Pé esquerdo

Leonardo começou com o pé esquerdo no Milan. Berlusconi vazou, há duas semanas, a informação de que ele seria o novo técnico. Paolo Maldini não gostou da postura do clube e do próprio Leonardo e chegou até a recusar um aperto de mão do brasileiro.

Leonardo é idéia de Berlusconi. O dono do clube rompeu com Ancelotti na questão Ronaldinho. O brasileiro é xodó do político e Ancelotti o colocou no lugar que merece quem está jogando como ele está. Espera-se em Milanello que Leonardo recoloque Ronaldinho no seu ápice.

O abraço de Ancelotti em Maldini na saída deste de campo, em Firenze, foi sintomático.

Há quem diga que o protesto contra Maldini na despedida deste em San Siro foi feito com a anuência da diretoria do Milan, que estava insatisfeita com a contrariedade de Maldini com a questão Leonardo. Faz sentido, porque um clube do tamanho do Milan não teria por que se curvar à falta de vergonha de meia dúzia de vagabundos.

A aposta do Milan é que a escolha de Arrigo Sacchi também foi contestada. Só que Sacchi conhecia e estudava futebol obsessivamente. Leonardo não. É uma escolha mediática. Um técnico que pode dar entrevistas em vários idiomas e tem o apoio da facção brasileira do grupo.

O vestiário parece estar rachado e o bom trânsito de Leonardo com os jogadores azedou. Ele não tem o perfil de um tático ( o Milan pensa em criar uma função para isso na comissão técnica), nem de disciplinador nem de um treinador, especialista em trabalho de campo. Salvo engano, o Milan troca de treinador até dezembro. E perde mais um ano.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.

4 Comments

  1. Li que o Tassotti terá um peso maior no trabalho de campo. Esse tipo de divisão de poder dificilmente funciona. Se o Milan tiver sorte, a dupla Rijkaard/Ten Cate pode ser emulada.

  2. Tenho a leve sensação que esse referência ao Capello ocorreu em função da disseminada impressão de que Leonardo seria alguém muito soft para a função. Ontem não era outro o assunto nas listas de discussão. O curioso é que na madrugada de sexta-feira vi a reprise de um programa vespertino de entrevistas e o Edmílson disse exatamente o mesmo do Rijkaard. Se ele conseguiu vencer uma CL e duas ligas comandando o Barça com esse estilo…

  3. Essa entrevista do Leonardo foi mesmo interessante. Ele conseguiu juntar, na filosofia que pretender adotar, Capello e a Seleção Brasileira de 82. Para mim, água e óleo.
    Mas, o que mais me chama a atenção é que até outro dia todas as entrevistas e trabalhos de Leonardo eram voltados para a gestão esportiva. Nada de análises táticas ou observações técnicas mais apuradas sobre este ou aquele jogador.
    Posso estar enganado, mas acho que o trabalho do brasileiro passará mais pela formação do time, num trabalho que poderia ser definido como um manager. Assim, os trabalhos de campo ficariam a cargo de outros profissionais.

  4. Infelizmente, por uma longa série de motivos, já era hora de cortar os laços com Ancelotti. Ele terá sempre a minha gratidão pelo que fez em sua gestão a frente do clube, mas as coisas estavam se complicando. Sobre o Leonardo, na hora do almoço vi uma parte da coletiva dele no site da Gazzetta e a referência imediata, pelo menos nas palavras do Galliani, era Capello. Essa é uma aposta pra lá de arriscada, concordo contigo. Até aqui nenhum treinador estrangeiro deu certo no Milan de Berlusconi. Tabarez e Terim foram demitidos pouco depois que assumiram. Mas estou no grupo dos que acreditam que o treinador depende mesmo é do material humano a sua disposição. Se o Berlusconi resolver investir pesado, pode perfeitamente funcionar muito bem essa aposta. Mas vou torcer bastante para que ele vença esse desafio. Sobre esse “tattico”, me disseram que serão dois especialistas em estatística que trabalham na divisão de base do clube. Será que é isso mesmo?

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