Fome

Na coletiva de Vanderlei Luxemburgo depois da vitória sobre a Ponte Preta, uma resposta do treinador foi chamada em quase todo lugar. “Futebol, como eu conheço, precisa de fome para jogar bem”.

Fiquei surpreso ao ouvir isso. Os últimos anos tiveram um Luxemburgo misto de empresário e dirigente, mas muito pouco de técnico. Sua gestão no Santos e o ano passado do Palmeiras foram ridículos. Luxa se preocupa – há tempos – só em processar jornalistas que o criticam, se defender de associações estranhas com figuras do mundo do futebol e tentar passar uma imagem de “modernidade”.

Mas depois do jogo com a Ponte, não. Vi na coletiva o mesmo Luxemburgo do Palmeiras de 1993. O técnico não estava com o viés reacionário dos últimos anos, incapaz de aceitar críticas, ameaçando todo mundo com processos na justiça. O técnico do Palmeiras parece ter voltado a ser técnico.

Certamente muito disso deve ter a ver com a agressão imbecil da torcida organizada e às críticas maciças feitas por mídia e torcida ao time do Palmeiras que terminou o ano e à sua arrogância. Por mais pavão que seja, nem toda a vaidade do mundo conseguiria fazer Luxemburgo se convencer que as críticas eram injustas. Basta lembrar de contratações como Denilson, Roque Júnior e Jorge Preá e declarações como “Minha melhor preparação de jogo na seleção foi contra Camarões”.

Quando Luxa fala de fome, ele dá a sensação de estar falando dele mesmo. Por alguma razão, montar bons times parece ter voltado a ser a sua preocupação. Gostemos ou não dele, treinar times ele sabe. E por isso, caso não se engalane como depois do Paulista passado, quando “gênios” chamaram Valdivia de “Mago”, o Palmeiras pode não só concorrer ao título, mas apresentar um grande futebol – de fato – e não a enganação morna do ano anterior.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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