Garrafas para vender

Na semana passada, o Milan ganhou do Siena. Apertado. E a Inter empatou com o Bari. Por isso (porque um empate é pior que uma derrota), o MIlan passou sem mais nem menos a favorito no derby. Daí, no sábado, a lógica se recolocou e o Milan sofreu sua pior derrota (em número de gols) desde a eliminação na Liga dos Campeões de 2004.

Como o assunto é amplo, vamos seccioná-lo: primeiro, a partida. Ela não ocorreu. A Inter jogou sozinha e pela primeira vez em muitos anos, demonstrou que tem capacidade de jogar um futebol consistente para ganhar a Liga dos Campeões. O resto é conversa. Times que tem de confiar em um zagueiro como Materazzi ou dependem de um atacante como Ibrahimovic (craque, mas que some em partidas de porte) são “second class”. A Inter de Mourinho é (ou pelo menos mostrou que pode ser, quando quer) um Time, assim com “T” maiúsculo. Não há um setor que não ataque e defenda e até Maicon, que é mais ofensivo que um ponta, começou a defender.

Capítulo Milan. A temporada se desenha tenebrosa para o time. Leonardo não tem força junto ao elenco e tem a missão – condição determinada por Berlusconi – de fazer o time jogar em volta de Ronaldinho. Para piorar, não tem um grande goleiro, tem só laterais “idosos” para um esquema que dependeria fundamentalmente dos avanços dos defensores e não tem zaga reserva (Bonera-Onyewu seria uma excelente zaga para o Bologna, ainda que o americano ainda tenha a seu favor o álibi da adaptação, plenamente justificado). O miolo de meio-campo, por mais que se queira questionar Gattuso e Ambrosini, tem nomes para se montar um time de qualidade. O problema é que é só isso.

Seedorf (e outros cinco reservas) assistiam o jogo de meias. Quando Gattuso ia ser substituído, o holandês foi “se vestir” (estava com camisa de treino por causa do calor). Nos dois minutos seguintes, Gattuso, com uma lesão funda no tornozelo, fez a falta por trás em Sneijder, foi expulso e determinou o resto do jogo. Leonardo assistiu a tudo quieto.

Os jogadores já questionam Leonardo e é a hora dele mostrar se tem ou não estofo para gerenciar um grupo de milionários. Ele não ousa tirar Ronaldinho do time, até porque sabe que 1) sem ele, o time vai melhorar e o gaúcho não voltaria mais e 2) Berlusconi, seu único defensor, ficaria perigosamente contrariado. É a cruz ou a espada. Mas também é a hora de provar que não é um marionete. Leonardo não é o único questionado: Seedorf foi pego de pau pelo vestiário e Ronaldinho insiste (voluntariamente ou não) em não se mover em campo. Ambrosini, capitão do time, e Pippo Inzaghi, estão insatisfeitos com a reserva.

É um momento chave para Leonardo. Sem os dois laterais que ele pediu, seu esquema não vai funcionar. Zambrotta e Jankulovski podem ser excelentes numa defesa plantada, mas vão perder 10 em 10 duelos com Maicon. Caso o neotécnico milanista dê um murro na mesa, rearrume o time de modo mais coberto, com um meio-campo mais compacto, evitará vexames. Nem arquitetar um esquema para jogar no contragolpe o Milan não pode porque não tem mais homens de velocidade. Se não se rebelar agora, Leonardo não durará até a janela de janeiro, porque essa formação milanista está fadada a tomar muitas outras surras.

Cassiano Gobbet
Cassiano Gobbet é jornalista, formado pela Universidade de São Paulo e mestre em jornalismo digital pela Bournemouth University.
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