Felipão, e agora?

Um ninho de ratos nunca deixa de ser um ninho de ratos. A escolha do novo treinador da Seleção Brasileira não teve nada a ver com futebol e tudo a ver com política. O clamor popular só é envolvido nos discursos porque a massa gosta de pão e circo. Vibrei com a ida de Scolari em 2002, mas não estou certo de que em 2014 ele terá um caminho mais sereno. Apesar de ser um técnico com pedigree (em itálico, porque ele não é um cão), Scolari acabou tendo a pior campanha da sua vida premiada com a Seleção. Imagine se Ronaldinho Gaúcho, o das festas, baladas e noites em claro, no pior de sua forma, ganhasse convocação para a Copa como voto de confiança na recuperação de seu melhor futebol. A escolha de Felipão é, tecnicamente, mais ou menos a mesma coisa.

BRASILA menção aos roedores não tem nada a ver com Scolari – que fique claro. Tem a ver com a política baixa e mesquinhada CBF, seus cartolas nascidos num passado imemorial de tortura, fardas e atos institucionais. Toda a aparente senilidade do presidente da CBF ilustra o quão esclarecido é o processo de escolha. Os dirigentes de outros estados não são mais preparados (aliás, muitos deles são ainda piores). Marin escolheu o nome que lhe garantia menos oposição – com os presidentes de federação, torcida, ex-boleiros de microfone, ex-boleiros com mandato, ex-técnicos esclerosados e afins. Mas com todo o respeito que tenho por Scolari (e não, não acredito que ele fosse o homem de esquemas no Palmeiras para lucrar mais que os R$700 mil de salários), chegar à Seleção depois de dois anos medíocres não é o que se espera de um país que precisa exorcizar um trauma que está na identidade do seu povo. A parceria com Parreira garante que teremos uma comissão técnica mais serena, mas também mais subserviente. Outro grande profissional, Parreira é o retrato do tecnocrata que tocou o país nos anos 70, cheio de capacidade e obediência.

Penso agora no palmeirense, que viu seu time afundar em lenta agonia, ao ver o treinador que um dia foi seu ídolo e hoje é seu inimigo, dando entrevista na CBF após um rebaixamento sofrido. Não parece certo. Há os que preferiam Tite – que eu reputo como um técnico tosco como a maioria dos brasileiros, mas cuja conquista da Libertadores alçou ao céu (céu esse que já pertenceu a Abelão, o pior treinador daqui até Alpha Centaurii). A vaga seria de Muricy se ele não tivesse o gênio de cão que tem e a habilidade para criar inimigos ímpar dentro de um mundo de covardes afáveis. Guardiola? Como disse noutro post, era um sonho atrevido que não poderia vir pelas mãos trêmulas e caricatas de José Maria Marin, um subfantoche de Maluf. Com tudo isso – que está longe de ser pouco – voltamos a ter chances de vencer a Copa. Melhoramos fantasticamente e ainda temos problemas sérios. O trio Ricardo Teixeira, Mano Menezes e Andrés Sanches era apocalipticamente catastrófico.

Curtas

– Na observação de Felipão com o Banco do Brasil, ficou claro que ele precisará de ajuda para gerenciar sua imagem. A ideia de “eu sei como se faz” faz mal a ele.

– Fred, Ronaldinho, fulano e beltrano. Seria ótimo ter os dois na Seleção tudo o que podem. Mas eles são excelentes jogadores e péssimos profissionais.  Dos dois tira-se, no máximo, 30%.

– “Cristiano é melhor que Messi”. Ok, Felipão, entendemos. Você é realmente fiel aos seus amigos.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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