Um dilema para Mourinho

José Mourinho é um treinador que faz o óbvio: parte de uma defesa sólida para poder desenvolver o ataque. Fez isso em todos os clubes que trabalhou. Seu primeiro Chelsea era motivo de piada pelo futebol feio antes de vencer o primeiro título. O sacrifício é necessário na implantação do esquema, pois a retaguarda só se monta com treino; o ataque pode depender dos indivíduos.

Na Internazionale, Mourinho enfrenta um problema. Não consegue impingir ao seu time a solidez defensiva do Porto e do Chelsea. Como não resolve o enigma, não consegue também fazer um meio-campo e ataque que empolguem e agradem até a ele mesmo. O sucesso interista na Itália se dá porque Milan e Juventus estão “sottotono” (rendendo menos que o esperado). Na Europa, a Inter não é mais do que um Villarreal.

O drama mourinhista tem raízes individuais e coletivas. Individualmente, o português não tem uma dupla de zaga que realmente lhe dê confiança. Além disso, não tem como abrir mão de um Maicon em fase super, mas a improvisação de Santon na esquerda (ele é lateral direito de origem) está demonstrando seus limites. Javier Zanetti, jogando no meio, é um jogador extremamente comum. So Cambiasso é prodigioso no trabalho defensivo, unindo quantidade e qualidade. Todo o resto sofre, mesmo com as adições recentes.

Sem conseguir fazer um alicerce à altura, a manobra ofensiva da Inter também não é fantástica. Stankovic precisa ter papéis defensivos atacando a saída de bola, assim como os atacantes externos. Além do mais, a Inter tem vários bons jogadores, mas nenhum craque, que é até uma marca do trabalho de Mourinho. Balotelli é o mais promissor, mas ainda é jovem. Eto’o rende mais quando joga num time todo fantástico.

Qual a saída? Por incrível que pareça, contratar. Mourinho precisa de uma dupla de zaga nova. Samuel ainda tem o que oferecer, mas Córdoba nem tanto e Materazzi nunca teve nada além de dar foiçadas em adversários. Além disso, Cambiasso precisa de um companheiro. Se diz na Itália que Marek Hamsik tem um acordo com a Inter, com a bênção do Napoli e essa sim seria uma contratação excepcional. Faltaria ainda o craque, o cara que desequilibra. Pode ser Balotelli, mas sua relação com Mourinho não sugere ser de longa duração. mas também pode ser que o português se seduza por uma proposta de um clube estrangeiro.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
Top