Depois de um verão tumultuado, imaginava-se que, pelo menos, passada a vergonha do escândalo feito por um grupo de dirigentes e árbitros, a Itália poderia lamber suas feridas e fazer um campeonato decente nesta temporada.
Mas não. A pizza veio em duas fases e depois da limpada de barra que Juventus, Lazio, Fiorentina e Milan tinham recebido antes do campeonato começar, na semana passada, os mesmos times – menos o Milan – receberam uma nova mãozinha, que veio besuntada da mais pura lama.
O gesto de diminuir as punições dos três clubes contra os quais pesavam as provas mais escandalosas foi simplesmente grotesco. Era esperado, mas não deixou de ser grotesco. O campeonato deste ano está, desde já, irreversivelmente comprometido em termos de legitimidade e na prática, deve acentuar ainda mais o indício mais claro de que algo está errado: as médias de público.
As arquibancadas italianas estão cerca de 10% mais vazias do que estavam na temporada passada. Claro que parte da queda se deve ao fato da Juventus não participar, mas o fenômeno já vem de longe. Desde 1997 que a Série A vem perdendo público e não resta dúvida que a credibilidade do futebol italiano está abalada até mesmo para os torcedores do país, que não sabem mais se estão fazendo papel de palhaços quando vão ao campo.
O fato irrefutável é que a cartolagem italiana nunca foi tão ‘cartola’. Tudo indica que as decisões relacionadas ao escândalo erraram três vezes. Primeiro, quando não puniram os envolvidos (Juventus, Lazio, Fiorentina, Milan e Reggina) com o rigor devido, uma vez que os quatro últimos teriam de ter sido rebaixados à Série B e a Juventus à Série C. Agora, novamente, quando afrouxam as punições de todo mundo – menos da pobre Reggina – segundo interesses dos mais fortes politicamente. E por fim, quando claramente tomam todas as decisões de maneira favorável à Inter, numa espécie de compensação malcheirosa.
Tudo está errado neste campeonato. A Inter não deveria ter aceitado um ‘scudetto’ sujo, não vencido no campo; se o Milan teve uma participação grave o suficiente para merecer alguma punição, não deveria ter tido pontos deduzidos, e sim deveria ter sido rebaixado, assim como Lazio, Fiorentina e Reggina,e neste caso, a Juventus tinha de ter levado uma punição ainda maior – indo para a Série C. E todos os dirigentes envolvidos tinham de ter sido banidos para sempre do futebol.
O arranjo atual não deixa ninguém honesto realmente contente. Não há um torcedor da Inter que se sinta bem com o ‘scudetto’ sujo na camisa nem que goste de ver o time na liderança graças a punições que mantém Fiorentina e Milan na rabeira. Mas desta forma, o prejuízo financeiro é menor para os poderosos. E dinheiro, lamentavelmente, é a única coisa que parece valer no futebol italiano.
Um clássico
Quando dois times rivais se enfrentam num jogo que termina 4 a 3, dificilmente não entra para a memória. Ao contrário das últimas temporadas, a Inter chegou ao dérbi como favorita e provou em campo que é melhor mesmo. O jogo de sábado deixa pouquíssimas dúvidas sobre as reais chances do Milan dentro do campeonato nacional.
O número alto de gols demonstra a maneira como as duas equipes buscaram o jogo, mas também revela como ambos têm problemas defensivos para resolver. A vitória interista veio muito mais da solidez de seu meio-campo (especialmente do francês Patrick Vieira) do que da retaguarda propriamente dita – ainda que o brasileiro Júlio César tenha ido bem – especialmente no final.
Ainda que o campeonato seja longo e haja tecnicamente tempo para o Milan buscar a liderança, começa a ficar nítido que as chances européias do time de Kaká são melhores. Nesta temporada, o elenco da Inter é melhor, e mesmo não aproveitando todo seu potencial, está rendendo mais do que o milanista.
– A campanha do Siena surpreende.
– O time toscano chegou à quarta posição e tem mostrado um excelente futebol.
– Triste é lembrar que o clube era um dos principais beneficiados pelo esquema Moggi/GEA para contratação de jogadores e não sofreu punição de nenhuma natureza.
– Esta é a seleção Trivela da 9ª rodada:
– Pelizzoli (Reggina); Ferrari (Roma), Comotto (Torino) e Pisano (Cagliari); Caserta (Catania), Codrea (Siena), Alvarez Reyes (Messina) e Stankovic (Inter); Ibrahimovic (Inter), Riganó (Empoli) e Amauri (Palermo).