Olha a Inter!

Quando a bola começou a correr na Supercopa Italiana, alguns pesadelos interistas começaram a tomar forma. Com 34 minutos, a temporada do clube já parecia estar decididamente fadada ao fracasso, com a velha tradição interista de tropeçar nos próprios cadarços vindo à tona. Só mesmo o gol de Vieira na bacia das almas do primeiro tempo é que evitou que a pá de cal viesse antes do intervalo.

E não é que o time de Roberto Mancini protagonizou uma virada sensacional? Mesmo tendo jogado contra uma Roma desastrosa na defesa (especialmente depois da expulsão de Chivu), a Inter demonstrou um brio que dificilmente se espera dela. O resultado em si não foi importante, já que a Supercopa não é o sonho de ninguém, mas a reação do time é o bom presságio que o clube precisava.

Três dos quatro gols vieram de reforços, sendo que dois deles de um meio-campista que se dedica mais à regência da defesa do que ao ataque. Foi exatamente a performance de Patrick Vieira que animou a torcida interista, porque pela primeira vez em muitos anos, o clube pareceu ter um líder capaz de galvanizar uma equipe onde a falta de determinação é uma regra há muito tempo.

Quais seriam os trajetos a serem seguidos por Mancini depois desta injeção de ânimo?

Pelo ponto de vista psicológico, recuperar Adriano. Não que a sua partida tenha sido assim horrorosa, mas uma vez que ele, Mancini, e o atacante já não têm uma relação fraternal, a Inter corre o risco de perder seu atacante mais valioso por bobagem, uma vez que Crespo parece ser o parceiro ideal para Ibrahimovic.

Outro ponto importante é o de incutir na cabeça dos interistas a obrigação que eles têm de exterminar toda e qualquer euforia. A Inter tem um longo histórico de tropeços depois de vitórias suadas e não é raro ver os craques desfilando de salto alto em Appiano Gentile. O time só pode relaxar quando levantar o troféu.

Taticamente, Mancini precisa criar alternativas ao seu esquema tático por dois motivos: primeiro, porque terá contusões que levarão o time a ficar inclinado a outras formações; segundo, porque durante a temporada, a Inter terá de jogar de forma diferente contra adversários mais fortes. Usar três atacantes, um meia atrás dos dois atacantes ou três na defesa pode ser necessário no meio do campeonato, mas aí não haverá tempo para treinar.

“Então quer dizer que a vitória não é importante?”. Em si, não. Mas essa é a primeira vez desde a chegada de Hector Cuper ao clube que o time milanês começa o campeonato aparentando ter reais condições de jogar de igual para igual com clubes da mesma estatura. O troféu agrega pouco, mas a confiança adquirida na Supecopa pode ser o maior prêmio da temporada.

Perto do fim

A dois dias do final da janela de transferências, o Milan ainda não deu a sua paulada no mercado. E num ano no qual a Inter torrou o talão de cheques, isso é mais necessário do que nunca. Será que o time de Kaká aceitará passivamente as saídas de Shevchenko e Stam sem levar ninguém para Milão?

Bem, é possível, mas não provável. O Milan usualmente deixa seus golpes de mercado para o último dia da janela de transferências e há bons indícios para que isso volte a acontecer. O time precisa com toda certeza de um reserva para a lateral-esquerda, um atacante e um goleiro (já que Dida terá seu contrato encerrado em 2007).

No gol é que está a maior esperança milanista de uma contratação bombástica. Ainda que não haja rumor, o clube quer tirar Buffon da Juventus, mas sua insistência segue pela negociação diplomática, sem que haja atrito. Buffon daria ao Milan um status de ‘vitória’ no mercado de transferências pelo que ele representa hoje na Itália – e exatamente numa posição em que o elenco não é seguro.

Na lateral, pode passar-se sem, mas o técnico Carlo Ancelotti não esconde que não pretende mais usar Kaladze ali e que Maldini ficará restrito à zaga, onde se desgasta menos. Serginho é uma boa opção de apoio, mas péssima para a retenção. O lado de Cafu está fechado com Bonera, mas na esquerda…

E no ataque? Bem, uma coisa é certa: não há a possibilidade de se substituir Shevchenko que é um mito milanista (segunda melhor média de gols por jogo da história do clube). A idéia da diretoria é a de se fazer uma contratação de peso (como Robinho ou Ronaldo, mas ambos são caros demais e o Real Madrid não está de ‘bem’ com o Milan). Se não for possível, a alternativa é um jogador sem tanto renome (como Ricardo Oliveira) mais Buffon, que ficaria responsável pelo impacto.

Se o Milan encerrar seu mercado somente com Bonera e com um atacante da estatura de Ricardo Oliveira, o clube terá fracassado em se reforçar. Isso causaria ao Milan um desgaste a mais depois de um verão onde o clube nem sabia se ia jogar a Série A. Isso certamente poderia ser perigoso na intenção de manter nomes como Kaká, Gattuso e Pirlo a longo prazo. Por essas, a chance de um anúncio bombástico nos últimos minutos não é de se descartar.

Talvez não seja assim tão simples…

Uma vez que o rebaixamento foi confirmado, a Juventus mastigou a bile e tentou se conformar. “Bom, pelo menos, é certo que a promoção na Série B virá, afinal, o elenco ainda é todo de primeira divisão, né?”. Pois é. É o que todo mundo achava.

Daí vem o Napoli, vindo de uma Série C e, numa partidinha despretensiosa de Copa Itália, desclassifica a Juventus da sua única chance de disputar alguma coisa européia na temporada seguinte. Eliminada, a próxima participação juventina em competições da Uefa será, na melhor das hipóteses, em 2008/2009.

Uma ironia é a de que um dos juventinos que perderam seu pênalti foi o goleiro Buffon – exatamente o nome mais cobiçado do elenco. Mesmo tendo defendido uma cobrança, Buffon viu seu time perder e jogar mais uma pá de lama numa situação dramática.

Com a derrota, pela primeira vez, a Juventus se deu conta de que talvez a promoção para a Série B não seja tão certa quanto todos esperam. Sim, é verdade, o elenco juventino é superior à maioria dos adversários de Série B, mas também é certo que esses adversários estão muito mais habituados a jogar uma competição onde talento fala menos do que determinação.

Além disso, a Juve também se deu conta de que Camoranesi quer sair do clube de qualquer jeito e que Trezeguet não choraria incrivelmente se fosse vendido. Depois de tantas perdas, mais essas duas cessões enfraqueceriam sensivelmente um elenco que já é bem, mas bem mais simplório do que o time que ganhou mas não levou na última temporada.

Não há um time que espere mais ardentemente o fim da janela de tranferências. Pela primeira vez desde que explodiu o caso Moggi, a Juventus poderá olhar para a sua temporada sabendo que nenhuma mina se detonará na esquina seguinte. E ainda que a visão seja tenebrosa para os padrões juventinos, ao menos, não piorará. Depois de um verão como o que passou, para a ‘Vecchia Signora’, já está excelente.

Reggina: quase rebaixada

É preciso voltar a 1992 para encontrar um campeonato onde a diferença de pontos entre o último colocado e o primeiro time a se salvar tenha sido menor do que 15 pontos. O espaço dá uma dimensão de como a Reggina terá de fazer um milagre para poder se salvar do rebaixamento depois dadecisão do tribunal de mantê-la na Série A, mas com uma perda de 15 pontos.

A punição vem pela mesma razão que tantos outros já se ralaram: a teia de influencias mantida pelo ex-dirigente juventino, Luciano Moggi. Só que no caso da Reggina, a punição equivale a um rebaixamento adiantado, já que a série A é muito disputada na ponta, mas na rabeira, é um inferno total.

O clube nega, mas certamente está planejando a sua temporada de olho num eventual desmanche do elenco na temporada seguinte. Contratos serão assinados com valores menores, cláusulas de rebaixamento e com atletas que aceitem um eventual (e provável) descenso.

– A 48 horas do final da janela, a Juve ainda corre o risco de perder Buffon, Trezeguet, Camoranesi e Zalayeta.

– O Milan não quer se arriscar a depender de Ricardo Oliveira e negocia também com Didier Drogba, do Chelsea e Iaquinta, da Udinese.

– O clube milanês não quer esperar favores do Real Madrid, que quer se vingar nas negativas no caso Kaká.

– Roma: Vucinic, atacante sérvio do Lecce, jogará esta temporada no Olímpico.

– Eis a convocação da Itália para enfrentar a França, num repeteco da final da Copa.

– Goleiros: Christian Abbiati (Torino), Marco Amelia (Livorno), Gianluigi Buffon (Juve).

– Defensores: Andrea Barzagli (Palermo), Fabio Cannavaro (Real Madrid), Dario Dainelli (Fiorentina), Fabio Grosso (Inter), Massimo Oddo (Lazio), Manuel Pasqual (Fiorentina), Cristian Zaccardo (Palermo), Gianluca Zambrotta (Barcellona).

– Meio-campistas: Massimo Ambrosini (Milan), Daniele De Rossi (Roma), Gennaro Gattuso (Milan), Marco Marchionni (Juve), Simone Perrotta (Roma), Andrea Pirlo (Milan), Franco Semioli (Chievo).

– Atacantes: Emiliano Bonazzoli (Sampdoria), Antonio Cassano (Real Madrid), David Di Michele (Palermo), Alberto Gilardino (Milan), Filippo Inzaghi (Milan), Tommaso Rocchi (Lazio).

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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