É mal-educado? Não fale com ele…

Não vou defender a postura de Muricy Ramalho com a imprensa. Ser mal educado, ainda que seja com jornalistas prontos para comer seu fígado na primeira oportunidade, não se justifica. Só que achei um pouco ridícula a repreensão de parte da imprensa ao técnico como que tentando estabelecer uma conduta moral.

Explico: Muricy não tem nenhuma obrigação de ser bem educado. Ele pode ser tão rabugento quanto quiser. Por outro lado, a imprensa, os jornalistas e os veículos de comunicação também são livres para fazer o óbvio: não entrevistá-lo. Não têm direito, por outro lado, de exigir que ele se comporte da maneira adequada às suas (da imprensa) necessidades.

Eu não sei muito bem o que me irritou mais: se foi o levante da Liga dos Jornalistas pela Boa Educação (quando na verdade alguns não têm nem educação básica), se foi a Associação dos Derrotados Travestidos de Corretos, ou o Sindicato dos Malas Desprovidos de Matérias. O fato é que a grosseria de Muricy transformou-se no assunto da segunda-feira, com direito à épica manchete do UOL: “São Paulo já iguala número de derrotas em casa de 2008”. Ou seja: uma derrota. A matéria compete com “Benfica segura João Pinto”, do mesmo UOL em 1998. Graças a Deus pude ver alguns jornalistas lembrando da profissão, como Mauro Cezar alertando para algo verdadeiramente sério, o planejamento do assalto maciço aos cofres públicos na Copa de 2014 e dando ao comportamento do técnico um espaço subalterno.

Muricy não é inteligente quando bate de frente com repórteres que raramente conseguem articular meia dúzia de frases desconexas. Erra mais ainda quando age estupidamente com jornalistas sensatos, inteligentes e educados (sim, eles existem), como por exemplo, Fernando Gavini, da ESPN Brasil. O técnico poderia, simplesmente, não participar mais das coletivas, deixando a incumbência para seus assistentes. Certamente Milton Cruz, Tata, Carlinhos Neves ou outro qualquer adorariam. Alex Ferguson não dá coletivas depois dos jogos na Premier League há anos e não é o único. Ao invés disso, se expõe às críticas de um grande grupo de pessoas que quer a sua cabeça. Sim, porque vencer faz o sujeito antipático. Todo mundo adora um derrotado. O sucesso dos outros é insuportável.

Quanto aos meus colegas de profissão (os bons), repensem. Não precisam se engajar em uma trincheira corporativista tosca, reles, que iguala grandes profissionais com zebus homéricos, como se um cara como Claudio Carsughi merecesse o mesmo respeito de um qualquer, desses que inventam notas para por no jornal. Sem alarde, não entrevistem mais o homem. É simples, fácil e rápido. E tenho certeza que vai fazer o técnico repensar.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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