EURO 2012: finalistas definidos.

Ontem e hoje tivemos os decisivos jogos das semifinais da EURO 2012. Ontem na Ucrânia, Portugal x Espanha empataram em 0x0 com os espanhóis os primeiros finalistas, vencendo nos pênaltis por 4×2. Portugal não decepcionou.

Pode ter falhado em finalizações e Cristiano Ronaldo não pode, nem deve ser crucificado por não ter se omitido da partida. A Espanha como de habito apresentou maior posse de bola (57 %) mas é absurdamente possível JOGAR FEIO mantendo um número de posse de bola superior ao do adversário.

Como noutros jogos desta EURO, principalmente contra a França nas quartas de final, a Espanha abdicou do jogo simplesmente utilizando-se da sua capacidade de manter a posse de bola. Isso não é proibido assim como não é proibido vencer um jogo valendo-se da aplicação tática defensiva.

Usando sua capacidade de reter a bola, a fúria anulou o modus operandi futebolístico lusitano cuja proposta era postar-se atrás e sair em velocidade nos contra ataques. Portugal x Espanha protagonizaram um jogo sem graça, drasticamente diferente daquilo que aconteceu hoje!

Hoje na Polônia a então favoritíssima Alemanha viu seu limite. Assim como o filósofo alemão Immanuel Kant que viveu no século XVIII apontou os limites da racionalidade com suas antinomias da razão, as engrenagens ofensivas do nationalelf de Joachin Löw sentiram o seu limiar.

Durante toda a EURO e também muito antes a Alemanha apresentou um sistema de jogo que em termos defensivos funcionava muito bem. Na última partida contra a Grécia em alguns momentos do segundo tempo era simplesmente belíssimo observar a aplicação na marcação dos atletas alemães do meio de campo para frente.

TODOS fechavam os espaços deixando que os zagueiros saíssem para o desarme em primeiro combate. Ofensivamente o nationalef também parecia eficiente, sem jogadas de efeito mas valendo-se da sagacidade oportuna de Mario Gómez ou Miroslav Klose. E da transpiração de Thomas Muller que contra a Itália só veio a campo no segundo tempo.

Simplesmente azzurra…simplesmente ITÁLIA!

Antes desta partida pela semifinal da EURO, eu não consegui ver nenhuma partida da Itália acontecendo em tempo real. Mas é tolice afirmar que o jogo pragmático proposto por Cesare Prandelli não funcionou. Observando as escalações das três partidas da azzurra na primeira fase é fácil entender o ‘revolucionário’ deslocamento do meia De Rossi para a zaga.

A Itália só teve Andrea Barzagli (Juventus), seu zagueiro central mais confiável na última partida da fase de grupos vencida contra a Irlanda. Se comparada a Inglaterra, a França e a própria Alemanha que também passam por renovações os italianos tem dificuldade de descobrir novos talentos no setor defensivo, o mais importante de seu sistema de jogo.

Barzagli não tem o status de Cannavaro nem é a lenda que Alessandro Nesta se tornou. Sua fama foi feita ironicamente em solo alemão na temporada 2008/2009 em que o Wolfsburg surpreendentemente foi campeão da Bundesliga. Todos se lembram da dupla Grafite/Dzeko mas o pilar principal da defesa daquele time era Barzagli, integrante do grupo tetracampeão italiano em 2006.

A Juventus venceu a última Série A invicta tendo a defesa menos vazada. Não foi por acaso. A Itália tem dificuldade em encontrar um central confiável assim como o Brasil não tem um camisa 9 desde que Ronaldo ouviu ‘o canto do cisne’ na seleção. Outro defensor importante, Giorgio Chiellini também zagueiro da Juventus, não chegou em 100% das condições fisicas para EURO.

Ademais a Itália campeã da EURO em 1968 possui jogadores que podem decidir uma partida como Di Natale, Pirlo ou Cassano. Porém não dava pra não levar a sério uma piada feita por um amigo descendente de italianos e que acompanha a azzurra quando expliquei a ele na mesa de bar as renovações pelas quais passaram ou passam Itália, Alemanha, Inglaterra e França.

Ele olhou e me disse ‘é…o melhor jogador tem 33 anos (Pirlo) e um atacante de destaque sofreu um AVC (Cassano)’. E ‘Tonino’ o ‘Magicassano’ rossoneri começa a decidir aos 20 min do primeiro tempo recebendo na esquerda e cruzando para Mario Balotelli apto ao jogo físico dos zagueiros alemães, fazer 1×0 de cabeça. Itália x Alemanha era um jogo equilibradíssimo.

Löw mandou o nationalelf a campo com Mario Gómez e sem Thomas Muller. O primeiro nem parecia estar em campo em meio ao catenaccio azul cuja linha defensiva se postava firmemente com Balzaretti, Barzagli, Bonucci e Chiellini.

Os três últimos componentes da defesa da Juventus. A frente deles o também bianconneri Andrea Pirlo, descrito pelo próprio Joachim Löw enquanto um ‘artista renascentista’, tramando cada passe e cada movimento de armação ofensiva.

Balotelli imaturamente declarava ser milanista ainda jogando como revelação da Internazionale. Hoje no Manchester City onde venceu a última Premier League, Balotelli é visto como um cara ‘excêntrico’. Aos 36 min Riccardo Montolivo novíssima aquisição do Milan realiza um lançamento pelo lado esquerdo externo, pouco atrás linha do meio de campo.

Balotelli recebe e finaliza com um chute poderoso. Itália 2×0 Alemanha. Comemorando de forma ‘marrenta’ Mario Barwuah Balotelli filho de ganeses, adotado por italianos tira a camisa mostrando seu plexo negro. Parecia prestes a se tornar uma versão afro do incrível Hulk pronto para socar qualquer polaco que se atrevesse a imitar macacos na arquibancada.

Mas ali a imagem da transmissão focalizou dois italianos vestidos de ‘irmãos Mario’, simpáticos personagens do videogame Super Mario Bros. Balotelli um diavolo negro como a escuridão da coragem que contrasta com o vermelho ardoroso da camisa do Milan.

A Alemanha voltou para o segundo tempo com Klose no lugar de Gómez e Reus no lugar de Podolski. Mas o catenaccio azul era soberano. Aos 25 min Thomas Muller vem a campo no lugar do defensor Boateng. O nationalelf se abre dando pelo menos três chances claras de finalização para a Itália com Marchisio, Chiellini e Di Natale. O segundo finalizou para dentro da meta alemã mas em lance impedido. No fim da partida o goleiro Neuer se via no circulo central lançando e rebatendo bolas de cabeça.

Um gol alemão sai aos 46 min após pênalti cometido por Balzaretti que toca a bola com a mão. Özil confere para o nationalelf. Aleamanha 1×2 Itália. A consciência defensiva do nationalelf continua sendo um exemplo a ser seguido, um ‘imperativo categórico’ em termos kantianos. Mas na arte de se fechar na defesa os italianos ainda são supremos.

Talvez os torcedores do Milan tenham ficado alvoroçados ao verem Cassano e Montolivo realizando passes importantes para gols decisivos. Este que vos escreve particularmente gostaria de ver a cara de Adriano Galliani que deixou Pirlo ir do Milan para a Juventus no inicio da última temporada.

Se o City de Balotelli não cruzar o caminho do rossonero na próxima Champions League, ele poderá torcer sem muitos problemas. No próximo sábado Portugal x Alemanha como no Mundial de 2006 disputam o terceiro lugar. No domingo Itália x Espanha disputam a final da EURO 2012!!

Alexandre Kazuo
Alexandre Kazuo é blogueiro de futebol há mais de 10 anos. Ex-colaborador do Trivela (2006-2010) e ex-blogueiro do ESPN FC Brasil (Lyon). É mestre em filosofia contemporânea e também procura por cultura pop, punk/rock/metal. Twitter - @Immortal_Kazuo
Top