Palhaçadas

Depois da vitória incontestável do Santos sobre o São Paulo – uma demonstração de força sobre a qual pode restar dúvida, eu já imaginava. Sabia que estava por vir. E de fato, aconteceu. Alguém iria comparar o Santos ao Barcelona e se perguntar quem era melhor. Como eu imaginava, na verdade, não se limitaria a um jornalista ufanista que veja no Santos o maior clube de todos os tempos. Não. Era como um vírus contagiando muita gente.

Daí, tomei uma decisão. Decidi que não ia mais gastar meu tempo argumentando por que razão o Corinthians campeão da Copa do Brasil em 2009 não é melhor do que o Barcelona de Messi ou porque o Flamengo não é páreo para o Manchester United. E da mesma forma, me recuso a adotar como pauta um confronto entre Barcelona e o time de Neymar e Paulo Ganso.

Sendo jornalista, não tenho ilusões sobre o que move as manchetes de jornal. Não é o interesse do leitor. Não são as avaliações precisas e cuidadosas, não é o sendo de “zelador da comunidade” do qual Carlos Lacerda falava em “A Missão da Imprensa”. É dinheiro. Venda. Popularidade. É por isso que programas “sérios” de TV se dispõem a mostrar trechos de jogos de computador ou ler as opiniões dos leitores no ar, mesmo que essas sejam pataquadas incompreensíveis. Fala-se o que o leitor quer ouvir. Se isso implicar em dizer que Neymar é o novo Pelé, dane-se, assim como se adotou a mesma regra para se comparar o gênio que mitificou a camisa 10 a Ronaldinho Gaúcho, Robinho, etc.

Naturalmente, isso não é verdade para todos os jornalistas nem meios de comunicação. Há muita gente boa e séria. Há pessoas que não conheço pessoalmente e que nem sempre têm opiniões com as quais concordo, como Lédio Carmona, do Sportv, mas que eu ficarei muito surpreso se não descobrir um cara extremamente decente nele. Esses bons jornalistas lutam, mas a batalha é inglória, e as manchetes que comparam Barça campeão europeu ao Santos finalista do Paulista seguem saindo na imprensa.

Não deixo de me curvar ao início empolgante da temporada santista. Neymar é um jogador de técnica impressionante, embora pareça-me que ainda precisa amadurecer – tanto como figura pública como jogador. Me lembro que no fim da temporada passada, Neymar murchou diante das dificuldades. Paulo Henrique manteve a performance na alegria e na tristeza e se é menos vistoso que Neymar, ganha fácil na consistência, característica que só os grandes craques têm. Mesmo assim, lodes e odes feitas ao Santos de Dorival – em que pesem os adversários ruins, início de temporada e variantes – não entro na vala da comparação. O Barça ganhou tudo. O Santos ainda não ganhou nada  e mesmo com o Paulista, continuará assim até que vença competições decentes.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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