E quem ganha o Brasileiro é…

Em tese a rodada aumentou o bolo de candidatos com chance de vencer o título. O São Paulo cedeu ao Galo e Inter na tabela e ainda tem o Flamengo na sua cola. Mudou o aspecto da luta pelo título? Alguém passou a ter mais ou menos chances?

Em tese, sim. Para Flamengo, Inter e Galo, que tiraram diferença em relação ao líder, é inegável que a matemática ficou mais amistosa. A dificuldade é que a matemática não vale só para o atual momento do campeonato e para todo ele e assim, ter uma boa fase é fácil (na verdade, praticamente todos os times têm uma no decorrer do torneio). Duro é sustentá-la.

Explico: todos os times na maioria das edições dos campeonatos de todo o mundo têm um período do torneio no qual os resultados acontecem. É uma confluência do ápice físico, técnico, ausência de contusões, moral no elenco, etc. É difícil programar esse momento. Clubes bem organizados, no entanto, fazem isso com mais facilidade do que equipes mambembes.

Esse “sprint” (termo do atletismo originado em corridas de curta distância) não tem como ser sustentado por todo o torneio e nem mesmo por uma parte imensa dele. Ainda que todo o resto esteja sob controle, o organismo do atleta tem um momento de evolução, ápice e decadência que atinge seu rendimento. Elencos mais extensos dão a chance, na melhor das hipóteses, para a comissão técnica gerenciar o problema, substituindo jogadores num momento físico menos favorável por outros “descansados”.

É sob esse prisma que apesar de sim, Galo e Flamengo se aproximaram da tropa de elite, mas têm menos chances de manter esse ritmo pelos próximos dois meses ou oito partidas. Nas últimas oito partidas, o Flamengo mata os rivais: 75% de aproveitamento sem nenhuma derrota, enquanto os piores são Internacional e São Paulo.

Entre os cinco primeiros, o único que ainda não teve um “sprint” foi o Internacional. Seu esboço de sequencia boa foi no começo do campeonato, com quatro vitórias. Daí, uma derrota para o Avaí (a segunda na temporada para o então “imbatível” Inter) iniciou um jejum de seis jogos sem vencer, depois do qual o time venceria o Coritiba e perderia a Copa do Brasil para o Corinthians. Infelizmente para os colorados, o “bom momento” no campeonato não é compulsório. Não é incomum o time jamais passar pela boa fase e aí naufragar.

Eu tinha dito nesta coluna, anteriormente, que só o São Paulo poderia tirar o título do Palmeiras. Isso se baseava na extensão do elenco e na determinação reencontrada do grupo, que conseguiu uma sequência de 10 jogos sem perder, com nove vitórias. A coesão desse momento me parece definitivamente perdida, especialmente com o trio de ataque Borges-Washington-Hugo, de saída marcada e mais preocupados em bater boca e assim, o Tricolor paulista me parece já pensar em 2010.

Quanto ao título, não vejo ninguém capaz de fazer frente ao Palmeiras. “Mas o Palmeiras está uma desgraça!”. Verdade. Mas tem 1) um técnico de verdade, 2) um grupo de qualidade razoável e bastante profissional, 3) vários líderes capazes de motivar o elenco e 4) uma vantagem de quatro pontos. Além disso, o Palmeiras ainda não teve o seu “sprint” no Brasileiro (teve um no Paulista, quando o ataque titular tinha Lenny e Keirrison.

Apesar de achar que não é impossível uma conquista do Galo, tendo a manter a opinião de que o elenco é curto demais; no Internacional, o elenco não é ruim, mas os jogadores se acham melhores do que são. No Flamengo, além de um elenco com poucas opções aos jogadores titulares, existe um inimigo mortal, o “Fator Flamengo” – um clima de “já ganhou” que se apossa impiedosamente do elenco, diretoria, comissão técnica, imprensa e torcida – quando o horizonte é promissor. Caso se livre desse inimigo – implacável há décadas na Gávea – o Fla poderia surpreender.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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