburgo naquela época aclamado enquanto o que de mais ‘muderno’ havia no futebol brasileiro.

Me lembro de uma entrevista concedida por Felipão a revista Placar em 1995, quando o repórter perguntava ao gaúcho o que ele achava do dito de Luxa que o descrevia enquanto ‘técnico regionalista’. E vejam só, o ‘regionalista’ que venceu duas Libertadores, um Mundial em 2002 e treinou a seleção portuguesa.

Após o Grêmio, Felipão foi ao Palmeiras onde conduziu o alviverde ao título da Libertadores de 1999, no apagar das luzes da era Palmeiras-Parmalat. Depois, todos sabemos a história, pentacampeonato em 2002, seleção de Portugal, etc.

Felipão e talvez seu único rival a altura entre a segunda metade dos anos 1990 e inicio dos anos 2000, Vanderlei Luxemburgo tiveram experiências em ligas europeias grandiosas dotadas de competições de pontos corridos. Não se sabe como e nem por onde, Luxa pegou o declínio da primeira ‘era galáctica’ do Real Madrid entre 2004 e 2005. Sucumbiu rapidamente lançando verbo de um portunhol bisonho e no meio de galácticos velhos.

Felipão entre 2008 e 2009 dirigiu o poderoso Chelsea que ainda não havia digerido a derrota para o Manchester United na final da CL em 2008. Além de não falar inglês e não ter vencido nenhum clássico contra os rivais dos blues, Felipão também fora vitima dos jogadores/celebridades, no Chelsea daquela época tendo Drogba e Terry enquanto espécimes mais ariscos.

A realidade é que a experiência dos pontos corridos é muito recente no Brasil, datada dos anos posteriores a 2002. Vejam só, queremos ser a vanguarda num modo de disputa que se dá na Europa desde sempre. Luxa, em terras brasileiras talvez tenha um desempenho superior, excetuando-se torneios estaduais no formato que aqui não servem de parâmetro para nada.

E a carreira feita em mata-matas com certeza pesa a favor de Felipão em seus feitos. Em contrapartida, o surpreendente foi pesquisar o histórico de Parreira e descobrir que o mesmo venceu uma liga europeia na Turquia com o Fenerbahce.

Analisando o histórico recente de Felipão o bom jornalista Mario Marra apontou o declínio do mesmo nas competições de mata-mata, no citado programa ‘4 em campo’. Estatísticas porém são dados fora de seu contexto. Uma coisa é Felipão levar um time com Figo e Rui Costa a uma final de EURO. Outra é tirar ‘leite de pedra’ sendo campeão da Copa do Brasil com Maicon Leite e Valdivia.

Não temos o novo, porém acredito que já tenhamos visto o pior…

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
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