Seguindo a tradição, uma aposta

Quando o Milan indicou Fabio Capello para assumir o Milan, em 1991, a mesma desconfiança que cerca a (provável) chegada de Marco van Basten pairou em MIlanello. Capello não tinha experiência como treinador (só tinha comandado o time por seis jogos depois da saída de Nils Liedholm, em 1987) e o Milan já era um grupo lendário, com Gullit, van Basten, Rijkaard e companhia. A aposta do clube era em cima de seu passado milanista. Assim como agora deve ser com van Basten.

A opção por Capello, assim como aquela que deve ocorrer pelo holandês, foi arriscada. Num clube de ponta, não vencer numa temporada significa ter ainda menos chances na temporada seguinte, porque entra menos dinheiro, craques relutam em vestir a camisa que não venceu e a pressão da torcida aumenta. Se der certo, contudo, ganha-se o frescor de um técnico que ainda não tem vícios, que não negocia com atletas e que não é conhecido pelos adversários.

Marco van Basten entra nesta categoria. A maior acusação contra ele é da de não ter montado uma seleção vitoriosa com a Holanda – mas a defesa é simples: tirando o lendário Rinus Michels, quem o fez? Além disso, van Basten tem números excelentes com a Holanda (35 vitórias e 6 derrotas em 52 jogos) e de muito longe exibiu o futebol mais encantador da Eurocopa 2008 nos jogos contra Itália e França.

Além disso, o holandês, apesar de jovem, tem a frieza de um veterano ao tirar de campo quem não joga bem. O fez com Davids, van Nistelrooy e Seedorf – que, aliás, passará a ter sua presença no clube em xeque caso se encontre mesmo com o treinador novamente. Segundo matéria de Alessandra Bocci, da Gazzetta Dello Sport, seu estilo de trabalho – extremamente disciplinador e pouco afeito a conversas – é comparado na Holanda ao de Rinus Michels, embora não haja parâmetro de comparação no histórico como treinador, uma vez que o “General” é uma lenda, enquanto van Basten, como técnico, ainda não realizou nada.

A maior dificuldade de uma possível gestão de Marco van Basten será a de enfrentar a Inter de Milão ainda carregando as heranças do escândalo de 2006, que rebaixou a Juventus e quebrou as pernas do Milan. Os atuais tetracampeões têm larga vantagem financeira e esportiva acumulada nos últimos anos e um emparelhamento (mesma coisa ocorre com a Juventus) ainda levará uma ou duas temporadas. Mas esse tempo, van Basten não terá – precisará vencer imediatamente e além disso, mantendo seu estilo ultraofensivo.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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