O início da recuperação juventina

Não é um bom momento para falar qualquer coisa boa sobre o futebol italiano. Com os craques rumando para o exterior, times cheios de jogadores velhos e com salários altos e com somente agora voltando a dar atenção ás divisões de base (para não falar a eterna paciência com os adeptos do “rouba mas faz”, como Moggi, Galliani, Berlusconi, Preziosi ET al), a Itália merece todos os apupos que merece. Além disso, sei que Luigi Delneri não é o treinador mais apreciado no Brasil. Mesmo assim, me dou a liberdade de me animar com essa Juventus.Preâmbulo: essa não é uma Juventus à altura de sua história. Contudo, isso pode ser até um de seus méritos. A Juve não tem como fazer um time de seu tamanho. Falando com um colega inglês há quatro anos, quando ele me disse que o rebaixamento para a Série B era muito pouco para o que a Juve tinha feito, eu argumentei que a Juve levaria no mínimo cinco anos para voltar a disputar a ponta. É isso: hoje a Juve precisa ainda andar com dois pés num sapato só.

Nessa ótica, Delneri é um nome capaz de dar ao time uma identidade fiel ao futebol italiano, visando um futebol compassado, ofensivo e organizado.  O resgate do DNA do futebol faz parte do processo de reconstrução do esporte no país. Esperar mais do que isso e algumas fagulhas de brilho, seria o que os clubes brasileiros recém-promovidos sempre sonham em fazer: lutar pelo título podendo no máximo orbitar na faixa alta da tabela.

Para uma defesa sólida, falta só um lateral esquerdo, pois De Ceglie não oferece garantias. Com um bom jogador por ali, Motta, Chiellini e Bonucci devem fazer o melhor setor do Italiano, especialmente se Buffon voltar rapidamente. Delneri não força as descidas dos laterais para não sobrecarregar os medianos. Sissoko, se encerrar a eterna fase de contusões, será o interditor primário e Marchisio o regista, com o jogo realmente fluindo é pelas alas.

Outra novidade: Delneri está adiantando Diego para jogar como segundo atacante, disputando vaga com Del Piero. Creio que nessa posição o ex-santista possa vir a jogar seu melhor futebol. Diego não é talentoso o suficiente para “pensar” o jogo na mediana, mas como homem do último passe pode ser letal. Amauri e Trezeguet têm como fazer um saldo de gols de dois dígitos cada um.Felipe Melo? Pode ser uma alternativa a Sissoko, mais do que válida, mas jogando como interditor puro e sabendo de suas limitações. Caso ache que é um Davids melhorado, vai continuar dando pontapés em “Rú-bem” (como ele se refere a Arjen Robben).

Não vejo essa Juventus como um time encantador, mas depois de um tsunami, é preciso reconstruir sem ufanismos. Esse time, sem a pressão da Liga dos Campeões, pode vir a apresentar um futebol sólido e competitivo. Precisa ter paciência e não arrogância. Pode disputar o título? Sim, porque no futebol nem sempre o melhor time é campeão. Mesmo assim, sou otimista quanto à Juventus e fico feliz, porque não existe futebol italiano sem ela.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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