Fim de ciclo – dentro e fora de campo

O fracasso completo e irretocável de Ciro Ferrara no comando da Juventus é mais do que uma simples queda de treinador num megaclube (isso se fosse possível uma simples queda de técnico num megaclube). Com Ferrara, vai ao chão a credibilidade de toda a diretoria que se montou após o escândalo de “Calciopoli” em 2006.

A derrocada juventina em 2006 teve uma cisão de eras. Saía de cena o ultracompetente e igualmente corrupto Luciano Moggi e entrava uma nova leva de dirigentes, a primeira da era pós-Gianni Agnelli, na qual os seus netos Lapo e John Elkann assimuam as rédeas de um clube que é comandado por uma família há mais tempo no mundo do futebol de ponta.

Erra redondamente quem acha que Moggi só vencia porque comprava os juízes. Na verdade, esse era o lado menos eficiente de sua gestão. Moggi comandou também Roma e Lazio, além de Napoli e Torino  além da Juventus. Seu faro para bons jogadores é notório e a Juve sempre fez boas contratações, como quando tirou Zidane do Bordeaux por uma ninharia. Moggi se embriagou com seu poder quase onipotente na Itália – que o levou a determinar até quais atletas iam ou não para a seleção – e foi à ruína. Mas que era um supercartola, não há dúvidas. 17 títulos em 12 anos, sendo 7 scudetti e uma LIga dos campeões são uma prova clara.

Foi isso que a nova diretoria da Juventus descobriu. Subir da Série B era baba. Recuperar o status de competidora pelo título na Itália são outros quinhentos, especialmente com uma Inter tão à frente e com Napoli e Fiorentina investindo muito mais do que o eixo Milão-Turim.

As contratações deste ano da Juventus são aceitáveis, mas Diego e Felipe Melo custaram muito mais do que seus rendimentos em campo. Felipe Melo é um excelente volante, mas a Juventus queria um Pirlo. Livre para armar o jogo, o brasileiro revelou-se um erro crasso, bem como Diego, levado a Turim para herdar o fardo de pós-Zidane, peso para o qual não tem recursos.

A Juve entrará em 2011 com uma cara muito diferente. A chegada de Zaccheroni à Juventus deve anteceder contratações de outro gênero. A diretoria de futebol deve ganhar um novo titular (fala-se em Pantaleo Corvino, da Fiorentina e Beppe Marotta, da Sampdoria), um que tenha esperteza de mercado. O departamento médico da Juventus, que vem se desfazendo desde as primeiras denúncias de doping há alguns anos, idem, assim como a preparação física. No elenco, então, pode-se esperar uma limpeza forte, com o expurgo desde medalhões como Cannavaro e Camoranesi (salvo uma Copa do Mundo espetacular) até apostas erradas como Felipe Melo e Diego. Os brasileiros, em especial, têm seis meses para provar serem “da Juve”. Senão, viram rifa de verão.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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