O modelo alemão

Hoje não há concorrência para a Premer League. É o campeonato mais rico, mais caro, mas espetacular e badalado do mundo. Tendo como base um plano de desenvolvimento que começou há vinte anos, o futebol inglês chegou ao topo. Só que não ficará lá ad infinitum. A organização do futebol inglês é autofágica. Para se manter, precisa seguir pisando no acelerador. Como os Lehmann Brothers nos mostraram, esse desenho tem fim e é triste para todo mundo.

O endividamento de cerca de €3 bilhões do futebol inglês é insolúvel e os europeus sabem disso. O plano de reestruturação do futebol italiano, que começará a vigorar a partir da temporada que vem, se baseia justamente na possibilidade de superar os ingleses quando esses começarem a decair. Michel Platini está aflito para instituir o fair play financeiro entre os clubes porque se os milionários que tomaram conta do futebol inglês se alastrarem pela Europa, todo o continente corre o risco de se enterrar nas dívidas e esses ricaços podem sumir de um dia para o outro.
A Lega Calcio não vai seguir o modelo inglês de desenvolvimento, uma versão radical ao laissez faire liberal. Pelo contrário. O exemplo que os italianos querem seguir é o alemão, menos espetacular, mas muito mais seguro nas projeções de longo prazo. A Alemanha conta com regulações estritas no controle de clubes, das suas finanças e capacidade de endividamento. A contribuição da Uefa – além do fair play financeiro – se dará nas restrições de nacionalidades e na obrigatoriedade do desenvolvimento de jogadores por parte dos clubes.

O futebol europeu hoje está extremamente contaminado pelo dinheiro ilegal. Tráfico humano, fraudes envolvendo apostas, lavagem de dinheiro em balanços de clubes, sonegação fiscal, irregularidades contábeis, fundos de origem duvidosa vindo de tráfico de drogas e corrupção, tudo isso mantém o crescendo do futebol – especialmente o inglês, que por ser mais rico, permite as maiore movimentações. É bem provável que o futebol da próxima década tenha menos negociações estrambólicas como a de Cristiano Ronaldo. Tomara.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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