Pouca gente dá atenção aqui no Brasil, mas o fantasma do doping segue bem vivo na Itália. Não bastasse as suspensões de Kallon (Inter) e Gheddafi (3 meses, mas provavelmente sua brilhante carreira se encerrou), mais Blasi (Parma), a Itália assiste a continuação de um inquérito que ainda é resultado das denúncias de Zdenek Zeman em 1999. A maior acusada: a poderosa Juventus.
Há quem diga que a derrocada do treinador, hoje no Avellino, se deveu ao ódio mortal que Luciano Moggi, dirigente juventino, passou a alimentar por Zeman depois das denúncias. Ainda que lentamente, os interrogatórios prosseguem. Nesta segunda, falaram Filippo Inzaghi (hoje no Milan) e Paolo Montero.
O depoimento de Montero não teve maior repercussão, mas o de Inzaghi sim. O atacante do Milan disse que os médicos da Juventus davam freqüentemente creatina, antiinflamatórios e analgésicos durante os jogos, especialmente quando ele estava cansado. Legalmente, a creatina não é proibida, mas ficou um clima esquisito no ar.
A Juve já vem se defendendo, dizendo que os fármacos que ela ministra aos jogadores são usados por todos os times. Esta afirmação talvez seja sintomática. Não são poucos os médicos que, fora das câmeras e microfones, dizem que TODOS os atletas de alto nível usam algum tipo de dopagem, mais ou menos agressiva.
A realidade é que esta sensação é cada vez mais concreta. O ex-tenista John McEnroe admitiu nesta semana que ele consumiu doping, fortíssimo, durante seis anos. McEnroe diz que não sabia. Mas o fato é que sua carreira foi grandiosa. Até onde o doping foi o causador de tal performance?
Parece nítido que só há uma saída para se diminuir a praga do doping no futebol: fazer com que as equipes sofram pesadas multas financeiras e percam pontos, além de apertar o cerco dos exames. É certo que muitos jogadores perderão um pouco de fôlego, mas pelo menos, se devolverá um pouco de lisura às partidas.
Roma sob intensa pressão
Não é só na tabela que a líder Roma está sob intensa pressão. Com o Milan no seu encalço (três pontos e um jogo a menos) e a Juventus logo atrás, o time de Fabio Capello não terá a conquista antecipada no título de inverno, como se previa.
Além disso, o próprio Capello passou a ser um alvo dentro da Roma. O Chelsea fez uma oferta de 500 mil euros por mês, num contrato de três anos, para que o técnico se transfira para Stamford Bridge ao final desta temporada. Capello declinou de responder se aceitaria o convite, quando questionado pela imprensa, e sorriu. “Só penso no tridente de meu time…”
A decisão de Capello está ligada à confirmação de todos os grandes astros do time romanista, inclusive aqueles que desejam um aumento salarial ou uma renovação de contrato. Nessa situação, se encontram os meio-campistas Emerson e Lima e o zagueiro central Zebina.
Emerson é a renovação mais complicada. Primeiro, porque, assim como Capello, também tem atrás de si o hexa-maxi-multi-milionário time do Chelsea, que poderia satisfazer as suas pretensões salariais (cerca de US$ 4,5 milhões anuais). Segundo, porque a Roma sofrerá muito para recusar a oferta de US$ 35 milhões pelo seu passe, especialmente em meio à crise que atravessa, ainda que não assumidamente.
Lima e Zebina terão seus contratos terminados em junho, e por isso, têm diversos pretendentes aos seus serviços (especialmente o francês). O nó aqui é que os dois querem um acréscimo salarial e um contrato mais longo do que a Roma está disposta a dar. O clube de Trigoria não quer nem gastar mais nem conceder vínculos longos.
Sem a renovação dos três, dificilmente Capello fica depois de junho, a menos que vença o ‘scudetto’, o que muda tudo de figura. O treinador obviamente está seduzido pela proposta salarial, mas o que mais chama a sua atenção é a possibilidade de ter os jogadores que quiser em Londres.
Além dessas questões, a Roma terá de se desdobrar para pagar os US$ 18 milhões que deve ao Ajax, pelo passe de Christian Chivu. O romeno quer fortemente ficar em Roma, mas sem grana, um abraço. Isso sem falar que pelo menos meia dúzia de outros clubes estão prontinhos para desembolsar a soma ao time da Holanda e afanar o bom defensor do clube romano.
Davids-Juve: caso terminado
Após seis temporadas de união, duas delas de brigas declaradas, episódios de doping, expulsões, três títulos italianos e muitas partidas excepcionalmente bem jogadas, chegou ao fim a relação entre o meio-campista Edgar Davids e a Juventus. O holandês, que tem contrato com o time de Via Galileo Ferraris até junho próximo, acertou sua transferência para o Barcelona por empréstimo até o fim desta temporada.
Davids é o sexto holandês do elenco de Frank Rijkaard, e a colônia batava da Catalunha foi um dos motivos que despertaram o interesse do jogador. Sua contratação teve o apoio de todos eles, além do ex-craque Johan Cruyff, cuja voz ainda ressoa muito no clube. O Barça deve pagar cerca de US$ 1,5 milhões para o jogador pelos seis meses.
A saída de Davids da Juventus é, sem dúvida, um handicap para Marcello Lippi, treinador do time de Turim. Davids, de 31 anos, é um dos melhores jogadores do mundo na sua posição, se não o melhor. É um marcador implacável que dificilmente é expulso por faltas desleais, mas tem um futebol refinadíssimo, e proporciona ao time em que joga uma rapidez precisa, onde a jogada ofensiva começa bem pensada logo na frente da defesa.
É verdade que a Juventus tem jogadores também bons para a posição. Stephan Appiah, volante ganês de 23 anos, Enzo Maresca, mediano italiano da mesma idade, e ainda o veterano Antonio Conte, de 35 anos, são bons jogadores e certamente conseguem boas performances. Mas nenhum deles pode impingir a agressividade aliada à qualidade técnica que Davids garantia.
Davids aportou em Turim em 1997, desprezado pelo Milan, então dirigido por Fabio Capello. Sua adaptação foi imediata, e se tornou titular quase imediatamente. Nos seis anos que passou em Turim, o holandês, nascido em Paramaribo, no Suriname, só não foi titular durante sua suspensão por doping e nos últimos meses, enquanto se digladiava com a direção juventina, que não admitia perde-lo a custo zero.
O Barcelona deve ter um salto de qualidade com a chegada de Davids ao seu desmilingüido meio-campo. Rijkaard, a partir de agora, terá um organizador melhor do que todos que tem no elenco, e ao mesmo tempo, um marcador mais eficiente também do que todos os concorrentes. Não é o suficiente para fazer do Barça um competidor pelo título, mas já deve bastar para encerrar a fase de vexames.
Inter, babau…
Várias semanas atrás, quando Hector Cúper foi demitido da Inter, esta coluna arriscou-se em dizer que o clube de Via Durini estava saindo da luta pelo título. Pelo menos era o que a história mostrava, e que times que demitem treinadores não conquistam campeonatos.
Quase no final do primeiro turno, a história vai se mostrando um indicador confiável. Com oito pontos a menos que a líder Roma, a Inter parece não ter de onde tirar forças para conseguir uma longa série de vitórias que lhe possibilite chegar à 34a rodada em primeiro lugar.
A derrota do time de Alberto Zaccheroni para o Parma deixou claro como a Inter vive de estrelas intermitentes. “Oba” Martins, decantado semanas atrás como se fosse um gênio do futebol, é inconstante; Vieri tem sido inconstante nesta temporada; Julio Cruz é inconstante. O único setor constante do time é o meio-campo. Nunca é de bom nível.
O problema crônico da equipe parece continuar com a falta de jogadores que possam dar qualidade ao passe e às jogadas ofensivas. Entre todos os doze atletas de meio-campo disponíveis no elenco, não há nenhum que transforme a cara da equipe. Mais assustador ainda é saber que jogadores que não rendiam nada na Inter (como o milanista Seedorf, o parmigiano Morfeo e o também milanista Pirlo), são titulares indiscutíveis em seus times. Essa observação faz supor problemas na preparação atlética da equipe.
Mesmo tendo ótimos zagueiros como Gamarra, Cannavaro, Córdoba e Adani, a Inter mais uma vez demonstra a sua falta de critério. Além de Dejan Stankovic, Massimo Moratti quer levar para Appiano Gentile o talmbém laziale Jaap Stam. Stam é um gigante; um dos cinco melhores zagueiros da Europa. Contudo, já ficou claro que o problema interista não é a individualidade, mas o coletivo.
A chegada de Stam quase que certamente empurrará um dos zagueiros interistas para fora do elenco (Adani e Gamarra na primeira fila). Stankovic é um excelente jogador, mas não é melhor do que os tantos nomes que a Inter já mandou embora por insuficiência técnica. Matematicamente, é claro que a Inter ainda está na parada. Pena, para os ‘nerazzurri’, que a matemática não seja a única a decidir o torneio.
Curtas
Não é difícil ver como os dirigentes do Perugia sejam absolutamente pouco sérios
Depois de terem guiado a virada de mesa na Série B (são também ‘capos’ do Catania), contratado o filho de Gheddafi para jogar bola, e terem (realmente!) tentado contratar uma jogadora, o presidente do clube deu mais uma das suas
Segundo Luciano Gaucci, Kaká deveria ter ido para o Perugia, com a ajuda do “craque” líbio Ghedaffinho
Seção curiosidade estatística
Dos nove jogadores que mais atuaram no Italiano até a 16a rodada, somente o argentino Sensini não é italiano
Sensini divide a terceira posição com o goleiro De Sanctis (Udinese)
Á sua frente estão o meio-campista Tonetto (Lecce) e o goleiro Antonioli (Sampdoria)
A Série A desta temporada mantém uma boa média de gols por partida: 2,61
42% dos jogos acabaram com a vitória dos donos da casa, e em somente 28% das partidas, o visitante recolheu três pontos
O Milan segue líder de público no campeonato
É o primeiro tanto em ocupação média de seus jogos (73%), quanto em público médio absoluto (62853 pessoas por jogo)
Luciano, o único jogador que, além de ser ex-de um clube (ex-Palmeiras, ex-Bologna, ex-Chievo), é ex-seu próprio nome (ex-Eriberto), acertou sua volta ao Chievo Verona
O chileno Cláudio Pizarro renovou contrato com a Udinese até 2007
O Ancona, que perdeu nas últimas seis rodadas, tem uma média de 0,25 pontos por partida
Só não cai por milagre
E esta é a seleção Trivela do Campeonato Italiano nesta semana
Frey (Parma); Mancini (Roma), Cufré (Siena), Montero (Juventus) e Maldini (Milan) ;Di Biagio (Brescia), Emerson (Roma), Kaká (Milan e Obodo (Perugia); Chiesa (Siena) e Ventola (Siena)