Se a 18a rodada do Italiano não foi perfeita para o Milan, foi quase. Além de se desvencilhar de um incômodo Bologna, em viagem, o time lombardo pôde respirar um pouco mais aliviado com uma derrota da Roma que, não somente aumenta a diferença entre os dois times para cinco pontos, como também é um claro indicador de que o time da capital enfrenta uma crise física e técnica.
A Roma teve um mês de janeiro absolutamente deprimente, colhendo seis pontos, e perdendo oito em relação ao Milan (que a bateu incontestavelmente em três confrontos diretos). O técnico Fabio Capello está preocupado porque o elenco caiu vistosamente de produção, Totti não é mais suficiente para fazer a diferença, e o calendário reserva justamente a Juventus na próxima rodada, numa partida em que a Roma tem, obrigatoriamente, de mostrar que a crise é passageira.
Ainda que lentamente, quem se arrasta para fora de uma outra crise é justamente a Juventus, que teve seu momento pior no fim de dezembro. O time de Turim não brilha, joga com dificuldade, e tem nomes-chave (Nedved, Trezeguet, Del Piero) fora da melhor forma. Mas este é o segredo da Juve: fazer pontos, mesmo jogando mal, como aconteceu contra o Chievo.
A vitória milanista veio num momento delicado. Revezando jogadores, Carlo Ancelotti conseguiu dar um descanso para todos os seus principais titulares (exceto Shevchenko), sem perder nenhum ponto, jogando duas vezes na mesma semana contra adversários hostis (Siena e Bologna). Fevereiro reserva um calendário pesado para os rubro-negros, e é o mês em que o time vai dar uma mostra de seu fôlego.
“Então quer dizer que o Milan é o favorito?”. Calma lá. O Milan é líder, é verdade, e tem uma consistente vantagem de cinco pontos. Mas hoje, assim como há um mês, quando a Roma liderava, o torneio está abertíssimo. A Roma tem chances sim de voltar à forma de quarenta dias atrás (embora seja uma missão difícil), e a Juventus deve, salvo acidentes, voltar à sua forma máxima em questão de algumas rodadas. Na verdade, vence o campeonato o time que ficar por menos tempo patinando nesta ‘crise de janeiro’, que atinge todos.
Mesmo com a parada completamente aberta, os milanistas têm razões para estarem esperançosos: dizimam recordes (em 18 rodadas, o desempenho do Milan é um dos melhores da história da Série A), dispõem de alternativas táticas diversas, e ainda têm jogadores que não atingiram seu ápice físico, como Filippo Inzaghi, Kaladze, Serginho e o próprio Cafu. Ancelotti conta com isso para sua cartada final, até porque sabe que Sheva e Kaká não devem manter o atual ritmo assombroso até maio. Se o fizerem, entram para a história, definitivamente.
Tomasson: o reserva de luxo
Se Jon Dahl Tomasson fosse analisado pela crônica brasileira, tiraria zero. Não é técnico como Kaká, não tem a velocidade de Ronaldo, não tem o controle de bola de Denílson ou Robinho, nem a improvisação de Alex ou Ronaldo Assis. E sem isso, no Brasil, se trata de um perna-de-pau.
Mas quem o viu jogar pelo menos uma vez, não fica com essa impressão. E certamente, Carlo Ancelotti, técnico do Milan, também não. Tomasson é, hoje, o jogador mais importante taticamente para o técnico de Reggiolo, pela sua versatilidade. Sem Tomasson, é provável que o Milan não estivesse na liderança.
O dinamarquês de Copenhague apareceu para o futebol na Holanda, jogando pelo Heerenveen. Depois de três temporadas e 37 gols, Tomasson foi contratado pelo Newcastle, onde fracassou retumbantemente. Mal escalado pelo então técnico dos “Magpies”, Kenny Dalglish (hoje, não coincidentemente, desempregado), Tomasson jogava como centroavante puro, ao lado de Asprilla e Ketsbaia. Sem força física nem velocidade para tanto, foi considerado a pior contratação do ano, e re-expedido para a Holanda, só que para Rotterdam, onde aportou no Feyenoord.
Lá, deixou claro que o problema não era ele. Em quatro temporadas, levantou um título de campeão holandês e uma Copa da UEFA, na qual desclassificou a Inter de Milão na semifinal e foi o melhor em campo na final contra o Borussia Dortmund, sempre jogando como pivô para o centroavante Van Hooijdonk. Depois disso, a transferência a custo zero para o Milan.
No Milan, Ancelotti o utilizou a conta-gotas na temporada passada. Durante o ano, concluiu que “Tommy” não deveria jogar como homem de área, e sim como segundo homem, dando referência para um centroavante (Sheva ou Inzaghi), propiciando tabelas, e dando assistências. Exatamente como joga na seleção dinamarquesa (com Ebbe Sand).
Se Tomasson não tem um controle de bola excelente, nem uma técnica refinada, sabe tocar a bola de primeira, o que lhe dá grande vantagem quando recebe-e-toca para a infiltração do atacante. Maior fisicamente, protege bem a bola. E tem seu forte na inteligência tática, capaz de se agregar ao meio-campo quando o time está sem a bola, reforçando a marcação.
Nesta temporada, Tomasson já fez 12 gols, mas quase todas entrando como substituto. Com o dinamarquês no elenco, as opções táticas para o ataque se multiplicam. É um jogador e tanto, ainda que não tenha a habilidade de um Robinho. Quando nós, brasileiros, conseguimos compreender que há muitas maneiras de se jogar bem futebol, talvez as derrotas que sofremos não precisem tanto de bodes expiatórios. Elas fazem parte do jogo.
Lazio, ave César
Ninguém presta atenção porque a Lazio não tem uma campanha onipotente como a do Milan. Mas o time de Formello tem no brasileiro César, cada vez mais, um jogador indispensável. Nestes dias de marketing, onde qualquer um pode valer trinta milhões porque tem um bom agente, César é a grata exceção.
Confesso que não pus muita fé em César quando ele deixou o São Caetano. Como lateral bem à brasileira, a noção de marcação de César é a mesma de Robinho. Ou quase isso. E seguramente, numa linha defensiva de quatro jogadores, o paulistano que tem uma estória de vida bem emocionante (já cumpriu pena), fracassaria.
A sorte de César é que Roberto Mancini viu o óbvio: seu lugar não era defendendo, mas como cursor esquerdo para as ações ofensivas da Lazio. Na gestão Mancini, César jogou a primeira temporada no meio-campo e foi um dos pontos fortes do time que se classificou para a Liga dos Campeões. Neste ano, César até melhorou a marcação e começou a atuar na defesa, mas se contundiu e ficou vários meses parado.
Quando perdeu César, o técnico Mancini pôs as mãos na cabeça, porque sabia que não tinha alternativas. Para a defesa, até tinha. Embora tivesse perdido Pancaro para o Milan, a Lazio conta com Massimo Oddo, marcador discretamente eficiente. Mas o meio-campo e as jogadas de linha de fundo pela esquerda estavam encerradas.
No período sem o brasileiro, a Lazio fez bem pouco além de patinar e, de vez em quando, aprontar alguma surpresa (como para cima da Inter). Mesmo sem os elogios dos profetas do óbvio da imprensa brasileira, César faz por merecer melhor sorte na Itália. Ganhou em consciência tática, marcação e disciplina, mas não perdeu sua habilidade. É um jogador que pode fazer carreira em Roma, se não der ouvidos a propostas mirabolantes de empresários.
Juventus faz manobra arriscada
Mesmo com as apresentações opacas das últimas semanas, a renovação de contrato do centroavante Trezeguet (praticamente fechada) selou a última possibilidade de novas contratações. O técnico Marcello Lippi decidiu que, mesmo tendo cedido quatro atletas na abertura da janela de transferências, vai até maio com o grupo que tem.
Lippi é competentíssimo, não resta dúvida, mas fez uma aposta arriscada. O atual elenco da Juve tem 22 atletas, inclusos os três goleiros. O número está no limite do suficiente para um grupo que terá compromissos de campeonato, Liga dos Campeões e Copa Itália.
Além da quantidade, Lippi perdeu também qualidade. É verdade que Davids não jogava com freqüência, em função de seu braço-de-ferro com a diretoria, para não renovar o seu contrato. Mas o fato é que Davids é, simplesmente, o melhor do mundo sem sua posição, e esta perda é sensível.
No campo “quantidade”, Lippi perdeu o zagueiro Fresi (foi para o Perugia), o meia Olivera (Atlético Madrid) e Zalayeta (Perugia). Ok, nenhum desses nomes deve ganhar a Bola de Ouro em dezembro, mas certamente davam um respiro ao técnico quando seus titulares se machucavam. Um exemplo? Pela LC, contra O Manchester, no ano passado (também em fevereiro), Lippi perdeu 11 jogadores derrubados por um vírus gripal. Uma repetição deste episódio poderia ter conseqüências desastrosas com um elenco tão curto.
Na verdade, Lippi teve uma boa campanha de reforços em junho e não é técnico de sair pedindo contratações. Precisa recuperar a boa forma de Legrottaglie (que sofre há meses com uma pubalgia), Del Piero (opaco desde sua contusão muscular em outubro), Tudor (contundido há anos, sempre se recuperando mal). Resolver esta temporada complicada sem choramingar por reforços é questão de honra para Lippi. É mesmo uma missão duríssima, que precisa de competência e sorte.
A média de gols por minuto de Tomasson nesta temporada é excelente
1 gol a cada 134 minutos jogados
O zagueiro Valério Bertotto completou 250 partidas com a camisa da Udinese pela Série A
Bertotto já é o recordista em participações na divisão máxima pelo clube do Friuli
Apesar de não ter tantos gols quanto Shevchenko, o brasileiro Adriano tem média gols/partida melhor do que a do ucraniano
0,91 tentos por partida
O zagueiro interista, Marco Materazzi, deu um murro na cara do senese Bruno Cirillo dentro do túnel que leva ao campo, na saída de Inter 4 x 0 Siena
O novo presidente da Inter, Giacinto Facchetti, já anunciou “punição severa”
Esta é a seleção Trivela desta semana
Sicignano (Lecce); Nesta (Milan), Stam (Lazio) e Cristiano Zenoni (Sampdoria); Pecchia (Bologna), Pirlo (Milan), Di Biagio (Brescia), Camoranesi (Juventus) e Kaká (Milan); Recoba (Inter) e Gilardino (Parma)