…e ele ficou…


Nesta segunda-feira, Kaká deu um passo para deixar seu nome na história do futebol que poucos, pouquíssimos jogadores deram. Ele recusou um contrato irreal de tão grande. Aqui, eu estou falando de verdadeiros gigantes entre os jogadores que abraçaram contratos maiores: Michael Owen, Luis Figo e outros grandes como Patrick Vieira e etc. Eles podem estar ricos, mas Kaká pode se mitificar.

A escolha de Kaká estava fechada quando ele abriu a janela e viu a torcida cantando seu nome. Ele viu crianças de colo, meninos, mulheres, todos com faixas e cartazes. Naquele momento, Kaká se deu conta do que seus colegas quase nunca percebem: que ele já é milionário, e ganhar o dobro não vai mudar seu futuro, financeiramente falando.

Ficando em Milão, entretanto, ele decidiu mudar seu futuro mesmo. Kaká tem agora a condição de verdadeiramente ser o herdeiro de Paolo Maldini como o “homem-clube”. É verdade que o seu holerite de €10 milhões por ano dá algum conforto, mas ninguém poderá acusá-lo de só pensar em dinheiro. Kaká pavimentou o caminho para virar uma lenda depois da carreira, daquelas que passam a vida num clube e se tornam patrimônio do mesmo, como Del Piero na Juventus, Totti na Roma, Gerrard no Liverpool. Mas com a diferença de que ele está, tecnicamente, um nível acima dos três mitos clubísticos.

No Milan, Kaká se mantém num palco de gala. O time hoje não é o mais forte possível, mas seu gesto faz os tantos Ibrahimovics e Robinhos pensarem duas vezes. Eles podem ficar ricos, muito ricos, mas não têm a menor chance – a menor – de adquirir a afeição de uma torcida como fez Kaká.

Aliás, por falar em torcida e Robinho, duas observações.

Primeiro, sobre Robinho: após a recusa muito se comparou a escolha de Kaká e do ex-santista. Não há parâmetro de comparação. Um já ganhou a Bola de Ouro, Liga dos Campeões, Campeonato Italiano, Mundial e é hoje, sem dúvida, o melhor jogador em atividade na Itália; o outro não venceu nada no exterior e ainda não deixou saudades em nenhum lugar. O Manchester City está muito abaixo do que o talento potencial de Robinho poder vir a ter, mas exatamente à altura do que ele já conquistou.

O segundo é sobre a torcida. Quando Kaká estava para sair do São Paulo, os asnos da torcida profissional, aquela que não trabalha e tem tardes livres para ir fazer protestos às terças à tarde, foram vaiá-lo; ontem, ela se reuniu na frente da sede do clube para comovê-lo. A partir de ontem, não há dúvidas sobre qual delas Kaká tem em seu coração.

PS: e para não dizer que não falei de flores, dou a mão à palmatória. Estava errado sobre a ida de Kaká (embora ele tenha estado mesmo MUITO perto de assinar com o City). Ainda bem que errei…

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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