Mas que pau!

Não era difícil imaginar que a Roma chegaria à final da Copa Itália com mais vontade que a Inter. Sem títulos desde 2001, o clube ‘giallorosso’, mesmo tendo vencido o duelo com a campeã italiana no campeonato, ainda precisava de um algo a mais para diminuir a dor causada pelos 7 a 1 de Manchester, pela Liga dos Campeões. Só que o 6 a 2 impingido à Inter na final da copa superou todas as expectativas pela autoridade do jogo romanista.

O fato de que com 30 minutos de jogo o placar do Olímpico já anotava 4 a 1 para a Roma diz muito sobre como a Inter sofreu um blecaute originado de um desinteresse claro nos milaneses. O ‘11’ que Roberto Mancini mandou à campo no início do jogo era todo titular, mas parecia um time de juniores. Como já tinha feito com a Inter no campeonato, a Roma matou a Inter com uma pressão imensa pelas laterais, sufocando as subidas de Maicon e Maxwell, graças ao suporte firme do duo De Rossi-Pizarro.

Não é possível comparar a derrota interista com a romanista sofrida em Manchester, e também não dá para imaginar que a Copa Itália possa ter um valor similar ao campeonato, só que no elenco ‘nerazzurro’, a derrota deixou um gosto amargo que obscureceu a conquista do ‘scudetto’.

O maior prejudicado na derrota, em termos individuais, foi o brasileiro Adriano. Apático em campo, Adriano foi substituído no começo do segundo tempo, dando lugar ao uruguaio Recoba, que não é exatamente um titular absoluto. Depois do jogo, Mancini não escondeu seu desapontamento pela enésima performance irreconhecível do “Imperador”.

A única (mas única mesmo) nota positiva do pau que a Inter tomou foram os dois gols de Hernán Crespo (que faria mais três contra a Lazio no final de semana). O argentino está merecendo um esforço interista para mantê-lo no elenco e o desdém de Adriano certamente está facilitando a criação de um espaço.

Por incrível que pareça, a partida de volta em Milão adquiriu um ar importante para a Inter. Mesmo que não conquiste a copa, a Internazionale tem obrigação de mostrar um jogo convincente para não ir para a próxima temporada com um mal-estar entre jogadores e comissão técnica. Uma vitória por 4 a 0, por outro lado, fecharia a temporada da campeã com chave de ouro. Vitória essa que é difícil de imaginar.

Os demitidos que voltam

Os esforços do presidente palermitano, Maurizio Zamparini, para ferrar a temporada da equipe ‘rosanero’ são notáveis. Depois de passar todo o campeonato ameaçando seu técnico, Francesco Guidolin, criticando abertamente vários de seus jogadores e azedando o clima do elenco, Zamparini culminou com a demissão ‘formal’ de Zamparini.

Três rodadas depois, nas quais o time foi comandado pelo assistente técnico Renzo Gobbo (três pontos em nove disputados), Zamparini se superou e mandou Guidolin voltar ao comando do Palermo, seguindo a mania inventada pelos clubes italianos: a de recontratar técnicos demitidos. Messina, Cagliari e Torino já tinham feito a mesma coisa. O primeiro caiu, o segundo pode cair e só o ‘Toro’ talvez tenha sucesso com a medida.

O Palermo começou o mês de abril na região de classificação para a Liga dos Campeões. Só que o pedido de Zamparini a Guidolin foi: “Tente nos salvar a vaga Uefa”. E olha que o Palermo tem chances muito concretas mesmo de ser superado por Fiorentina, Empoli e Sampdoria.

O campeonato palermitano foi condicionado por dois fatores: o primeiro é que Guidolin e sua comissão técnica normalmente privilegiam a preparação física para que seu time dispare no começo do torneio (com uma perda de competitividade nas últimas rodadas); o outro ponto que pesou foi a contusão do brasileiro Amauri, que só deve voltar para valer no próximo torneio.

O time ‘rosanero’ – leia-se Zamparini – já ‘planeja’ a próxima temporada, anunciando contratações para o elenco e sugerindo que Stefano Colantuono, atualmente treinador da Atalanta, pode ir para o Renzo Barbera. O que não é segredo para ninguém é que com o dirigente comandando o clube, as chances de sucesso do clube siciliano continuarão magérrimas.

Mais ‘Calciopoli’

A temporada mais lamentável da história do ‘calcio’ italiano está acabando, mas a lama que começou a aparecer há um ano ainda dá pano para manga. No mesmo momento em que a Juventus vai conquistando – no campo – a sua volta à Série A, não faltam novos escândalos para envolver ainda mais a ‘Vecchia Signora’ na sujeira de ‘Calciopoli’.

Depois de uma nova denúncia feita semanas atrás que dava conta dos ‘presentes’ dados pela Juventus de Moggi aos árbitros. A acusação não veio de um qualquer. Se trata de Maurizio Capobianco, ex-dirigente do clube, que alegou que só faria acusações “materialmente comprováveis” através da contabilidade do clube. Capobianco diz que o ex-designador de arbitragem, Pierluigi Pairetto, era “de casa” na Juventus, assim como o ex-dirigente do Messina, Mariano Fabiani, outro atolado até o queixo na questão. Entre outras coisas, Capobianco também mencionou o envolvimento da Juve com a Gea e disse que membros da diretoria que permanece no clube têm mais participação do que a mencionada até agora. Tudo negado pela sede da via Galileo Ferraris, naturalmente.

O lançamento de um livro sobre o assunto promete não deixar a questão desaparecer tão cedo na Itália. “Calciopoli/Juventus, o processo-farsa”, levanta uma tese curiosa: a de que a Juventus – leia-se a família Agnelli – estaria por trás da queda de Luciano Moggi e Antonio Giraudo. Os motivos: Os Agnelli estariam insatisfeitos com o crescimento do poder de Moggi e a diluição da influência da ‘famiglia’.

O teor do livro é claramente uma espécie de defesa da sociedade ‘bianconera’ que teria arquitetado a trama para se defender. Nesse aspecto, é suspeito o fato de que os autores sustentem que não houve crime e que a Juventus foi lesada, onde mesmo o crime de fraude esportiva teria sido considerado pela Procuradoria de Turim nada além de uma mera hipótese.

Contudo, a verdade é que a Juventus parece cada vez mais culpada na história e não só pelas denúncias de Capobianco. As revelações de telefonemas que tinham sido descartados pela promotoria de Turim e outros esquemas de contatos entre Moggi e ‘seus’ árbitros chegaram até mesmo a levantar a possibilidade de mais sanções à Juve, o que seria legalmente inviável, de acordo com a maioria dos juristas. A lama enterrada continua a feder.

– Na disputa entre Deschamps e Alessio Secco na Juventus, a torcida se colocou ao lado do treinador.

– De qualquer maneira, o clube já estuda as possibilidades para uma eventual saída do francês.

– Sven Goran Eriksson, Delio Rossi (Lazio) e Walter Novellino (Sampdoria) são os mais cotados.

– Se bem que não se deve esquecer de Francesco Guidolin, que era o nome que sucederia Marcello Lippi (com a bênção deste), quando Fabio Capello entrou na jogada.

– Perdido Frings (que renovou com o Werder Bremen), a Juve segue com seu planejamento de reforços, e agora aposta em Obafemi Martins, do Newcastle, para o ataque.

– Esta é a seleção Trivela da 36a rodada:

– Pantanelli (Catania); Di Loreto (Torino), Portanova (Siena), Materazzi (Inter); Galoppa (Siena), Tissone (Atalanta), Ledesma (Lazio) e Seedorf (Milan); Rossi (Parma), Pandev (Lazio) e Crespo (Inter).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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