Pressão sobre a Fifa Nostra

O cerco ao aparato criminoso montado na Fifa vai apertando. Sei, trata-se um pouco da minha vontade de que um dia eu pudesse ver Joseph Blatter entrando com um recurso para pedir sua saída da cadeia, mas é fato que na venda das franquias da Copa do Mundo, não só a Fifa parece ter ido longe demais, mas também há a impressão de que eles fizeram os inimigos errados. Quando um ministro britânico pede intervenção na Fifa é sinal de que definitivamente algo mudou na ordem dos trilhos.

Não sou eu quem vai argumentar que a Football Association tem um retrato de Gandhi em sua sede em Soho Square, nem que tem o lama Gangchen Rinpoche como consultor espiritual. Os britânicos não mantiveram o mundo sob o jugo do totalitarismo por quatro séculos em função dos versos de Shakespeare. De qualquer modo, eles se sentem incomodados em conviver com os vértices da Nova Ordem Mundial de Corrupção, a dos sheikhs corruptos que exploram petróleo no Oriente Médio e constroem Everests de dinheiro em Nova York, dos mafiosos russos que vendem armas, gente e jogadores de futebol na América do Sul e dos cartolas mesozoicos que mantém contas corruptas de dinheiro melado de sangue através de sua corte.

Os grandes escândalos sempre surgem quando alguém de dentro do esquema se rebela – traindo ou sendo traído. Blatter e o cartola qatariano que quer tirá-lo da Fifa convivem há décadas no dreno do poder e com ele, foram deixando inimigos pelo caminho. Os ingleses, que se deram à humilhação de envolver o Príncipe William na fracassada candidatura britânica, são um deles. É hora de torcer para que o circo se incendeie, e que os únicos que escapem ilesos sejam os que sempre fazem o papel de palhaço: os torcedores do mundo todo.

 

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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