Adeus com demagogia de político

“- Não tive nenhum problema no Flamengo. O clube me acolheu e não tenho o que falar mal. Conversei com todos e estou deixando o clube amigavelmente. Tive muita felicidade aqui, mas estou triste e um pouco magoado. Hoje, é importante retornar para a Itália. Ainda tenho uma dívida com eles por tudo o que fizeram por mim. Devo esse retorno ao povo italiano – explicou Adriano.

Sobre a responsabilidade de voltar ao futebol europeu e ter de conviver com uma rotina mais rígida de treinamentos, Adriano comentou.

– Estou preparado para essa rotina de responsabilidades. Não quero repetir algumas coisas que aconteceram. Falo da minha vida, sem problemas, e não me arrependo de nada. Tenho sempre que amadurecer e a Roma está me dando esse voto de confiança – disse.”

O trecho acima é de uma entrevista dada ao Lancenet.

É difícil encontrar palavras para quantificar o quanto Adriano dissimula. Ele largou a Internazionale na mão mais de uma vez, forçou sua saída durante anos, fingiu que iria encerrar a carreira e agora volta dizendo que “deve isso ao futebol italiano”. Adriano volta porque ganhará R$6milhões. Ponto. Se Roma afundar num apocalíptico tsunami, levando consigo toda sua população, ele lamentará muito pouco, desde que receba o seu salário.

A observação se faz justa porque o jogador tem todo o direito de tratar a Roma como débil mental. A Roma deveria ser melhor assessorada para se dar conta de que está lidando com alguém que tem zero de respeito pelos contratos assumidos, um menino problemático que coloca na conta de seu desequilíbrio todas as suas escorregadas. O ponto é que não existem só palhaços no mundo. Quando Adriano fala em “respeito ao povo italiano” e “desejo de jogar na Roma”, sendo que na verdade era só uma questão de pagar a quantia certa, está chamando a todos de palhaços.

Adriano tem uma dívida fundamental consigo mesmo. Ele é o centroavante com mais potencial de sua geração no mundo. Em forma e com seriedade, não deve nada a Drogba, Adebayor, Milito, Anelka, Higuain ou quem quer que seja. Contudo, fascinado pela vida fácil e pelas más companhias, segue achando que pode enganar quem quer que seja impunemente. Ele ainda pode resgatar a dívida que tem consigo devolvendo ao povo brasileiro o atacante do Parma que arrastou o time nas costas. Com o atual discurso, contudo, só assume uma postura cada vez mais demagógica e desprendida da realidade. Ele tem todo o direito de se acabar na noite. Nesse caso, que pelo menos assuma as consequências.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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