Do que falaremos

Esta página se propõe a falar sobre a primeira divisão do campeonato italiano. Mas o Italiano é tão difícil, que vale um comentário até para a Segunda divisão. Este ano, especialmente difícil, tal é o número de equipes tradicionais que disputam a série B. Nada mais nada menos do que sete times são ‘habituées’ da série A .Napoli, Torino, Atalanta, Brescia, Genoa Verona e Lecce, lutarão arduamente neste ano por uma das duas vagas (eram quatro) para a divisão de elite.

Inúmeros treinadores e jogadores que poderiam tranqüilamente participar da Série A estão na Segunda divisão, como Shalimov, Bellucci, Crippa, Scienza Lentini e Hubner. A luta será acirrada, mas antes do campeonato começar, Napoli, Torino, Atalanta e Brescia surgem como favoritos para disputar as duas vagas.

A grande diferença entre o Brasil e a Itália começa aí. Como o regulamento é sério, os times nem cogitam mudanças de última hora. Assim, são capazes de fazer uma Segunda divisão interessante, que é exibida na TV, com muitos jogadores famosos e públicos razoáveis. Criam uma expectativa em cima de uma coisa ‘negativa’, que é o rebaixamento. Enquanto não se fizer o mesmo aqui, estamos condenados às falcatruas de doenças como Eurico Miranda.

A Itália segue em sua expectativa sobre a sua ‘nova’ seleção, sob o comando de Dino Zoff. O treinador, que foi escolhido porque o preferido da Itália, Marcello Lippi, tem um contrato de um ano a cumprir com a Juventus de Turim. Zoff foi protagonista do “desastre do Sarriá”, na Copa da Espanha quando a Itália desclassificou o Brasil de Zico e Sócrates com três gols de Paolo Rossi. Seu currículo como técnico é bom, e ele tem o respeito dos jogadores.
Zoff afirma que deve adotar um 4-4-2, com marcação por zona, de início(para não enfraquecer a defesa) Mas deixa claro que pode mudar o esquema com o entrosamento que virá com o tempo. Como técnico, costuma aproveitar os talentos dos jogadores, e não adaptá-los a esquemas.
Uma das tarefas de Dino será restituir a confiança a Del Piero, fragilizado pelo apático desempenho na Copa, e pelas acusações recentes de doping. Ele deverá fazer a dupla de ataque com Vieri, artilheiro nato, rompedor e muito forte fisicamente. Terá no banco o talento esplendoroso do rejuvenescido Roberto Baggio e do jovem Filippo Inzaghi. Dificilmente o treinador atenderá os pedidos da Itália, para escalar um trio Del Piero – Vieri e Baggio, pelo menos não no início de seus trabalhos.

Entre os ausentes, Pagliuca e Costacurta podem ter deixado a ‘maglia’ azul. Mas creio Ter sido uma decisão acertada. Costacurta não é mais o mesmo zagueiro de outros tempos, e Pagliuca já é razoavelmente idoso para ser reserva. Porque o titular absoluto é Peruzzi, da Juve, fantástico.

O meio campo deve ser mais versátil do que o de Maldini, com jogadores mais hábeis. Albertini, Di Francesco, Fuser…nomes excelentes não faltam. E a defesa, normalmente bem servida de nomes, mantém a tradição. Zoff trouxe de volta o bom lateral-direito Panucci, do Real Madrid, que saiu da seleção pela miopia dos dois últimos treinadores. Na zaga, Cannavaro e Iuliano devem ser os titulares do primeiro jogo (contra Gales), porque quando estiverem recuperados de confusão, a maior probabilidade recai sobre Nesta (Lazio) e Ferrara (Juve). A mesma coisa na lateral, que não terá Paolo Maldini (titular absoluto) por problemas físicos. O nome deve ser Michele Serena. Outro fator importante da convocação é a renovação. Seis nomes (Bachini, Di Francesco, Fresi, Giannicheda, Iuliano e Serena) nunca tinham sido convocados. Boa para o futebol essa renovação

E no último Sábado, essa renovada Itália acima enfrentou o País de Gales em seu primeiro jogo pelas eliminatórias da Eurocopa 2000, que acontecerá na Holanda e na Bélgica. Um adversário fraco, é verdade, mas o fato de jogar com o apoio de sua torcida, mesmo sendo o jogo realizado em Liverpool, mais uma disposição imensa e alguns bons jogadores (como Ryan Giggs, do Manchester United), fizeram de Gales um time ‘hard to beat’.
De fato, o jogo não foi bonito, pois Gales visivelmente queria um empate, e se armou com um 5-4-1. A Itália, apesar de ter bons jogadores em profusão, ainda foi um time desentrosado. As surpresas da escalação ficaram por conta de Pessotto no lugar que seria de Serena, e Di Francesco no lugar de Di Biagio. E este último acabaria sendo um dos destaques da partida, com muita consciência tática e determinação. Além dele, Roberto Baggio, que entrou com 25 min do segundo tempo, mostrou que é um monstro. Em sua primeira jogada, deixou Vieri na boca da área, para fazer ainda um lindo drible antes de marcar um golaço e fechar o placar em 2×0. Negativamente, achei más as atuações de Pessotto (improvisado na esquerda); Iuliano (cometendo muitas faltas) e Del Piero, nitidamente intranquilo.
A Itália mostra ainda um futebol muito burocrático, típico de um início de trabalho. Se fazem urgentes as voltas de Maldini (no lugar de Pessotto) e Ferrara (no lugar de Iuliano). Cannavaro se saiu impecável substituindo Nesta, e Roberto Baggio cada vez mais empurra Del Piero para o banco.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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