Dois na cova

Na 35a rodada, o Italiano bateu o martelo de uma sentença dada há várias semanas. Messina e Ascoli, dois clubes cuja tradição na Série A já era bastante limitada quando foram promovidas, estão definitivamente na Série B da próxima temporada. O que será emocionante nas jornadas restantes é descobrir quem fica com a última vaga na guilhotina.

O ‘sprint’ final dos clubes para não cair também é vital na revitalização da Série A. Por mais que seja legal e democrático ter clubes pequenos na primeira divisão, o momento do campeonato na Itália pede a presença de torcidas maiores, estádios mais cheios e rivalidades mais acirradas. É provável que tenhamos quatro clássicos ‘stracittadini’ (jogos entre clubes da mesma cidade) e vários outros regionais (como Empoli x Fiorentina, por exemplo).

Somente três pontos separam os oito concorrentes à sobrevivência. Siena (34 pontos), Parma, Chievo e Reggina (35), Torino e Livorno (36) e Cagliari e Catania (37) todos têm chances absolutamente concretas de cair e os calendários de todos estão mais ou menos equivalentes, com vários confrontos diretos entre os ameaçados. A próxima rodada já reserva um embate entre Reggina e Chievo. Na rodada 37, a partida é entre Torino e Livorno e na derradeira, é a vez de Catania e Chievo.

Caso o rebaixamento fosse decidido já na 35a rodada, a saída do Siena, Messina e Ascoli (os atuais lanternas) seria extremamente positiva para a competitividade da Série A, ainda mais se considerarmos que 36 títulos nacionais devem subir com os prováveis promovidos, Genoa, Napoli e Juventus. Isso significa públicos maiores, mais dinheiro em pagamento de direitos de transmissão e um maior número de ‘clássicos’ durante o torneio.

Em termos de rendimento, Livorno, Siena e Catania são os que estão pior nas últimas semanas. A favor do Siena está o fato de que de algum modo, o time consegue fazer alguns resultados inesperados, como a vitória sobre a Reggina em Reggio Calabria. O Catania pode contar com a vantagem de estar no ‘topo’ da tabela contra o rebaixamento (mas também é o time que mais perdeu pontos nos últimos dois meses). Paixões clubísticas à parte, dentre os candidatos, além de Messina e Ascoli, certamente o Catania é o que agrega menos à Série A, historicamente. Estádios pequenos, torcidas menos ativas e na exceção do caso do Catania, há o problema da violência.

Observando-se os resultados dos últimos meses, Parma e Reggina têm as melhores performances. Mesmo com o mau placar em Verona diante do Chievo neste final de semana, o Parma renasceu sob o comando de Claudio Ranieri (que pode estar de malas prontas para a Juventus) e a Reggina teve uma campanha que lhe daria uma vaga na Copa Uefa, não fosse a penalização.

Juventus 2008

A vaga na Série A ainda não foi garantida pela matemática, mas a Juventus – apesar de não admitir – já planeja a sua temporada seguinte a pleno vapor. Depois de algumas contratações já praticamente garantidas (como as de Salihamdzic, do Bayern de Munique, Grygera, do Ajax e Frings, do Werder Bremen), é hora de pensar no treinador.

“Treinador? Mas o Didier Deschamps não será o campeão da Série B?”, pode perguntar o leitor mais atento. Sim, verdade. Tudo indica que a Juve vencerá a primeira Série B de sua história nesta temporada. O que parece, no entanto, é que Deschamps não goza da simpatia de pessoas dentro do clube – e diga-se de passagem, isso não é nada difícil, porque o ex-capitão da França e da Juventus tem fama de ter uma personalidade bem peculiar.

O nó de Deschamps na Juventus é que o diretor esportivo do clube, Alessio Secco, não tem exatamente uma grande simpatia pelo francês, que por sua vez, está tirando um braço de ferro para ver quem pode mais. Seu objetivo é claro: ele quer ter a última palavra na formação do elenco da temporada que vem.

Deschamps está peitando porque seu nome é o preferido do Lyon para assumir o clube (levando consigo o atacante Trezeguet) no caso de Gérard Houllier, atual comandante do time francês, deixar o hexacampeão francês para assumir a seleção de seu país. O clube piemontês nega que não esteja satisfeito com seu treinador, mas também não demonstra um apego assim incrível.

A eventual saída de Deschamps forçaria a Juve a ir buscar um treinador de nível. O nome mais cotado no momento é o de Claudio Ranieri, que está salvando o Parma do rebaixamento. Ranieri tem a favor de si a vantagem de ser italiano num momento em que a “Vecchia Signora” pretende privilegiar o talento nacional em suas filas.

Por melhor que seja feito o trabalho, é bom que o torcedor ‘bianconero’ já se habitue com a idéia de que o próximo campeonato dificilmente trará um título, como já observaram o meia Pavel Nedved e o próprio Deschamps, entre outros. O clube terá de remontar seu elenco, com alguns nomes-chave já envelhecendo (Del Piero, Nedved, Birindelli), outros podendo sair (Buffon, Trezeguet, Bojinov) e alguns jovens que não se sabe se firmarão.

Para não esquecer

Esta não é a coluna que fala sobre futebol europeu, mas a vitória acachapante do Milan sobre o Manchester United, pela Liga dos Campeões, certamente entrou para a antologia da competição, por todos os fatores: clima, atmosfera, tática, garra, surpresa e dedicação.

Depois de um jogo duro em Manchester, o técnico Carlo Ancelotti decidiu fazer uma mudança tática para o jogo em Milão. Sem opções para fazer um ataque de dois nomes, o técnico precisava também fazer com que Pirlo escapasse da marcação cerrada de Paul Scholes no meio-campo.

Para tanto, Ancelotti avançou Pirlo e deslocou Ambrosini para a posição do mediano campeão do mundo na Alemanha. Com isso, Gattuso ficava encarregado de fechar a porta para Cristiano Ronaldo e Ambrosini distribuía o jogo. Pirlo, por sua vez, jogava mais adiantado próximo a Seedorf, que estava na posição de Kaká. E o brasileiro, embora pouca gente tenha notado (Alex Ferguson incluso), jogou praticamente como segundo atacante. O esquema massacrou o time inglês, ajudado por uma chuva torrencial que deixou o campo pesado num momento em que o Milan está em clara evolução na parte física.

A curto prazo, o efeito para o Milan é um empuxo moral violento. O clube foi dado como carta fora do baralho por toda a temporada e agora pode vencer a competição mais importante que disputa; a médio prazo, significa um reforço na posição de Carlo Ancelotti no comando da equipe e uma consolidação psicológica de um grupo que estava fragilizado desde a derrota de Istambul.

A comparação feita na semana passada na Itália era: quem é melhor entre Inter e Milan? Não cabe uma indagação séria. Na temporada, a Inter foi amplamente superior e para o próximo campeonato, o time ‘nerazzurro’ praticamente não precisa de reforços – ao contrário do ‘rossonero’. Agora, o futebol que o Milan apresentou na chuvosa noite de 2 de maio não tem rivais – nem na Europa nem na Itália.

Finalmente, depois de 20 anos no Milan e várias “ameaçadas” de aposentadoria, finalmente a ficha caiu para Costacurta e ele deve deixar o futebol – como jogador.

Uma vez que ele não quer sair do foco da mídia e público, ele conseguiu uma boquinha como assistente de Carlo Ancelotti no Milan, ao lado de Mauro Tassotti.

Ancelotti e Tassotti que se cuidem, porque Costacurta adora ver um tapete para ser puxado.

Esta é a seleção Trivela da 35a rodada:

Curci (Roma); Carrozieri (Atalanta), Aronica (Reggina) e Ferrari (Roma); Jimenez (Lazio), Rosina (Torino), De Rossi (Roma), Marchini (Cagliari) e Cassetti (Roma); Crespo (Inter) e Totti (Roma)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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