Rápidas do Italiano

Talvez não seja o torneio com melhor nível técnico da Europa, mas claramente o futebol italiano recuperou parte de sua força ao ter Milan e Juve novamente “funcionais” após anos alijados pelo escândalo de 2006. Talvez a notícia seja ruim para os interistas, mas para o torneio como um todo, certamente não o é. Quem assistiu a semifinal da Copa Itália na semana passada viu um belo jogo entre um bom Milan e uma Juventus muito interessante. Para o campeonato, uma vez que a Itália está fora da Europa (sim, o Barcelona vai vencer o Milan), o final promete ser emocionante. E seguem algumas observações.

– O Milan não tem, ao contrário do que se diz, um elenco com individualidades melhores que a Juventus. A diferença se chama Ibrahimovic. Para cada Thiago Silva no Milan, há um Buffon na Juventus. O elenco do Milan é melhor, mas o time titular da Juve é melhor do que o do Milan). Se os atuais campeões, tivessem podido, contudo, ter o elenco à disposição durante todo o torneio, teriam pelo menos 10 pontos de vantagem porque a Juve cai muito quando precisa mudar a escalação – falta um homem gol para jogar ao lado do excelente Vucinic. O problema do MIlan é extracampo: sua preparação física é digna de Campeonato Mineiro. Desde a quinta rodada o Milan não tem menos que oito contundidos (chegou a ter 13). Estar na liderança com tal handicap é quase um milagre.

– O problema que o Milan terá é Ibrahimovic. Está claro que ele vai deixar o clube e já dá todos os sinais disso. Ele deve voltar a trabalhar com José Mourinho, mas não de branco, e sim de azul. Mourinho, com quase toda certeza, deve retornar ao Chelsea (o português se comunica com Abramovich quase todos os dias) e é praticamente certo que ele quer ter o sueco. Haja visto que Ibra não fica mais de dois anos num clube (ou quase isso), e já deu três chiliques na mídia nas últimas três semanas, sua saída é quase certa. Ao menos o Milan estará em condição de reaver o dinheiro que pagou ao Barça, tendo embolsado dois Italianos que foram 80% com a assinatura do insuportável craque.

– Capítulo Napoli: na semana passada, Luciano Moggi disse a uma rádio italiana que falta ao Napoli “alguém como Pirlo”. Como bem observou meu colega André Carbone, Pirlo faz falta a todos os times do mundo, exceto à Juventus. O que falta ao Napoli é praticamente tudo, excetuando-se Cavani e Hamsik. Os campanos têm uma defesa risível de fora a fora, não têm um armador digno do nome e têm um jogador sobrevalorizado no companheiro de Cavani, o argentino Lavezzi. Além disso, têm um treinador mediano. Inler e Hamsik fazem uma dupla de medianos espetacular, mas o eslovaco mais adiante passa a ser um jogador mais comum. Se o Napoli quer mesmo disputar as coisas além das manchetes dos jornais da região, precisa comprar toda uma defesa (incluindo os reservas) e um armador que jogue à frente de Hamsik e Inler. Isso, e pelo menos mais um atacante. Coisa de €100 milhões.

– Quem está fazendo isso é a Roma. Para aprender a viver como time, a equipe da capital trouxe uma série de jogadores muito interessantes em perspectiva (Pjanic, Bojan, Nego, Borni, Lamela) e um técnico que quer trabalhar na construção de um time. Visivelmente a Roma é um canteiro de obras, ainda vivendo com o fantasma de Totti e uma década passada, mas aparentemente segurando as pontas de resultados que não acontecerão neste ano nem no próximo. Luis Enrique me surpreendeu ao ter pulso de peitar as romanices do clube e a direção idem, ao manter o técnico. É um caminho de quem realmente quer construir algo para o futuro. Exatamente o contrário…

– …da Inter. O time nerazzurro é um fantasma maltrapilho do campeão europeu de dois anos atrás. José Mourinho é um técnico excepcional, mas atrás de si, sempre deixa terra arrasada, por uma série de fatores e Claudio Ranieri está vivendo isso na pele. Tem um elenco desmotivado (Sneijder, Pazzini), que jogou muito mais do que podia nas mãos de Mourinho (Maicon, Stankovic, Milito), com idade média avançada (Javier Zanetti, Lúcio, Samuel) e líderes que não têm mais condição técnica de assegurarem suas vagas num time que quer disputar títulos. Assim como eu tinha afirmado pouco depois da conquista histórica de Madri, a saída ainda continua sendo uma reformulação radical. Dos vencedores da LC, é difícil apontar quem poderia ficar – nem tanto por condição técnica, mas pela dificuldade de imaginar um Sneijder ou um Maicon novamente animados em atuar no clube. Fala-se em André Villas Boas e seria uma excepcional escolha, até porque, tendo herdado um vespeiro de Mourinho no Chelsea, ele certamente não deixaria pedra sobre pedra na reconstrução do time. Até que isso aconteça, o deja vu de frustrações continuará.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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