As muletas do Rio

Nos próximos anos, a prefeitura do Rio de Janeiro deveria estabelecer um novo roteiro turístico para seu verão. Além de lugares lindos como as prais de Copacabana e Ipanema, Maracanã, Pão de Açúcare e afins, poderia erguer um pedestal com alguns dos mais tradicionais objetos do futebol carioca. As muletas. Na lista das muletas do passado, Valdir Espinoza (ou Espyiynozha, ou seja lá como ele adotar no momento), Carlinhos e Zagallo. A atual, sem dúvida seria um pranchetão – ou Joel Santana.

Joel é um cara bonachão. Tem jeito de ser um superpapo e tem uma cara de acolhimento terno que faz parte dos bons estereótiois cariocas. Uma simpatia natural que dá a ele uma ferramenta fundamental na lida com o boleiro carioca. Joel sabe a língua, a ginga, as desculpas e como atingir o id do jogador radicado no Rio de Janeiro. Por isso, quando chega num clube da cidade, o futebol do time melhora quase que por inércia – uma inércia joélica, por assim dizer.

Mas pára aí. Joel é um treinador que pertence a um outro tempo, um tempo no qual os técnicos podiam ter seu vigoroso barrigão de cerveja e fumar um cigarro com os jogadores, que não precisavam ler planilhas de estatísticas, conhecer novas técnicas de fisiologia ou dominar recursos do mercado financeiro para calcular investimentos. Sua capacidade gerencial é nula. Na África do Sul, sua fama é a de um figurante divrrtido, quase um joker, segundo me contou um colega jornalista. Ele não era levado a sério. Seus métodos e estratégias são superados até pelos neófitos sulafricanos que foram fazer especializações no exterior.

A luta dos clubes carioca por Joel ilustra bem como o futebol do estado é uma Ferrari dirigida por uma criança de um ano. Os clubes correm atrás de Joel porque sabem que ele trará resultados a curto prazo e por saber que não têm estofo nem condições de oferecer a um Scolari ou a um Leonardo a organização e recursos necessários para convencê-los. Joel é a saída aceitável, que consegue lidar com diretores e conselheiros que saem do boteco e vão vociferar no clube que querem fulano na lateral. Joel é um intérprete do boleirês carioca, que é capaz de vencer Cariocas, mas é obsoleto no nascente futebol profissional brasileiro.

A escolha do Flamengo por Joel implicaria num crescente imediato e num declínio na fase final do Brasileiro, especialmente porque ele perderia Vágner Love e Adriano, sem os quais, o Flamengo se tanto lutará por vaga na Libertadores 2011. Talvez seja a única escolha disponível para uma Patricia Amorim que não tem força política para dar o choque profissional que o Flamengo precisa. Esse choque significa tirar de conselheiros e diretores amadores (usando “amadores” como termo mais suave para a incompetência dos mesmos) do poder. Isso não vai acontecer. O Flamengo é um retrato do Brasil e assim como o governo do país sustenta um antro de sanguessugas que vivem e enriquecem às custas do país, o Fla dá de comer a muito parasita – dentro e fora do clube.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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