Palaia, Tiririca e Brecht

“O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe que o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas. O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que da sua ignorância política nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos que é o político vigarista, pilantra, o corrupto e lacaio dos exploradores do povo”.

Bertolt Brecht, dramaturgo alemão

Noticiou-se que o novo diretor de futebol do Palmeiras, Wladimir Pescarmona, aventurou-se a dar uma preleção para os jogadores do time para elevar o moral do grupo e passar a sensação de comando aos jogadores. Vestindo agasalho, o neodiretor deve ter realizado um sonho de infância ao sentir-se comandando o time palmeirense. Poucas vezes o ambiente felliniano do clube esteve tão bem caracterizado.

Certamente Pescarmona não consegue ter a noção do papel ridículo que desempenhou. É de se admirar que Luis Felipe Scolari tenha se submetido a ver um neófito incompetente assumir um posto na sua comissão técnica, por menor que seja o tempo. O diretor é digno da gestão brancaleonesca de Hugo Palaia, o presidente que esboçou uma dança num evento de veteranos do clube fazendo nascer a alcunha de seu reinado: a gestão Tiririca.

Ontem, mais de 1.3 milhão de paulistas votaram em Tiririca, numa clara demonstração que o eleitorado é caracterizado por um misto de ignorância, irresponsabilidade e burrice. Não se sabe avaliar até onde um é filho do outro, mas é fato que os três elementos são latentes na decisão de se votar num candidato que não é só incapaz e iletrado (as menores de suas dificuldades). É um representante repelente de uma classe política sem princípios – reflexo da mesma população que o elegeu.

E que se esclareça que essa massa sem forma, rosto, educação e responsabilidade não é necessariamente aquela que não teve acesso à educação. A ignorância e irresponsabilidade não têm classe social, religião nem credo político. Incontáveis deles andam em SUVs se esganando num trânsito que não comportaria nem uma moto, indo a salões de beleza chiques e desfilando em clubes como o Palmeiras (e muitos outros), elegendo figuras simultaneamente risíveis e amedrontadoras como Hugo Palaia. A eleição de Tiririca é irmã gêmea do acesso ao poder do novo presidente do Palmeiras. Brecht tinha toda razão.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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