Derrota corintiana é sintoma e não o problema

Eu estava na dúvida se escreveia sobre a derrota do Corinthians e sua humilhante desclassificação na Libertadores. Digo isso porque não é de hoje que eu digo que o Corinthians tem um time mediano com dois jogadores capazes de desequilibrar quando estão em forma. E no caso, não estão. Assim, onde está a notícia, uma vez que, para quem queria ver, o desfecho foi absolutamente previsível?

A derrota corintiana é, diante da sequência de resultados da atual gestão, absolutamente normal. O Corinthians tem espaço anabolizado na mídia por causa da importância do clube, por causa de uma parte da mídia que vive de fazer polêmicas alimentando mentiras e esperanças (Lucas, Trezeguet, Luis Fabiano, Ronaldinho Gaúcho et al) e por conta de sua torcida apaixonada. Andres Sanchez instituiu uma política de contratações e gerenciamento que são absolutamente falimentares, a não ser no marketing e exposição. A prova disso é constatar que um Corinthians “normal” não cairia diante de um adversário modestíssimo como o Tolima.

Não há no elenco corintiano um jogador capaz de desequilibrar um jogo difícil hoje. Das três promessas do ano passado, Jucilei, Dentinho e Elias, nenhuma delas ainda me parece capaz de ter as credenciais de alçar vôos maiores como Paulo Henrique, do Santos, por exemplo. Mesmo assim, esses jogadores e outros foram alçados à condição de candidatos a uma vaga na Seleção. Isso gerou a expectativa insustentável que desabou em Ibagué.

Jucilei, Dentinho e o ex-corintiano Elias, não são ruins – pelo contrário. Têm um potencial grande para serem bons jogadores, mas isso só acontecerá se eles tivessem uma capacidade de foco e dedicação que não têm e que certamente não terão na pressão asfixiante e entorpecente de um Corinthians como o atual. Sem uma diretoria séria que proteja os atletas de assédio e exija deles disciplina, sem um treinador com carta branca para barrar contratações de empresários e sem jogadores capazes de determinar escalações e contratações, o time manterá a atual combinação de expectativas irreais e decepções doloridas. E isso, falando dos jogadores promissores (incluindo até um que não está mais no clube). O resto do elenco é ainda menos entusiasmante.

Naturalmente que, agora, Andres Sanchez aumentará o valor de um possível título estadual porque é tudo que ele pode vencer até dezembro. Um sucesso do gênero será decantado pelos que se aproveitam desse caos controlado que reina o clube hoje, mas impedirá que o clube tente traçar um novo futuro para seu futebol, futuro esse sempre condenado pela absoluta incompetência dos gestores e políticos do clube. É um discurso novo? Nâo. É similar aos que se sucederam às desclassificações corintianas com Luxemburgo, Oswaldo, Geninho, Mano, etc. Se a história se repete sistematicamente, é impossível não notar que há algo sistemicamente errado.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.

16 Comments

  1. Problema do Riquelme é que ele só rende jogando centralizado, comandando as ações do time, ditando o ritmo, com os outros correndo por ele. Pra ter essa moral em time grande da Europa, de jogar numa faixa de campo apenas e sem grandes responsabilidades, tem que sobrar mto. Já no Villarreal, que não pode ter timaço, aceitaram essa condição e o Riquelme jogou mto. O Alex Cabeção teve esse mesmo problema, nenhum grande da Europa se interessou por um cara que foi dono do Brasil, da América do Sul e 10 da seleção por uns 3 anos. Teve que parar na Turquia pra ser o dono do time. Acredito que o Ganso terá a mesma dificuldade, como disseram abaixo. Achar um clube que aceite sua forma de jogar e se monte em torno dele, vai ser difícil. Lembrando que no sub-20, onde ele foi escalado caindo mais pelos lados, foi mal em todos os jogos.

    Mas voltando ao Riquelme, tecnicamente ele é um dos 10 melhores da ultima década, tranquilamente. A atuação individual dele contra o Real Madrid em Tóquio foi uma das mais geniais que já vi. Makelele até hoje deve ter pesadelos.

  2. Eu era criança, mas lembro que Ruud Gullit era um senhor meio-campista. Fala-se mto de Van Basten, que era sim sensacional, mas Gullit é pouco lembrado…Também tenho lembranças de Mancini carregando a Sampdoria nas costas depois que o Vialli saiu. Era fantastico como ele conseguia fazer tudo no time do meio pra frente. Mancini é um caso interessante, se tivesse jogado num grande clube desde os 21 ou 22 anos teria feito muito mais nome. É uma questão de oportunidade. O próprio Muller quando comentava o camp. italiano na Band dizia “esse aí foi um cracaço de bola!” (se referindo a mancio)

  3. Rafael, o argumento dos caras que falam mal do van Gaal é capcioso e inverossímil. O Fabio Capello e o Marcello Lippi (para citar só dois) tem uma fieira de desafetos e não me consta que sejam dois idiotas (e falo isso sem ser um fã de carteirinha do van Gaal). Abs

  4. Que ele é tecnicamente excelente, não há dúvida. Mas para o Boca Juniors. Para Barcelona ou Juventus, não dá conta. Abs

  5. Boni, eu gosto de gregários úteis sim, como o van Basten, Zidane, Rooney, Messi. Me aponte um time que venceu tudo jogando em função de um jogador e eu aponto dez que ganharam tudo com os craques cumprindo seus papeis. E sobre a fragilidade – o Villa nunca sofreu uma lesão seríssima de joelho, mesmo sendo sete anos mais velho que o Ganso. Essa é uma preocupação pertinente sim, que independe do talento que ele tem. abs

  6. Não acho que eles ‘dependem’ que a equipe jogue em função deles. É uma questão de explorar o melhor do jogador. Se o cara é um organizador de jogo e é genial com a bola nos pés enquanto o resto do time só tem jogador razoável ou caneludo, então o craque tem que ter mais a bola no pé e jogar centralizado. Simples! Mas poucos técnicos europeus entendem isso. Não é da cultura deles. Não é coincidência que Riquelme só se deu bem com técnicos sul-americanos.

    Eu não deixo de me assustar com aquele Villarreal do Riquelme e Forlán. Aquele time tinha Quique Alvarez e Peña na zaga… Tacchinardi em fim de carreira no meio… Até o José Mari naquele time parecia um bom jogador.

    Quanto ao Van Gaal, Rivaldo, Giovanni (o messias), Riquelme, Élber, Luca Toni… Todos eles dizem a mesma coisa dele. Será que todos eles estão mentindo?

    Aí o Bertozzi (ótimo jornalista) dando uma de advogado do diabo fala que o Van Gaal contratou um brasileiro: Luiz Gustavo! Um Volante!! E que foi praticamente formado na Alemanha…!

  7. Uma coisa é certa sobre o Riquelme: currículo a nível latino-americano ele tem e DE SOBRA. Isso nem o Cassiano pode contestar. Deu caneta no Figo em Tóquio, levou o Boca a duas Libertadores (com o valor agregado de conquistá-las no Brasil) e ganhou quatro campeonatos nacionais. Em contrapartida, é dono de um mimimi que não cabe na Bombonera. Aliás, nem no Maracanã.

  8. Gilson/Cassiano

    É uma questao cultural, talvez o envolvimento com o futebol italiano moldou o gosto/preferencia de voces por gregários úteis que se encaixam bem na equipe, e nao valorizem jogadores talentosos que ‘dependem’ que a equipe jogue em função deles – como Totti, Riquelme…

    Nesse caso cada preferencia é plausivel e válida.
    Abs

    Sim, Gilson, mas ha jogadores que só aparentam fragilidade, mas noa sao, como David Villa, por exemplo.

  9. O Riquelme jogou no Barcelona e no Villarreal. Conseguiu jogar no Villarreal porque o time jogava em função dele. Sei que há uma legião de viúvas dele, mas para mim, não foi o craque de que muitos falam. Abs

  10. Boni, quando era bem moleque, li uma declaração do mítico van Basten pouco depois do jogo de despedida do Zico, lá em Udine, e nela o holandês escancarava a admiração dele pelo brasileiro ao dizer que procurava sempre acompanhar o calcio quando estava na Holanda, entre outras coisas, por conta da visão de jogo do ex-astro do Fla. “Parecia que ele possuía uma televisão na cabeça e sempre sabia onde estavam seus companheiros”, foi mais ou menos o que o eterno ídolo rossonero falou.

    Isso posto, vou tomar emprestadas as palavras do van Basten: Ganso tem a capacidade única de enxergar os companheiros desmarcados e colocar a bola exatamente onde ela tem que ir. Concordo contigo que são bem poucos os meias que existem na Europa capazes de fazer o mesmo.

    Só que tenho sérias dúvidas se investiria € 25 milhões nele por conta do físico um pouco aquém do ideal que ele possui.

    Será que ele consegue manter esse nível de performance ao atuar em média por 46/47 partidas/ano como o Kaká conseguiu nas primeiras cinco temporadas em Milanello?

  11. Cassiano, eu acho que nessa o Boni tem razão pelo menos quando fala de Riquelme e Van Gaal.

    Van Gaal não gosta de craques sul-americanos, isso é fato. Não gosta de trabalhar com um jogador ‘indisciplinado taticamente’… É o tipo de treinador que faria do Napoli de Maradona um time comum.

    Eu só não concordo com ele quanto ao o Ganso. Não acho ele tão bom assim, precisa melhor um pouco o aspecto físico.

  12. Boni, alhos e bugalhos, again. O Ganso é jogador de futebol, o Riquelme, boleiro. E O Gilson tem razão: não adianta ser craque se for frágil. Assisti um jogo do Liverpool no estádio quando e o Michael Owen tinha 18 anos e pensei: ‘será o melhor do mundo’. As lesões não deixaram. Acontece. abs

  13. O Corinthians não foi eliminado da libertadores sob o comando do Luxemburgo. Logo após ser campeão brasileiro de 98, deixou o clube nas mãos do Oswaldo, em 99 e 2000.

  14. O Corinthians se preocupa mais com mídia/marketing do que com o time atualmente, e vem pagando por isso.

    A escalação que entrou em campo contra o Tolima era de um time mediano, com alguns jogadores de potencial que não disseram ao que vieram.

  15. Gilson

    Paulo Henrique Ganso é mais talentoso que 90% dos meias que circulam pela Europa.

    O que nao vale é utilizá-lo ‘contra-natura’ como a sacanagem que Van Gaal fez com Riquelme no Barcelona..

  16. Creio que os problemas do Corinthians refletem um pouco – ou muito – daquilo que reina atualmente no fut brazuca.

    E tenho sérias dúvidas se o Ganso pode mesmo sonhar com algo maior. O cara tem uma visão de jogo incomparável, mas fisicamente sempre me pareceu incrivelmente frágil. Além de não ser dos mais velozes com a bola nos pés. Vamos ver como será quando estiver na Europa, pois parece que em agosto o veremos por lá.

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