A Inter emocional

Bater a Juventus eleva o moral até de um defunto com missa rezada. Isso não é novidade. Os 3 a 1 cravados pela Inter de Milão na Juve, mais uma vez, terão o efeito de uma vitória de Pirro nos planos de Via Durini para a próxima temporada. Aliás, como sempre.

Por quê? Porque o clube azul-e-negro confirmou Alberto Zaccheroni com o resultado, e provavelmente voltou a se sentir feliz com o seu elenco. Exatamente igual aos finais de campeonatos que a Inter teve na era Pré-Cúper.

Zaccheroni não é ruim. É um bom técnico, que privilegia contra-ataque e obediência tática, ou seja, não agrada brasileiros. Mas o que a Intre precisava para a próxima temporada era uma reformulação daquelas que arranca as raízes mais profundas, e como não se faz há tempos.

A Inter tem um grupo viciado, acomodado, e onde os jogadores, segundo avaliação do mito interista Beppe Bergomi, “têm muitos álibis” quando jogam mal. Sem falar que o clube faz um mercado, ano após ano, frenético e desgovernado. Não à toa, é possível ver a Inter em 70% dos rumores de mercado.

Exemplos? A Inter precisa de um armador, mas vive anunciando nomes de novos zagueiros (provavelmente o setor mais bem coberto da equipe); chegou a mencionar que poderia abir mão de Toldo para ter Frey, enquanto Toldo ainda é um gigante, que a Inter teria de agarrar com correntes de aço.

Lamentavelmente, para os interistas, tudo indica que a entropia do clube não deve ser extirpada à ferro e fogo como necessário. E vale lembrar para os críticos de Cúper: mesmo sem um estilo de jogo, com jogadores e dirigentes jogando contra, e sem as peças que tinha pedido, o técnico argentino conseguiu fazer os melhores resultados dos últimos anos através da disciplina. Não é coincidência.
Crise? Macché crise???

No papel, era uma partida fácil, de três pontos. Mas o Milan não foi além de um empate em um gol contra o Modena. Na Itália, já se fala em “decadência do preparo físico”, “queda de rendimento”, e “preocupação com a aproximação da Roma”. Não qie o Milan não tenha acusado o golpe de tantas partidas importantes em seqüência, mas vamos relembrar este caminho milanista.

O Milan está saindo da sua parte mais delicada do campeonato. Enfrentou, nas últimas semana (desde 15 de fevereiro, para ser mais exato), Lecce, Inter, Lazio, Sampdoria, Juventus, Parma, Chievo e Modena, perdendo seis dos 24 pontos disputados. E ainda fez três partidas, pela Liga dos Campeões, contra Sparta Praga e Deportivo.

Nos últimos quinze dias, ainda teve de ver seus craques pegando o Deportivo num jogo duríssimo contra o Deportivo, além dos empates contra Modena e Chievo, Adicione-se aí, os amistosos das seleções, onde muitos dos titulares se exauriram. Seedorf, Kaká, Gattuso, Pirlo, Rui Costa e Tomasson jogaram nos amistosos de suas seleções. Shevchenko nem entrou em campo porque tomou uma pancada e perdeu dois dentes.

No elenco milanista, dois nomes têm como indispensável condição o bom preoparo físico: Nesta e Inzaghi. Nesta até que se avizinha ao suficiente, mas Inzaghi, visivelmente fora de forma (só jogou 900 minutos nesta temporada, contra 2100 de Sheva e 1270 de Tomasson), têm perdido muitos gols. Mas tudo indica que entrará em forma na reta final. Pelo menos é o que esperam os preparadores do time.

O biorritmo do time mostra uma grande regularidade, e depois da partida desta quarta, em La Coruña, poderá respirar mais aliviado. Deixar Inzaghi, Nesta, Kaladze em 100%, e recuperar Shevchenko, Kaká e Rui Costa (cansados neste fim de semana), são objetivos possíveis e vtais. Isso acontecendo, é um time com poucos rivais para olhar de igual para igual.
Calcio em crise; Roma vendida?

A água bateu na bunda. O projeto “Salvacalcio” não vai ser aprovado, e as equipes que têm megadébitos (encabeçadas pela Roma) já se deram conta de que vão ter de se desfazer de seus craques. A certeza veio depois que o ministro do trabalho, Roberto Maroni, disse que “o governo não pode fechar os olhos, mas abri-los bem”, adicionando que deve-se aplicar aos clubes de futebol a “mesmíssima rigidez fiscal que se aplica a todo o resto da sociedade”.

Ponto final. Não tem mais volta. Tanto é que, o presidente da Roma, Franco Sensi, num gesto inimaginável para a cartolagem brasileira, vendeu 49% de suas empresas petrolíferas, de família, para a Capitalia, maior credor do clube (PS: e cujo Conselho é presidido por Franco Carraro, presidente da federação italiana). Assim, Sensi pode sanear as finanças romanistas e passar adiante o clube.

O gesto foi de uma decência incomum, e ao que tudo indica, de um apego caloroso ao clube por parte de Sensi. A Roma voltou a ser um bom ativo para ser comprado, mesmo que ainda tenha dívidas comprometedoras. A operação foi a seguinte: A Capitália deu à Roma dinheiro vivo suficiente para conseguir a inscrição na temporada seguinte da UEFA (mais ou menos € 40 milhões).

A Capitalia passa a ser dona de 49% da Italpetrolio (que pertence à família Sensi), e a Italpetrolio passa a ser acionista majoritária (cerca de 95%) do time de futebol. A Roma 2000, pessoa jurídica que controlava a Roma, fica somente com 5% das ações. O que é de se perguntar é se os débitos ficam para a nova ou para a velha empresa.

Por sua vez, a vivaldina Capitalia procura um comprador para a Roma (em cuja negociação deve levar uma boa grana), que deve ser um empresário romano (ou um grupo deles). Se assim for, não haverá necessidade de venda de grandes jogadores, mas Franco Sensi passa a ser carta fora do baralho, ou, na melhor das hipóteses, peça figurativa.

A situação da Lazio é um pouco menos grave, mas mais complicada. Os últimos dois anos sanearam bastante as finanças do clube, só que não há um mecenas disposto a adquiri-la. Indispensável para a Lazio é vender bem seus jogadores mais caros e de salários altos, investindo em promessas. A licença UEFA deve ser obtida depois do aumento de capital da empresa, aprovado na semana retrasada.

Ele vai parar?

Assim com o rockstar inglês Ozzy Osbourne, ele também já ameaçou parar com o futebol em mais de uma oportunidade. Só que desta vez, segundo o próprio, “é para valer”. Roberto Baggio, o futebolista italiano mais talentoso e genial de sua geração, promete que pendura as chuteiras ao final desta temporada.

O anúncio é sério para a Itália, que como sabemos, são deveras sentimentais. Mesmo que não o fossem, há mesmo razão para consternação quando o quinto maior goleador de todos os tempos da Série A (somente Silvio Piola, Gunnar Nordahl, Giuseppe Meazza e José Altafini estão à sua frente). E olha que Meazza e Altafini, empatados em terceiro com 216 gols, estão só a 13 tentos à frente do craque veterano.

Baggio foi o tipo de jogador que, nessas 203 conversões (só na Série A), fez gols de todas as maneiras. Foram 82 gols com o pé direito, 25 com o pé esquerdo, 68 cobrando pênaltis (recorde absoluto, com a melhor marca percentual da história – quase 90% de acerto), 19 em cobranças de falta e somente seis gols de cabeça. O internauta atento deve notar que a soma dá 200, o que faz supor que, três dos 203 gols de Baggio na Série A são “inclassificáveis” dentro dos critérios adotados (de “barriga”, de “queixo, etc). Adicionando também os gols convertidos na Copa Itália, Copas Européias, e Seleção Italiana, Baggio chega à marca de 302 gols válidos por uma competição oficial.

O craque pode até mesmo ter decidido parar, mas há uma boa chance do “Codino” estar tentando manipular a opinião pública para que Trapattoni o leve à Euro 2004. Um amistoso contra a Espanha é praticamente certo, e se Baggio fizer chover, como não raro, imagine se o velho ‘Trap’ vai conseguir segurar a pressão da massa.

Baggio ainda tem futebol para pelo menos mais uns dois anos, caso não sofra nenhuma contusão grave, Seu futebol, desde que chegou ao Brescia, há quatro temporadas, não piorou em nada. É bem possível que nesta temporada, Roberto faça o seu recorde de gols pelo clube lombardo). Logo, sem comparações toscas com craques da mesma idade, mas sem o mesmo futebol. Tomara que, como Ozzy Osbourne, Baggio também só esteja fazendo um charminho, O futebol precisa dele dentro de campo.

Curtas

Os dados sobre os gols de Baggio em sua carreira foram tirados, em parte, de uma excelente pesquisa da Gazzetta Dello Sport.

Novamente igualado o recorde da temporada de gols numa única rodada

Com os 32 gols do fim de semana, a média da 28a rodada foi de 3,55 gols por jogo e elevou a média da temporada para 2,65, praticamente um décimo maior do que a da temporada passada

Esta temporada também tem uma média maior de cartões vermelhos e amarelos, em relação à precedente

Curiosamente, tem menos pênaltis concedidos, com somente 82 dados até agora

O Ancona segue batendo recordes…negativos

Com a derrota para a Samp, o time anconetano conseguiu a proeza de estar rebaixado a seis rodadas do fim, fato que só o Brescia tinha atingido, em 1995 (depois da introdução dos três pontos por partida)

Neste fim de semana, o mediano Massimo Ambrosini chegou a 200 partidas com a malha do Milan, mas mais uma vez, saiu contundido

Andy Van der Meyde deve ser o enésimo bom jogador que a Inter vai vender, depois de sub-utilizar

A Ájax, da Holanda, antigo clube de Van Der Meyde, já confirmou interesse

Esta é a seleção Trivela desta rodada, no campeonato Italiano

Balli (Empoli); Diana (Sampdoria), Samuel (Roma), C. Zenoni (Sampdoria) e César (Lazio); Cozza (Reggina), Emerson (Roma), Stankovic (Inter); Fava Passaro (Udinese), Gilardino (Parma) e Iaquinta (Udinese)

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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