A hora chegou e é sem o capitão

No final das contas, a lista dos convocados da Itália para a a Eurocopa não teve nenhuma grande surpresa: Del Piero estava lá, assim como Borriello e praticamente o esqueleto completo da seleção que se classificou. A chamada mais surpreendente foi a de Antonio Cassano, mas pelo aspecto comportamental. Tecnicamente, o barese está muito bem.

As ausências que devem ser sentidas no grupo, no final das contas, serão as de dois veteranos. Pippo Inzaghi, goleador que não falha quando chamado e Fabio Cannavaro, capitão e líder da defesa indiscutivelmente teriam lugar entre os 23. Mas por escolha ou sorte, a Itália terá de ir sem eles.

Isso muda as chances ou o jogo da Itália? Provavelmente não. Inzaghi seria reserva e sem Cannavaro, Roberto Donadoni dificilmente mudará de esquema. Do 4-2-3-1 (que é uma variação do 4-3-3), três jogadores de presença no meio denotam a preocupação do técnico com a retaguarda. Sem o capitão, Chiellini ou Materazzi farão dupla com Barzagli, com Panucci jogando no papel na lateral, mas na prática como terceiro zagueiro.

A última exibição italiana antes da competição, contra a Bélgica foi bastante positiva. A retaguarda ficou sólida enquanto o jogo pediu (amoleceu na segunda etapa, com as substituições), o meio-campo ficou dinâmico com Aquilani e o ataque está azeitado com Camoranesi-Di Natale servindo Toni. Quando a coisa for para valer, no entanto, Donadoni deve encorpar o meio com Ambrosini ou De Rossi.

Chances? A Itália é campeã mundial, tem um elenco bom em todos os setores, experiência e vem melhorando nas últimas partidas. O grupo duro é o divisor de águas. Certamente dá para a Itália cair, mas se passar, será difícil pará-la.

Veja aqui os convocados italianos para a Eurocopa
http://euro.trivela.com/Futebol.aspx?secao=134&id=19172

Inter-Mancini: o melhor desfecho

No perfil interista da semana passada, a continuação de Roberto Mancini na Inter foi apontada como um dos possíveis problemas para a tricampeã italiana na próxima temporada. Mancini perdeu a moral com o elenco e com o presidente Massimo Moratti depois de ter dito que deixaria o clube ao final da temporada e certas feridas não se fecham. Ou seja: começaria como um “pato manco”, como dizem na Inglaterra de um técnico que está sendo fritado.

Na semana passada, Moratti tomou uma atitude que não é de seu feitio, mas que foi extremamente precisa. Deixou de lado os liames sentimentais e demitiu Mancini, chamando para seu lugar ninguém menos que José Mourinho por uma soma de €9 milhões por ano nos próximos três anos.

Mourinho é o homem que a Inter precisava. Disciplinador ao extremo, ele chama para ele todas as polêmicas tirando a pressão de cima do grupo. Além do mais, o português não admite interferências de ninguém no seu trabalho e no caso da Inter, ele certamente entrará em atrito com as ‘eminências pardas’ que sempre atazanam os técnicos, como os consultores de mercado, Marco Branca e Gabriele Oriali e vários outros que não são famosos para o público. Se existia um nome para colocar a ordem que a Inter precisa, esse nome é Mourinho.

Agora, o que pode causar transtorno à Inter é a demissão de Mancini. Com mais quatro anos de contrato, o técnico iria receber cerca de €24 milhões de euros. Sendo demitido, ele quer receber o valor integralmente – o que é um direito seu. O clube, no entanto, precaveu-se postergando o anúncio da chegada de Mourinho e quando anunciou que Mancini estava fora, alegou que ele mesmo já tinha pedido demissão depois do jogo contra o Liverpool (coisa que de fato ele tinha feito). Dessa forma, a Inter espera ter recursos legais para “provar” que Mancini pediu demissão e não tem direito à indenização.

O torcedor interista pode esperar um time com uma defesa muito compacta na próxima temporada, mas além disso, pode ter certeza que os tempos de casa-de-mãe-Joana acabaram no elenco. Jogadores que criam caso contando com a proteção de Moratti estão fadados a serem expurgados.

Amauri-Juve, Zambrotta-Milan: o mercado está aberto

Como era de se esperar, assim que o campeonato terminou, as equipes entraram no mercado. Mas ao contrário dos últimos dois anos, quando Milan e Juventus não investiram, desta vez eles estão aí. E não só: também a Fiorentina, até agora o time que mais investiu (cerca de €40 milhões), está determinada a ir para a próxima Série A com a faca entre os dentes.

A Juve já fez boa parte de seu mercado. Tinha garantido o zagueiro sueco Mellberg de graça ainda em dezembro, chamou de volta os meio-campistas Giovinco e Marchisio. O último golpe foi a contratação do brasileiro Amauri. Com Trezeguet, Del Piero e Iaquinta, a Juve tem um grupo de atacantes capaz de fazer várias formações. Segundo o técnico Ranieri, “todos os quatro podem jogar juntos em qualquer combinação”.

Na Fiorentina, o gasto foi pesado: cerca de €40 milhões, visando um grupo forte para a Liga dos Campeões. Jovetic (atacante do Partizan Belgrado-SER), Gilardino (que tinha ido muito bem com o técnico Prandelli no Parma) e Felipe Melo (ex-Cruzeiro) dão corpo a um elenco bom, mas ainda não totalmente maduro. E ainda deve chegar Juan Manuel Vargas, externo do Catania desejado por meia Série A.

O Milan ainda esconde suas cartas, mas já fez boas contratações. O francês Flamini (a custo zero), o vice-artilheiro do Italiano, Marco Borriello (€7,5 milhões para comprar a metade do passe que ainda era do Genoa) e Gianluca Zambrotta são sem dúvida importantes. Mas em relação à concorrência, o Milan tem de se reforçar mais – em quantidade e qualidade.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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