Uma tendência a se analisar

O Barcelona abre a temporada de contratações deixando seu time ainda mais espanhol. Com Villa e o retorno do filho pródigo Fàbregas, nove dos 11 titulares serão espanhois. O Bayern de Munique já vem apostando em alemães há alguns anos e nesta temporada, pelo menos dois deles (Müller e Badstuber) vingaram de cara. O Milan está se reformulando para formar times na base (há pelo menos meia dúzia de profissionais em potencial na primavera milanista), fato que é acompanhado há tempos pelos grandes de Portugal e Holanda por impossibilidades financeiras. Estamos diante de uma nova tendência?

Se eu precisasse arriscar, diria que sim. Há uma série de fatores que apontam para esse caminho. A legislação da Uefa do fair play financeiro, a crise econcômica mundial, o buraco de débitos no qual os clubes estão enterrados e a exigência da Uefa de um mínimo de jogadores formados na base nos elencos disputando competições europeias são alguns deles. Mas sinto também que por razões que não estão muito claras ainda, os clubes começam a ase dar conta de algo que os torcedores sentem há tempos: a torcida gosta de se identificar com seus jogadores. Não se trata de xenofobia. Craques gringos são tão amados quanto os “nacionais”. Mas times com 23 nacionalidades não são exatamente empolgantes para se ver.

É uma observação distante, mas me parece que a diretoria de todos os clubes grandes europeus, exceto aqueles que têm milionários queimando dinheiro de origem obscura ou não (Manchester City, Chelsea, Real Madrid, Internazionale) mudaram de rumo porque se deram conta que se dinheiro é exatamente igual a poder, dois ou três clubes europeus acabarão dominando sozinhos. O Arsenal é riquíssimo, mas perto de Chelsea e City, será sempre médio (o City “árabe”, diga-se, porque o City histórico é um time de segunda divisão). Diante do limite de gastança que foi ultrapassado, mesmo potências como o Milan têm de buscar alternativas.

Eu, particularmente, gosto de ver um Bayern alemão e um Milan italiano. Até porque, em última instância, isso significa que mais jogadores brasileiros continuarão no Brasil e os campeonatos daqui e de lá ficarão mais agradáveis. A impossibilidade que a Uefa está colocando sobre os clubes com o fair play financeiro também deve tornar a pressão por sucessos menos desesperadora, pois hoje, um clube que não consegue a classificação desejada não consegue fechar a conta e pode quebrar por isso. Se o orçamento está fechado independentemente da classificação, a pressão diminui também.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.

8 Comments

  1. Só discordo frontalmente quanto ao fato de que “mais jogadores brasileiros continuarão no Brasil”. Tenho a leve impressão de que o perfil o jogador exportado mudará. Em vez de jogadores já formados, acredito que as próximas levas serão de promessas que contem com idades entre 18-19 anos. Alguns até mais jovens que isso.

  2. Lembrei depois de uma coisa, jogando FM, eu escolhi a Sampdoria pra jogar recentemente, e percebi que não só nessa temporada, como nas últimas, eles tem pouquissimos estrangeiros, talvez não tenha a ver com a idéia do post, que fala sobre grandes clubes que passam a contratar menos no mercado externo por razões economicas, mas que é curioso é também…

  3. O problema é exatamente revelar no Milan. Di Gennaro e Paloschi estão ‘largados’ porque não tem nivel suficiente nem pra serem reservas de um grande clube…
    a presença de Baresi parece não estar sendo suficiente na primavera. Tem algo errado ali…e a culpa não é dos extra-comunitarios que jogam nos profissionais.

  4. Falo disso na minha coluna do Lance nesta terça. A Inter é o campeão europeu com menos italianos titulares: zero. abs

  5. Caríssimo, o City é uma farsa… :-). Rica, mas uma farsa… abs

  6. é uma tendencia mesmo, que parece que vai aumentar nesses próximos anos.

  7. Cassiano, não seja tão cruel com o Manchester City. É claro que não tem a mesma importância histórica do rival United, do Liverpool e do Arsenal, porém é sim um clube histórico de primeira divisão, apesar de várias passagens na segunda.

    O City é o 6º clube com mais temporadas na elite inglesa, só atrás de Everton, Aston Villa, Liverpool, Arsenal e Man Utd.

  8. Excelente texto Cassiano

    E pra complementar faltou dizer que os maiores esquadrões da historia de Bayern ( anos 70) e do Milan ( anos 80 e 90) era repleto de craques nacionais, assim como o de outros grandes europeus.

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