O último condenado

Duas semanas depois dos veredictos que já tinham sentenciado Brescia e Atalanta à Série B na temporada que vem, finalmente a Itália decide que a Emilia Romagna perde o Bologna mas salva o Parma. Em dois jogos, ambos times venceram na casa do adversário, mas o time do Ennio Tardini teve a seu favor uma diferença maior de gols. Há conseqüências? Claro.

O ano futebolístico que apenas se encerrou foi muito positivo para o Parma. Talvez seja estranho pensarmos que um time que estava disputando o título seis temporadas atrás possa comemorar uma fuga do rebaixamento no desempate. Contudo, se levarmos em consideração que a extinção do Parma era uma possibilidade real em julho último, não cair é quase um ‘scudetto’ na vida parmigiana.

Não é somente o afluxo financeiro que serve para o Parma festejar. Muitos dos contratos de publicidade e afins seriam cancelados caso o clube fosse para a Série B. Depois de um ano de incerteza, várias fontes de recursos como a publicidade da camisa, gestão de pontos de venda no estádio e preço de ingressos estão assegurados em valores – no mínimo – iguais para o próximo ano.

Talvez pareça pouco num primeiro momento, porque afinal, todo ano os clubes que caem enfrentam a mesma situação. O drama do Parma está ligado ao fato de que não se sabe como o clube enfrentaria o rebaixamento no médio prazo. Com um montante de dívidas ainda importante para solucionar, não é irreal pensar que o Parma pudesse se afundar nas divisões inferiores e não se recuperar mais, caso caísse.

Felizmente para a torcida parmigiana, isso não aconteceu. Porém, um preço há de ser pago. Se trata da cessão do atacante Gilardino. Seu destino é quase que certamente o Milan. Ainda há rumores de sondagens de Real Madrid e Roma pelo seu passe, mas o primeiro tem outras opções para buscar mais um nome de peso, e a Roma não tem caixa para um reforço de tal medida.

E no Bologna, o fronte do rebaixado, um quadro bastante óbvio. O técnico Carlo Mazzone não terá seu contrato renovado (tal decisão já tinha sido tomada há semanas) e vários jogadores devem ser cedidos (o defensor Gamberini, o volante Loviso, o meia Meghni, o ala Nervo e o atacante Rossini são os que têm mais mercado). As próximas semanas mostrarão se a diretoria vai encarar a Série B com vontade ou resignação.

Inter: prêmio de consolação com tempero

2005 teve a morte do papa. 1978 também. 2005 teve a Juventus campeã. 1978 também. 2005 teve a Inter campeã. 1978 também! A Cabala conspirou para dar à Internazionale uma alegriazinha. Sem graça – é verdade – pois vencer a Copa num ano que se esperava (pela milésima vez) o ‘scudetto’ tem um gosto meio amargo. Mas as derrotas do Milan (que acabou de mãos abanando) na Copa e campeonato fizeram com que esta Copa tivesse até um sabor aceitável.

Paradoxalmente, a Roma teve um prêmio maior pelo vice do que a Inter. Isso porque a Inter já estava classificada para a Liga dos Campeões, e a Roma herdou uma vaga na Copa UEFA que não teria pela sua classificação no campeonato. Em dois jogos a Inter foi sempre melhor,

Mais uma vez, a Inter deve olhar para sua temporada seguinte com um olhar mais esperançoso que realista. Sim, a Inter tem um bom técnico, tem um bom elenco e deve fazer pelo menos uma contratação vultosa. Se isso não acontecesse todo ano, talvez o torcedor ‘nerazzurro’ pudesse ficar mais cheio de esperanças.

Misteriosamente, nenhum nome “top” está sendo ligado ao clube de Appiano Gentile com consistência. Claro, a Inter sempre surge como “interessada” na maioria das transações porque é um clube que gasta muito e mal, e logo, poderia comprar qualquer um.

É no capítulo ‘cessões’ que o time de Adriano deve fazer moviumentos importantes nas próximas semanas. Pelo menos dois atacantes devem sair (com Vieri encabeçando a lista), assim como os meio-campistas Davids, Emre e Cristiano Zanetti e talvez o goleiro Toldo. Anote quem sair, pois provavelmente você vai vê-los brilhar na temporada que vem.

Roma decide: Cassano à venda

Ao que parece, a decisão é irreversível. Ao oferecer uma renovação de contrato para Totti, a Roma também assinou a decisão de ceder seu ‘youngster’ mais valioso. Antonio Cassano, pugliese de Bari Vecchia, tem seu contrato com a equipe romanista se encerrando em junho de 2006, e como não pode renovar o vínculo com o jogador, a Roma não quer perdê-lo a custo zero.

A decisão (ainda não oficial) já fez todo mundo pensar que, finalmente, a Juventus fosse se pronunciar pela contratação do atacante, um antigo pedido de Fabio Capello. Mas o clube de Turim já disse, por seu diretor Antonio Giraudo, que Cassano é excelente, mas a Juventus não procura nenhum reforço para o setor. Claro, a Juve pode estar despistando, mas a imprensa italiana aposta que os dois Antonios – Giraudo e Cassano – trabalharão em no mesmo clube ano que vem.

A compensação da Roma estaria na contratação de alguns nomes de menor renome, mas que poderiam fazer do time de Trigoria uma equipe competitiva para o neo-técnico Luciano Spaletti. O atacante Miccoli (cujo passe pertence à Juve e à Fiorentina) é uma boa aposta. Ainda em Turim, o volante Appiah e o zagueiro Masiello interessam.

Além dos juventinos, a Roma também olha com interesse o ala van der Meyde (que satisfaria muito o 3-5-2 de Spaletti) e também o armador chileno Pizarro e o atacante Di Michele (caso Miccoli não fosse contratado), que trabalharam com Spaletti na Udinese. Não seria a Roma do ‘scudetto’, mas dificilmente ficaria fora da classificação para a Europa.

– Perugia e Torino disputam a final dos playoffs que decidem a última vaga de acesso à Série A.

– Piemonteses favoritos, mas os peruginos são uma equipe bastante incômoda.

– O defensor dinamarquês Kroldrup foi cedido pela Udinese ao Everton.

– Excelente contratação do time de Liverpool.

– Kroldrup é um jogador versátil, que pode desempenhar funções de lateral, ala e zagueiro.

– Mais um escândalo explodiu na semana passada na Itália.

– É uma notícia que não merecia espaço nenhum, mas em todo caso…

– Um diretor do Venezia foi preso com €250 mil, e o Venezia perdeu para o Genoa na última rodada, dando a promoção ao clube da Ligúria, num jogo emocionante.

– Esta coluna se obriga a mencionar os fatos importantes, mas a Itália encontra-se possuída por uma crise de confiança sem precedentes.

– Mais cedo ou mais tarde, uma intervenção legal no futebol italiano se fará indispensável.

– Ou melhor, já faz.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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