Adeus a Zeman e a Roma está mais pobre

Não era difícil imaginar que quando Zdenek Zeman colocou o Capitan Futuro Daniele De Rossi no banco, estava selando seu destino. Assim como o clube de Trigoria passou mais de uma década refém de Totti, agora mantém-se aprisionada pela autoridade de um jogador que é o único de seu elenco realmente cobiçado pela elite do futebol europeu. A demissão de Zeman não foi só um golpe de Estado dentro da hierarquia romanista, mas também uma exibição de força dos senadores do vestiário, aliados a um establishment não anunciado que envolve jornalistas, dirigentes e torcidas organizadas. Dificilmente a Roma conseguirá ter na sua história um outro técnico com uma proposta tão agressiva quando o tcheco.

É verdade que o razoável Osvaldo e o goleiro Stekelenburg tiveram participação no complô anti-zemaniano, mas as duas figuras são medíocres em termos de autoridade dentro da política giallorrossa. O retorno de Stekelenburg de Londres quando já tinha sido vendido para o Fulham já indicava que Zeman estava vendido no lance. A Roma entrou em campo contra o Cagliari parecendo um time de freiras e mesmo diante de um dos times mais fracos do campeonato, entregou-se como a um esquadrão. Além disso também tem o gol sofrido por Goikochea, absolutamente lamentável e provavelmente indicador de uma situação periclitante. O episódio também demonstra que a força de Totti dentro da nova política romanista já não é a mesma de sempre. Totti defendeu Zeman enquanto pode, numa atitude bastante digna de um capitão, mas a nova geração de poder no clube queria Zeman fora.

Para a Roma é uma pena. A proposta de jogo do tcheco é compatível com a dos times mais memoráveis da história. Zeman só não teve uma carreira mais cheia de títulos por causa de sua absoluta incapacidade de fazer diplomacia – algo em que os grandes técnicos italianos como Fabio Capello, Marcelo Lippi e Carlo Ancelotti são mestres. Na atual temporada, Zeman teve algum tipo de confronto com gente demais no clube – De Rossi, Osvaldo, Stekeleburg, o diretor Baldini, o brasileiro Marquinho, chefes de torcida e jornalistas. Tudo em pouco mais de seis meses.

Sim, é verdade: a Roma tem uma defesa altamente frágil, mas sempre se soube que o preço para tentar bancar a proposta zemaniana vinha com esse porém. Todos os times do tcheco colocam grande pressão tanto nos laterais quanto nos centrais, que jogam com uma linha muito alta para pressionar a posse de bola adversária desde sua saída. “Não existe um esquema de jogo perfeito. O que existe é superioridade numérica. Se um time joga com três na defesa, coloco quatro em cima deles. Se são cinco, coloco seis. O importante é acabar com o espaço”, contou Zeman à Gazzetta Dello Sport numa memorável matéria do jornal avaliando os conceitos táticos de vários técnicos.

 

É triste ver Zeman sem clube. A Roma deixou passar uma grande oportunidade.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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