Uma seleção com cara de Bunga

Não sei ao certo se dá para dizer que faltou alguém na última convocação da Seleção, feita por Dunga na última quinta-feira. Dá, sim, para cravar que tem gente que não faz sentido na Seleção, como o lateral Kléber – mas isso não é novidade. o técnico parece atado ao jogador por um compromisso eterno. Em nenhum momento além de dois ou três meses no Santos de Luxa, Kléber demonstrou futebol para ser chamado.

Dá para questionar Gilberto Silva também. A imprensa “dunguista”, que não vira a casaca enquanto não há grita popular, alega que ele quer um jogador de experiência no setor, como se Gilberto Silva fosse o único volante com mais de 22 e menos de 70 anos disponível no mercado. Mas, vá lá: esse é o perfil de Dunga como técnico e essas polêmicas já são costumeiras. Já nos acostumamos.

O que não dá para se acostumar é com a idéia de que o Brasil vá jogar um futebolzinho encruado – e vai, contra quem quer que seja. Dunga faz uma convocação mediana (um treinador que cria caso com Kaká, Ronaldinho, Adriano e Ronaldo “Gordômeno” não pode estar fazendo a melhor chamada possível), mas peca feio mesmo é na hora de montar o time.

Um exemplo: o Brasil tem dois canhões na lateral-direita. Um é um trator no apoio (Maicon) e o outro é mais completo, mas menos forte fisicamente (Daniel Alves). Enquanto isso, não tem ninguém na lateral-esquerda (porque mantém sua negação em relação a Fabio Aurélio). Juan, André Santos, Kléber, Adriano (Sevilla) e outros me parecem a léguas de distãncia dos colegas da outra faixa.

Se não se tem dois laterais convincentes, porque não escalar um terceiro zagueiro e deixar Maicon à vontade para apoiar? Não faltam meio-campistas de qualidade pela esquerda para compensar a falta de um lateral ali e além do mais, resolveria um problema de cobertura crônico numa seleção onde os volantes sabem jogar e não resistem a tentar um golzinho.

Os volantes são outro ponto. Não me lembro de uma fase onde tenhamos tido tantos jogadores excelentes na posição. Lucas, Ramires e Hernanes (claro, o Hernanes de outrora), por exemplo, jogariam em qualquer seleção do mundo. Com Dunga, todos viram burocratas, preocupados em fechar a defesa que fica escancarada pela insistência de se liberar os dois laterais para o ataque.

Por fim, o ataque. Dunga pode tirar o cavalo da chuva se acha que tem alguma chance na Copa sem Kaká, Ronaldinho e Adriano. Os últimos dois parecem perdidos, mas ainda há alguma esperança e Kaká não pode se sentir diante de um técnico com má vontade para render o máximo. Além disso, precisa de um espaço no campo que veta a presença de outro armador (quando joga com dois atacantes) ou dois atacantes (quando joga com outro armador). Pato é excelente, mas jovem demais e Nilmar, Luis Fabiano e Robinho não têm o estofo necessário para carregar a seleção nas costas.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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