Espasmos

Eu esperava mesmo que uma derrota do santo provocasse consequências nas malas. Já imaginava as alças e fechos se debatendo em claro sintoma espasmódico. Afinal, o Palmeiras cometeu um crime – ganhou. E todos os “irritados” com o Santos estão errados.Acho engraçado como certas pessoas que se vêem como “Democráticas” adoram imputar à opinião contrária um tom conservador. Se você não acha o Neymar o maior jogador de todos os tempos é porque você gosta do Cocito. Se você não acha o Santos o melhor time de todos os tempos, é porque você gosta de futebol feio, chato, melancólico. Se você não joga para a torcida, então está contra ela.

Errado. Me parece muito errado.

Não acho Neymar um craque – ainda. Acho que ele tem uma habilidade fenomenal, mas não tão rara no Brasil. Acho difícil, sim,com tantos babacas dizendo que ele é Pelé, ele amadurecer sem sofrer um processo de “Denilsificação” e se transformar num malabarista que acha que ele é o espetáculo do jogo e não parte dele. Pela habilidade que tem, Neymar pode vir a ser um atacante entre os melhores do mundo, mas para isso tem de superar a horda de boçais que o colocam muito além de Pelé – boçais estes que, caso ele se torne o reserva do Sertãozinho, não vão nem atender o telefone quando ele ligar.

Também ainda não vejo no Santos 2010 um time épico. Todo ano, há um time que comece o Estadual destruindo e depois flopa. O Internacional “melhor time do Brasil” é um bom exemplo, mas não faltam outros. Acho que o Santos carece de consistência no meio-campo e de uma zaga melhor, isso além de um esquema tático que não sacrifique os coitados lá atrás. Jogando com ninguém, nada disso é preciso. Jogando para valer, é. Queiram as malas ou não.

Vejo, no Santos, só um cara diferente. Paulo Ganso me parece um jogador muito mais avançado em relação ao potencial do que Neymar. Neymar é habilidosíssimo e tem os fundamentos todos bons, mas ainda depende de jogadas que possa decidir no drible. Ele joga muito pouco para o time (e nisso, leia-se, quando o time não tem a bola). Além disso, precisa ganhar físico para encontrar o marcador. Claro, para finalizar, tem de ter maturidade para não desrespeitar o adversário quando se dá bem nem perder a cabeça quando se ferra.

Paulo Henrique não. Ele me dá a impressão de ser um cara muito mais centrado do que Neymar, que paga pela fama que já tinha no juvenil. Ganso tem um ritmo parecido com o de Kaká e uma visão de jogo muito semelhante. Acho que ele vai se lapidar num atacante assim como o ex-sãopaulino, dado seu porte físico e a dificuldade de se encaixar um camisa 10 nos esquemas atuais. Como ele pode fazer as duas funções, quando for para uma equipe maior, provavelmente jogará mais à frente e vai fazer gols aos borbotões.

Essa minha opinião, eu sei, soa ranzinza sobre o Santos ou ainda como um ranço jornalístico, mas garanto ao amigo santista que não é. A verdade é que muitos dos meus colegas (alguns até admiráveis) têm medo de falar coisas contrárias a nomes populares – Robinho, Ronaldo, Adriano, etc. Se o Santos ganhar tudo neste ano (e se jogar o que os entusiastas dizem, terá encerrado o Brasileiro em Setembro), terei todo o prazer em reconhecer os seus méritos, assim como fiz com o Flamengo campeão brasileiro que eu imaginava, pararia nas próprias crises. Até lá, o Santos segue sendo um time promissor. Nada mais que isso

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
Top