Por que é difícil Kaká chegar à Inter

A contratação de Leonardo pela Inter certamente não seria uma hipótese provável em junho passado, quando o próprio chegou a dizer que dificilmente comandaria um clube na Itália por causa de seu “amor” ao Milan. Mas uma eventual chegada de Kaká a Appiano Gentile, se não é difícil, desafia a lógica. Talvez a falta de respeito que os cartolas têm pela lógica seja o único fator que propulsiona um Kaká interista além da chegada de Leonardo.

Comprar Kaká seria para a Inter só uma vingança para a traição que o Milan arquiteta para junho, a de comprar Balotelli do Manchester City (sim, é uma possibilidade concretíssima arquitetada por Mino Raiola, empresário de Maxwell, Ibra e Balotelli). Mas com Kaká, além do risco de o brasileiro não ter mais a condição física ideal, Moratti também criaria um problema no elenco, porque teria em Sneijder um jogador de características muito similares, de difícil convivência num time que não tem uma defesa auto-suficiente. Seria preciso empurrar um dos dois para a frente e aí o problema passaria a ser com os2007-10-03 Kaká by parisbhoyatacantes.

Para Kaká, retornar à Itália seria péssimo para sua imagem. Leonardo sempre foi um coadjuvante do Milan, tecnicamente falando, mas Kaká é um ícone. Seu retorno seria visto como traição profunda. E mesmo para sua imagem de atleta, uma volta a Milão depois de uma temporada e meia na Espanha teria uma leitura inequívoca de fracasso que não teria como não refletir no valor de seus contratos de patrocínio.

Kaká custou R$140 milhões aos cofres do Real há pouco mais de um ano. É verdade que ele não está jogando, mas recuperado de lesão, tem futebol para se firmar como titular no lugar de quem quer que seja. É inimaginável que o Real frature o preço que pagou por Kaká, a menos que receba uma oefrta próxima do valor gasto. Se a Inter fizesse uma oferta de valor simlar à do Real, assumiria um grande risco: o de pagar uma fábula por um jogador cujo estado físico é suspeito. Kaká tem problemas no púbis há pelo menos três anos e a lesão que o levou a se operar também deixa uma pulga atrás da orelha. E por fim, Florentino Pérez só cederia Kaká à Inter com o aval de Adriano Galliani, um “parceiro” seu no G20 e amigo pessoal. As relação entre os dois são idiliacas e dificilmente a transação aconteceria às escondidas.

Mesmo com todos esses “contras”, não é impossível um golpe do gênero porque o futebol segue uma lógica muito própria e que atende interesses raramente visíveis. Se Kaká não se manifestou até agora é porque quer deixar a possibilidade em aberto e certamente Leonardo não acharia ruim em tê-lo como jogador na empreitada de sua “vingança” contra Silvio Berlusconi. Se desse tudo certo, seria uma paulada inesquecível da Inter no rival Milan. Mas no ‘Calcio’, esses golpes puramente emocionais tendem a não dar certo. Lembrando a sabedoria de Michele Corleone: “Nunca odeie seu inimigo. Isso afeta seu juízo”. O fato de Moratti estar pensando no assunto deixa claro que ele não está seguindo o conselho do Poderoso Chefão.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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