UcraniManos e CorintiManos

Este é um post só para constar. É sobre a Seleção, uma convocação após um fracasso fantástico, etc. Só para isso. A lista de nomes de Mano Menezes reflete bastante duas coisas: a primeira, que é que com Kaká machucado e Ronaldinho Gaúcho aposentado do futebol, o Brasil não tem craques; a segunda, que num país onde se perdeu a vergonha de tudo – desde emissoras de TV fazendo coberturas viciadas até governantes corruptos enterrando dinheiro em estádios inúteis – perdeu-se também a vergonha de convocar qualquer um para a Seleção. Tendo o empresário certo, o mais inepto jogador pode chegar a defender o Brasil.

Não há meias palavras para explicar as decisões do técnico. Entre as convocações da colônia ucraniana e dos novatos brasileiros (além de alguns nem tão novatos), nada pode argumentar a favor deles.  André Santos, Ralf, Elias são, coincidentemente, “jogadores” do Corinthians ou do esquema de poder que orbita em torno do clube – são os “corintiManos”. Nenhum deles ganhou um título relevante, foi cogitado para jogar num grande clube europeu ou teve uma fase de hegemonia na posição em alguma fase da carreira. Vivem de um endomarketing introjetado em parte da imprensa e das declarações de Mano dizendo que eles são acima da média. Como disse Tostão hoje na Folha, são bons, como outros 500 que jogam no Brasil. Pegue um lateral-esquerdo a esmo entre os 10 maiores clubes brasileiros e você tem um substituto para André Santos. Simples assim. O mesmo vale para Elias, Ralf e outros futuros convocados de Mano via Parque São Jorge na atual gestão. Pelo que fizeram até hoje, estão na média, ou, como endossa o dicionário, são medíocres.

Dos outros jogadores que jogam no exterior, a escolha para a fase de testes de Mano segue a costumeira falta de timing e coerência. Luiz Gustavo e Renato Augusto tiveram momentos de muitíssimo mais destaque do que hoje – um momento no qual não se sabe quais as condições reais deles, pois estão de férias. Fernandinho, assim como todos os outros “UcraniManos”, merece tanto uma convocação quanto Marlos, Andrezinho, Wallyson ou quem quer que seja do futebol brasileiro. Nunca um clube de ponta quis contratá-lo, ele jamais comeu a bola, etc. A mesma ladainha dos  CorintiManos. E tem Dedé, zagueiro do Vasco que fez um bom Brasileiro – e coincidentemente joga num clube onde quem manda e desmanda é o empresário do técnico. Não há nenhuma prova de irregularidade, certo? Certo. Mas há um oceano de suspeitas.

A maioria dos técnicos da Seleção mantinha um certo pudor nas convocações, evitando absurdos. Mano não guarda esse tipo de cautela. Não é o primeiro. Entre os muitos exemplos, me lembro da convocação do “Craque” Zé Do Carmo, obscuro volante do Vasco, por Sebastião Lazaroni, que estava para o clube de São Januário assim como Mano está para o Parque São Jorge, quando o Vasco estava tão ao lado da CBF quanto o Corinthians está hoje. A chamada de Zé do Carmo levou o Casseta e Planeta, então somente uma revista independente carioca, a lançar uma camiseta promocional com os dizeres “Eu Não Convoquei o Zé do Carmo” para seus leitores usarem.

O problema com a gestão de Mano Menezes não é só de resultados – que são patéticos. Mano  tem uma fala empolada que agrada muita gente, mas em campo, seu time joga um futebol desinteressado, os jogadores têm um apego nulo e dão a nítida sensação de que sabem que hoje, a escalação passa longe da capacidade técnica. Até o momento, não há uma prova concreta, jurídica, de que Mano seja desonesto – que isso fique bem claro – mas ele faz questão de deixar sobre si todas as suspeitas: convoca jogadores obscuros, ligados ao seu empresário ou a parceiros, jogadores que não são sondados por nenhum clube do mundo e que não fazem nada demais, trabalha em parceria com uma gestão obscena do futebol brasileiro, etc. Além disso, Mano não dá sinais de que seja um grande técnico – não ganhou títulos, não formou jogadores em profusão, não montou estruturas duradoras, nada. Sendo assim, sem resultados, sem histórico, sem carisma, por que razão deveríamos esperar alguma coisa dessa Seleção?

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
Top