Ele não volta mais

O crescendo da crise de Adriano na Inter atingiu seu ápice com o escândalo da semana passada, onde fotos do jogador numa festinha de arromba apareceram na imprensa alemã. O craque, incrivelmente à vontade, com cigarro e bebida nas mãos, dançava feliz com algumas amigas que não se pareciam nem um pouco com Madre Teresa.

Foi a gota d’água. Adriano desabou e nem foi convocado para a partida contra a Udinese – diga-se de passagem, uma excelente apresentação da Inter. Até o técnico Roberto Mancini, que não faz parte da roda de samba do atacante, admitiu ter errado com Adriano e que o atacante estava sobre uma pressão psicológica injusta.

Para piorar o enrosco, a situação pessoal do craque não está bem. As fotos certamente não ajudaram que a sua companheira Danielle aceitasse uma reconciliação, nem mesmo depois do nascimento do filho dos dois. O ‘Imperador’ pediu arrego e a decisão da Inter é a de liberar o jogador para “recuperar-se” no Brasil.

Na verdade, o clube não tinha muito o que fazer. O jogador está com a moral a zero, divide o ambiente e está jogando um futebol nulo. Não surpreenderia se o seu empresário estivesse pressionando enlouquecidamente por uma transferência – coisa que ele faz há pelo menos um ano.

A pergunta que se faz é: Adriano volta a jogar na Inter? A lógica diz que não. A deterioração das relações do jogador com técnico e vários jogadores parece não ser passível de recuperação e o clube já deve estar pensando em como aceitar uma proposta por ele onde possa ainda ter um bom lucro, já que a esta altura, está pagando um salário nababesco a um jogador inexistente.

O leitor deve estar se perguntando: “Mas será que não tem o dedo de um time milionário ou de um agente safardana nesta parada?”. Bem, não há como negar que os indícios de uma negociação subterrânea estão todos aí.

Para a Inter, a maior dificuldade é gerenciar a “crise” (a Inter consegue ter crises até quando é líder) sem afetar sua posição na tabela. O time tem atacantes o suficiente para fechar a temporada sem precisar de Adriano, mas é inevitável que o grupo se abale com questões do tipo.

A solução mais lógica para Adriano é mesmo a de achar outro clube para ir jogar. Seu comportamento nos últimos meses para tênar forçar uma venda foi tão acintoso que não lhe deixou escolha. Antes de deixar o Brasil, Adriano precisaria colocar sua vida pessoal em ordem e depois voltar a treinar com disposição. Ser bem recebido na Inter novamente só será possível se ele voltar à Milão fazendo os gols que lhe valeram o apelido de ‘Imperador’.

Há uma reação ‘viola’?

Apesar de ainda estar nove pontos atrás do primeiro time fora da zona de rebaixamento (Chievo, com 2 pontos), a Fiorentina parou o desespero depois de uma série de três vitórias seguidas (Catania, Empoli e Reggina), contra adversários menores mas bastante hostis. Mas será que se trata de uma reação genuína?

Há indicações que sim. O técnico Cesare Prandelli fez algumas alterações táticas que reavivaram a equipe e, pelo menos contra equipes de menor porte, a Fiorentina demonstrou que tem condições sim de se salvar.

Primeiro, Prandelli destacou um homem para ficar travado na frente da defesa (Blasi ou Pazienza), e fechar a hemorragia que o setor apresentava. Não que Blasi seja Gattuso, mas agora é possível deixar sempre um homem na sobra, coisa que ficava difícil com as subidas de Pasqual pela esquerda.

Outra alteração importante foi o recuo de Mutu do ataque para chegar perto do meio-campo. Ali, o romeno tem o auxílio de Santana – também deslocado da faixa lateral do meio-campo – e os dois podem fechar o meio ou encostar em Luca Toni quando necessário.

Nos times pelos quais passou, Prandelli normalmente leva algum tempo para se acertar. Nesta temporada, apesar de já vir de uma certa rodagem do ano passado, o seu time estava com os nervos à flor da pele por causa da pesada punição de pontos. Os três resultados devem dar condição de alguns jogadores exprimirem seu melhor futebol.

Um deles já começou a jogar: Mutu. Sua partida contra a Reggina foi excepcional e ele volta a ter lampejos de sua época no Parma, onde atuava com liberdade no ataque e fazia grande dupla com Adriano. Não coincidentemente, seu técnico era Prandelli. Outro que ainda não está em seu máximo é Luca Toni, ainda ‘convalescente’ da Copa do Mundo.

A Fiorentina tem tudo para se salvar: elenco, técnico e tempo. Contudo, precisa manter a concentração alta para não dar brecha. Times na zona de rebaixamento como Chievo e Lazio também devem melhorar nas próximas semanas e não é certo que a concorrência fique inerte. A torcida precisa esperar que times como Catania e Ascoli – mais modestos tecnicamente – patinem a ponto de se aproximar do fundo da tabela.

– Fiquem atentos porque o dia 30 se aproxima.

– Nesta data, a Justiça italiana deve dar as sentenças sobre o escândalo do Calciocaos e não é impossível que a pizza venha aí.

– O Milan parece ter abdicado da disputa do ‘scudetto’ deste ano.

– Kaká é o único que joga em seus patamares normais.

– O mercado ‘’rossonero’’ de janeiro terá atividade com toda certeza.

– E esta é a seleção Trivela da rodada

– Abbiati (Torino); J. Zanetti (Inter), Panucci (Roma), Barzagli (Palermo) e Molinaro (Siena); Bresciano (Palermo), Morrone (Livorno) e Figo (Inter); Kaká (Milan); Mutu (Fiorentina) e Quaglarella (Samp).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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