Nem parece a Itália. Enquanto espanhóis e ingleses fazem a feira comprando os melhores jogadores, os italianos (exceção feita à Inter) precisam se esfalfar para conseguir um jogador ainda em ascensão como Dzeko (Wolfsburg). O que aconteceu?
90% da crise italiana não é resultado da crise financeira e sim do escândalo de 2006. Milan e Juventus foram alijados à época. A Juventus caiu e muito mais passou por baixo do pano do que a simples punição de alguns pontos ao Milan (um acordo de cavalheiros entre dirigentes fez com que o clube não caísse mas com restrições de outra ordem). Tirar os dois maiores clubes de circulação (e diminuir as suas receitas) fez com que todo o “sistema Calcio” fosse enfraquecido. Os grandes não podiam comprar jogadores dos clubes menores, que ficavam com menos dinheiro e assim vai.
Outro problema foi a vitória na Copa – o que é um paradoxo. O sucesso deu cacife para a cartolagem poder colocar embaixo dos panos todo o escândalo de 2006. Ninguém foi preso. Envolvidos no caso como o ex-árbitro Carlo Longhi, o “jornalista” Enzo Biscardi e os vários dirigentes de Lazio, Fiorentina e Milan passaram em branco. A estrutura se manteve – podre e ineficiente – e a liga acelerou a decadência.
O resultado se vê agora. Milan, Juventus e Inter não são mais os clubes “grandes” para comprar. Quem compra é a Inter e ainda assim por causa do bolso de Massimo Moratti e da sua companhia. petrolífera Saras. Se o Real Madrid vai atrás de Kaká, digamos, o Milan tem como ir atrás de Marcelo ou Felipe Melo, para pegar elementos da mesma seleção. Para 2010, a Lega Calcio anunciou o início de uma gestão profissional. Essa gestão só funcionará se for realmente profissional e não só da boca para fora.
Sem dúvida, Gílson. No fundo, temos pensamentos parecidos, mas consideramos algumas variáveis de maneira diferente.
Ah, e falando em tributação: http://tinyurl.com/lkpwwg
Não são apenas os italianos que se preocupam com isso.
Michel, tudo incide pare termos esse resultado atual. Mas se a estrutura da Lega Calcio estivesse sã, a superestrutura teria um efeito menor. Só que o que temos agora são casos absurdos de (má) gestão, pois a Itália, apesar de estar bem perto do fundo do poço, futebolisticamente falando, vê gente tirando quase € 150 milhões do bolso para tapar dívidas de um ano. Se isso não é um indício claro de que o produto futebol está sofrendo uma desvalorização… Berlusconi já percebeu que essa é uma barca furada e não vale um investimento muito grande se não existir uma mudança razoável de paradigmas na base, onde as regras do jogo são feitas. Galliani faz mais de ano que repete aquele mantra de que "é preciso investir na modernização/construção de estádios, repensar os níveis de tributação…". E acho que é bom torcer para que a SKY Italia consiga derrubar essa nova diretriz para divisão da grana da TV. Parece que vão conseguir.
Gílson, Anfield é o exemplo perfeito. Basta lembrar daquela entrevista do Benitez onde ele diz que a grande dificuldade de competir com United é o fato do faturamento do rival ser muito maior que o do Liverpool e que isso se dá, entre outras razões, pelo fato do Old Trafford ser um estádio mais rentável que Anfield. Ter um estádio que fatura 6 milhões de euros por jogo é uma bela ajuda.
O que vejo no Milan, por exemplo, é que o Berlusconi desistiu de pagar a conta todos os anos, algo que Moratti ainda parece disposto a fazer – não sabemos até quando.
Enquanto isso, a Juventus apresenta seu novo estádio com capacidade para 40 mil. Para quem tem a maior torcida da Itália, é pouco.
Sobre a carga tributária, o Leonardo deu um exemplo perfeito no último 'Redação' que participou: Se o Henry custa 'doze' para o Barcelona, custa 'dezoito' para o Milan.
Faturamento, rentabilidade das arenas e tributação são fatores importantíssimos nessa equação.
Leitura perfeita. Absolutamente perfeita! Muita coisa incide para resultar naquilo que estamos vendo agora, mas a estrutura é a raiz do problema. Ela foi comodamente mantida porque passou a funcionar em benefício de quem anteriormente se sentia perseguido. Gente que criticava abertamente o que acontecia de errado na frente das câmeras, mas nos bastidores tentava desesperadamente contratar um certo Luciano Moggi. Uma coisa que quase sempre passa em branco na hora que todo mundo analisa o que aconteceu nos últimos anos é o legado da Sra. Melandri. Quem tiver curiosidade, e souber ler as entrelinhas, vai encontrar material suficiente para se divertir neste link: http://www.repubblica.it/2003/h/rubriche/spycalcio/legge-tv/legge-tv.html?ref=search. Aquela foi a senha de que o status quo havia mudado. E muito! Mas sempre existirá quem acredite que a coisa passa apenas por estádios, como se Anfield Road, por exemplo, fosse uma maravilha; tributação fiscal etc.
O maior problema é financeiro. Basta olhar o quanto faturam o Top4britânico, Barcelona e, principalmente, Real Madrid. Com esses clubes dando as cartas e nivelando por cima os salários e o valor das contratações, não resta aos clubes italianos nada mais do que tentar aumentar seu próprio faturamento. Aí esbarram em estádios velhos e pouco rentáveis, em contratos menos vantajosos e, claro, numa política de impostos mais severa.