Esboço de 2010 no Milan

A confirmação de Massimiliano Allegri é uma boa notícia para o torcedor do Milan que quer ver o time assumir um caminho definido – o de um rejuvenescimento do elenco, aposta em jogadores novos formados na base e diminuição do custo do elenco. Para os que pretendem conquistas imediatas, contudo (e que talvez estejam em outra galáxia, dadas as temporadas recentes), é uma tragédia.

Allegri deve cumprir o segundo estágio de um plano que começa a se fazer mais claro depois de dois anos perdidos. Leonardo estava, aparentemente, desde o começo, definido para um temporada de transição, na qual títulos não estavam no planejamento. A meta era a de encerrar contratos de jogadores mais velhos e diminuir o poder dos senadores remanescentes (Gattuso, Nesta, Kaladze, etc). Leonardo se saiu muitíssimo bem e esse “favor” não deve ser esquecido para o futuro.

A próxima temporada terá, se tanto, uma contratação de peso. Os nomes mais importantes devem ser em saída. O clube precisa se desfazer dos grandes salários do passado (Kaladze, Gattuso, Jankulovski, Oddo) para trazer a folha de pagamento à altura da auto-sustentabilidade exigida pela Uefa para 2012. Ou seja: o Milan deve abrir mão da ponta agora para voltar a ter vantagens quando os Manchester Citys e Chelseas também não puderem mais gastar o que quiserem, porque no fim, sem doping financeiro, os grandes são os grandes e Real, Milan, Barça e afins sempre terão como arrecadar mais do que os neorricos.

Além do goleiro Amelia (deve ser anunciado junto com Allegri), do veterano Yepes e de cinco jovens da divisão de base (Strasser, Verdi, Albertazzi, De Vito e Beretta), o Milan estuda a possibilidade de contratar Lazzari, do Cagliari. Ou seja: quem aguarda Ibrahimovic e Luis Fabiano, faria melhor a esperar sentado (a menos que Huntelaar saia e que ao valor de sua venda se some uma contribuição berlusconiana). Esse não é o perfil de Allegri.

Essa é a boa notícia para os milanistas. O próximo campeonato deve ser de reconstrução e não de inércia. O time deve se moldar para o futuro, com uso de jogadores novos e saindo da dependência de contratações atômicas. Sai de cena o craque estelar e entra em cena o time, com mais italianos e mais jovens, uma estratégia que deve ser seguida por Roma e Juventus, tendo como contratendência a Internazionale.

O elenco milanista deve ser reforçado por um Onyewu em crescimento. O americano não é um craque, mas com dois metros, serve bem para referência na defesa, se bem apoiado. Adiyah, ganês campeão do mundo Sub-20 deve ganhar mais espaço, assim como Antonini e Zambrotta devem se alternar nas laterais (os dois são ambidestros). Tirando Yepes, uma contratação que só pode fazer sentido se ele for envolvido em alguma negociação (fato improbabilíssimo, ou seja, trata-se de uma aposta duvidosa na experiência), as contratações são ótimas para a atual política low profile. Fala-se em Criscito no Milan sendo discutido junto com a contratação de Storari pela Juve, mas eu acho improvável, a menos que se trate da tal contratação de peso.

O título do Milan será passar da fase de grupos na Liga dos Campeões e conseguir a vaga na mesma para a temporada seguinte, que deve ter um mercado um pouco menos espinhoso. Um time em crescimento já contentará a torcida “racional”. Mais uma vez: quem esperar do Milan (e de Juve e Roma) contratações bombásticas, espere sentado. Só a Inter deve fazer isso, porque tem dinheiro e politicamente está “sozinha” na Itália. Há um movimento político de contenção de despesas no país (do qual falarei futuramente) que não inclui Inter, Napoli e Genoa, com a Fiorentina a meio caminho. Por hora, em Milanello, a ordem é manter a frugalidade.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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