Seis ou menos seis?

Hoje o futebol brasileiro teve um evento que foi o mais importante desdea promulgação do Estatuto do Torcedor. A Eleição no Clube dos 13 decidiria se o futebol continua andar a passos de tartaruga, elegendo o ultrapassado Fabio Koff ou se apertaria a tecla do retrocesso máximo, optando por um Kleber Leite que em suas propostas vazias, enterrou o Flamengo em dívidas (digo, enterrou mais), apesar de posar de “modernizador”. Não era a escolha entre seis ou meia dúzia: era seis ou menos seis.

Os clubes escolheram Koff. Trata-se de uma decisão que não é completamente estúpida, covarde e corrupta, como era a alternativa. A chapa branca de verdade era a de Leite, que entregaria de vez o futebol brasileiro para o que há de mais atrasado, retrógrado, nebuloso e malcheiroso no futebol brasileiro. Uma coligação Globo-CBF-C13 basicamente daria plenos poderes à CBF que, na organização da Copa, distribuirá favores em troca de favores. Tudo com o dinheiro do torcedor.

Atitudes como as do Botafogo, que aceitou uma esmola para trocar de lado ou do Corinthians, cujo presidente vendeu seu apoio em troca de uma chance de ganhar um estádio pago pelo contribuinte não encontram adjetivações no dicionário. A corrupção gratuita e omissa do dirigente corintiano é, contudo, pouco surpreendente. Ele, que fala em nome do “povo”, não se envergonha de subir o preço do ingresso de um jogo do time mais popular de São Paulo a quase R$100. Não admira que não esteja nem aí para o que vai acontecer com o erário que financiaria, a fundo perdido, um estádio que imortalizaria seu nome obscuro na história do clube. Claro, uma menção para o presidente do país que avalizaria tal podridão, é necessária. Mas o que se pode esperar de um político, alguém treinado para trair segundo os próprios interesses?

A única nota menos nauseante do episódio é ver que os clubes mais alinhados com uma renovação no futebol – por mais tímida, esquálida e frágil que seja – se alinharam contra o “ixo do Mal” Globo-CBF-Klefer. Flamengo, São Paulo, Palmeiras, Inter, Grêmio, Galo e Furacão têm dirigentes péssimos, mas recuperáveis (em maior ou menor instância). Na lista de votos do Eixo, as razões dos “eleitores” falam por si: Botafogo (recebeu empréstimo), Coritiba (queria aliviar a bronca da punição ao estádio), Corinthians (estádio), Cruzeiro (alinhamento com Leite), Santos (aumento das cotas de TV) e assim afora. O futebol brasileiro é amador e malcheiroso. É um dinossauro que poderia dominar o mundo mas se mantém enterrado no lodo por conta dos interesses de meia dúzia de vagabundos. É o exemplo mais bem acabado de como o Brasil ainda não aprendeu a fazer valer o seu potencial. Mas nós somos brasileiros e como diz nosso presidente, que acha que os jogos acabarem as 23h é um bom horário, não desistimos nunca.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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