Alarme Inter – ou mais que isso

Zero pontos em três jogos, sete gols sofridos e um absoluta desordenamento fazem da Inter a favorita entre as grandes  italianas a trocar de técnico antes mesmo das festas de fim de ano. Si mangerá il panettone Gasp, é a pergunta que os bookmakers estão se fazendo e com muita razão. A Inter compacta, sólida e muitas vezes maçante de Mourinho foi desmantelada na gestão Leonardo-Benitez e a Gasperini não sobrou nada. O que fazer e de quem é a culpa? Seguem algumas observações.

Primeiro, o que está errado? Tudo – ou quase. A Inter tentou apostar num treinador ofensivo e taticista com um elenco montado (na distantíssima temporada do triunfo europeu) para se defender. O 3-4-3 com cheiro de Ajax funciona somente quando se têm defensores extremamente velozes, um jogo cujo cérebro passa pelas extremas do campo e que tem pelo menos um zagueiro que imposte o jogo (Frank De Boer no Ajax de van Gaal; Maldini no Milan de Zaccheroni). Além disso, exige um centroavante com dois atacantes de mobilidade que mergulhem no meio-campo para recompor a defesa sem a bola. Esse é praticamente o retrato da anti-Inter.

Do elenco interista, pode-se fazer um belo time para ser competitivo na Itália, com uma defesa bem postada e cautelosa (eventualmente até dando a Maicon as licenças ofensivas que ele precisa para não ser um jogador comum), um mediano inteligente (Cambiasso), um armador quase genial (Sneijder) e uma dupla de ataque que combina (Pazzini-Zárate). Mesmo havendo erros, como o excesso de centroavantes e jogadores-chave decadentes, a situação era promissora – em junho. Agora, em setembro, remontar o time sob a pressão de três derrotas exigirá de Gasperini um milagre sem precedentes – e o pior, sem o auxílio da diretoria, que claramente joga a responsabilidade sobre ele.

Gasperini não deixa de ter culpas. Na verdade, se for demitido, será o maior culpado, tanto pela sua obsessão em usar um esquema inadequado para o elenco como por (a exemplo de Benitez) não fazer barulho por uma campanha de contratações ridícula (ainda que bastante positiva sob o ponto de vista dos gastos). Não cabe a necessidade de dizer o quão indizível é um clube esquecer de checar se um dos principais reforços pode jogar a Liga dos Campeões, mas no atual estado de coisas, esse é um problema menor.

E o que fazer? Supondo que Gasperini sobreviva ao início trágico (e agora só quem pode salvá-lo são os líderes do elenco, chamando para eles a responsabilidade de fazer o time jogar), a Inter precisa jogar no seu esquema óbvio, o 4-3-1-2, sem sacrificar seu maior jogador aberto na esquerda; precisa deixar o meio-campo mais agressivo na marcação e recuperação da bola e, mais do que qualquer coisa, tentar reaver reminiscências da fúria defensiva que seus jogadores tinham ao jogar por Mourinho. Eventualmente, até a adoção de um esquema com somente um atacante pode ser interessante porque o time afunda a olhos vistos e não há talento que resista a tantos gols (como o Palermo deixou claro no domingo).

Gasperini mangerá il panettone? É bastante difícil, haja visto que nem Moratti, nem os principais líderes do elenco parecem mais convencidos da escolha feita pelo ex-técnico do Genoa.  Da visita da Roma a San Siro no final de semana, provavelmente sai o candidato mais forte a não comer o panetone no clube atual. Quem for mais pragmático deve ganhar uma golfada de oxigênio.

 

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.

15 Comments

  1. Uma Lamborghini Diablo usada e com um arranhão na porta, mas que ainda faz de 0 a 100 em menos de quatro segundos…

  2. Caro, o esquema nao conta – contam os jogadores. O 3-4-3 é sensacional (o Ajax usa o esquema ha decadas), mas precisa de certos atletas – que a Inter nao tem. O Bielsa proporciona espetaculo e frustração na mesma medida. E apesar de td mundo aplaudi-lo, ninguem queria ele em seu time… ;-D abs

  3. Michel, discordo do primeiro (acho que aquela Inter não era tão boa, mas sim um trabalho épico do Mourinho) e concordo com o segundo que provavelmente teria vencido o título pq Ronaldo fazia sua melhor temporada ever – mesmo com Zidane na Juve em fase Mundial. Sobre a Juve, vc leva em conta o dinheiro gasto, mas um rebaixamento ocasiona uma coisa que vc deixa de lado: um estado confusionário administrativo que custa anos para ser reparado. Basta ver o estado dos ex-rebaixados no Brasil: ou estão pastando (Atlético-MG, Palmeiras, Bahia, etc) ou estão se endividando (Corinthians, Botafogo, Flu, etc). Isso tende a se establizar com a estreia do estádio. Diria a você e aos outros não-juventinos que se preparem para aplaudir muito a Juventus…abs

  4. A Inter não vence mais, menos que tenha um choque de gestão. A Juventus não foi só remontada – ela tem um estádio dela agora e um plano de longo prazo para auto-financiamento. Quem não se coçar, vai comprar arquibancada para ver a Juve enfileirar títulos. Milan, Inter e outros menores inclusos. abs

  5. Uma Ferrari velha com três rodas na esquerda e uma direita, talvez. Mas ainda uma Ferrari. Ou melhor: uma Lamborghini (Ferrari seria a Juventus…). abs

  6. Oi Debinha: o time do Leonardo era ruim porque ele não é treinador. O time não sabia defender e confundia futebol ofensivo com futebol desequilibrado. O 4-3-1-2 é quawe obrigatorio para poder manter o Sneijder, o único craque do time. Se a defesa não se acerta, a solução alternativa seria um 4-1-3-1-1 até a defesa se encontrar, porque a Inter não tem externos de origem, ou um 4-4-1-1 com o Maicon no meio-campo. Leonardo foi um erro que conseguiu ferrar duas temporadas da Inter e não uma só. abs

  7. Querer mesmo, o Moratti queria Mourinho ou Guardiola. Sem os dois, preferia um técnico ofensivo, mas geriu muito, muito mal o Leonardo, que confirmou sem confiança e depois permitiu que saísse quando já não tinha mais ninguém no mercado. Trapalhada Morattiana típica da história pré-Calciopoli. abs

  8. Acho positivo treinadores diferentes como Gasperini e Bielsa. Futebol tá uma mesmice, uma chatice esse negócio de 4 defensores em linha, dois volantes, três meias mais adiantados e um atacante de referencia…TODO MUNDO joga assim…o problema todo é que Bielsa fez uma escolha bizarra ao aceitar dirigir um timeco e Gasperini paga caro por “ser obrigado” a escalar vacas sagradas como Zanetti e Samuel, jogadores lentos, numa defesa a 3.

  9. Ao contrário do que disse o companheiro Gílson, acredito que a Inter de Mourinho poderia derrotar qualquer equipe em qualquer situação, como provou em 2009/10. Do mesmo modo, a Inter 98 também poderia ter sido campeã caso não fosse garfada de forma criminosa pelo esquema Moggi.
    Além disso, acho que a desculpa da Juventus e de outros clubes penalizados já acabou, afinal, cinco anos se passaram e os Bianconeri gastaram dinheiro suficiente para remontar duas vezes o seu time. Se não o fizeram, é outra coisa.

  10. No caso da Inter, uma palavra define o resultado: vexame. Lamentável e triste mesmo, inadmissível para um time cabeça de chave da UCL. Espero que Gasperini pare com esse esquisito 3-4-3 e volte com a tática que sempre deu certo com o mestre Mourinho: 4-2-3-1.

    Concordo contigo em relação aos líderes do elenco, Zanetti, Stankovic e Sneidjer, dentre outros, devem chamar a responsabilidade e justificar porque são craques, mobilizando todos os demais jogadores para uma reação necessária e imprescindível.

    Os jogadores são bons, acho que com uma organização tática adequada e uma injeção de ânimo pelo Moratti o caminho das vitórias vai voltar. Caso contrário, Gasperini só comerá o panetone se comprar no supermercado…

  11. É difícil dizer o que é pior: o fato deles agora terem certeza de que sem o Farsopoli estariam sem título de expressão desde 89 ou se a plena convicção de sem um Farsopoli II as coisas andarão sempre nessa toada enquanto Moratti for o presidente.

    E posso apostar que sem ao menos três reforços de peso nenhum treinador é capaz de dar jeito na equipe.

  12. O Gasperini veio para Inter porque eles ficaram sem opções no mercado, e creio eu, sabiam da devoção dele pelo 3-4-3, que funcionou no Genoa na Série B e depois na 1a temporada na Série A, mas quando ele tinha um elenco adequado as características.

    Tanto que na temporada seguinte, quando o Genoa gastou muito e qualificou o elenco, ele seguiu fiel ao esquema, mesmo com um elenco que não rendia nada no 3-4-3, e de maneira alguma tentou mudar o esquema.

    Se continuar assim, terá vida curtíssima no cargo, mas também, quem a Inter poderia trazer para substitui-lo?

  13. A Inter de Gasperini é como uma ferrari enzo guiada por um bêbado.

  14. Esse 4-3-1-2 não era o esquema que Leonardo também usava no inter. E você vivia falando mal do time dele?!
    Abraços adoro o blog.

  15. O mais estranho nessa história é que um dos grandes alvos da Inter para o cargo, o argentino Bielsa, também monta suas equipes num estranho 3-4-3 (ou 3-3-1-3) e é super ofensivo. Ou seja, num primeiro momento, Moratti & Cia. provavelmente não tinham nada contra o sistema, caso contrário nem cogitariam a contratação. Porém, com os maus resultados na pré-temporada, na primeira rodada da Serie A e o de hoje (este beirou o inacreditável), Gasperini arrisca perder o emprego ainda em setembro!

    Abraços.

    Ps: Ainda neste assunto, se me permite, também andei dando pitacos no meu blog: http://alem4linhas.blogspot.com/2011/09/o-professor-pardal-italiano.html

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