Abel e a praga dos “professores”

O título do Internacional trouxe as recordações do primeiro troféu colorado da Libertadores e com ele, o nome de Abel Braga – que aliás, foi lembrado como um dos possíveis sucessores de Ricardo Gomes no Morumbi. Me intriga esse status mítico do Abelão. 26 trocasde clube em 25 anos de carreira como técnico, cinco títulos estaduais e uma Libertadores vencida com um time ainda com as digitais de Muricy Ramalho. O que se espera de Abelão? A reencarnação de Ernst Happel?

Hoje nos Emirados Árabes, Abel é sempre lembrado como nome de técnico “top” no Brasil. Quando o Flamengo mandou Andrade embora, lá estava o nome de Abel. Fluminense sem técnico? Abel. Corinthians no pós-Mano? Abel, São Paulo? Abel. Até para a Seleção seu nome andou vindo à tona. E se Andres Sanchez menciona o nome de Mourinho enquanto procura um técnico sem que ninguém arranque-lhe o couro, porque não se falar em Abel Braga para o lugar de Josep Guardiola? A fábrica de rumores mantém sempre o técnico do Al Jazira – e muitos outros – na ponta. Mas ele não é.

Abel segue a linha máxima dos ex-boleiros que não fazem nenhum tipo de especialização porque “sabem porque já esteve la”. A clássica mentira que mantém tantos desocupados em condição de falar com autoridade de um assunto que eles conhecem pouquíssimo.

Paira sobre Abel a aura de “técnico com carreira internacional”, mas as passagens internacionais de Abelão com algum sucesso são no Famalicão e no Belenenses. Olympique de Marselha? 8 derrotas em 16 jogos e demissão em três meses e meio. A autoridade de “xerife” dá a Abel um estofo de disciplinador (assim como Antonio Lopes), mas fosse o bastante e bastava contratar um segurança de 2m10 para sentar no banco e encher de bolacha o primeiro “forgadinho”.

Durante a Copa de 2002, do alto de seu conhecimento, no fracasso da França, Abel afirmou que quem fizera falta na seleção francesa fora Robert Pires, muito mais importante do que Zidane – segundo ele. No Internacional, desmontado o time de Muricy, Abel conseguiu a proeza de ser eliminado na primeira fase da Libertadores seguinte e ficard e fora da decisão do Gaúcho – que diga-se, é a mesma coisa que chegar em terceiro num campeonato de dois.

Minha irritação não é com Abel, claro, mas com a construção de determinadas identidades em torno de alguns personagens com base nos relacionamentos pessoais. Ele não é pior do que 80% dos técnicos que estão no mercado – Geninhos, Valdires Espinoza (ou Espihnozhah, ou seja lá como ele queira grafar seu nome) e Joéis Santana, que igualmente conseguem emprego graças a um meio viciado.

Nessas, é o seu time que pode acabar sendo comandado por um cara que acha que treinar um time de futebol é gritar durante jogo e fazer pose em entrevista. E graças à parte velha da imprensa – velha, mal-instruída, amadora e incapaz – quando aparece um técnico que entende de preparação física, estatística, nutrição e tática, esse é o Professor Pardal (até porque entrevistar alguém mais inteligente do que você é BEM mais difícil do que uma anta de pantufas).

É. Esperto mesmo é o burro do Shrek.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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